Como estão as ações da Americanas (AMER3), dois anos após revelação da fraude
A fraude da Americanas (AMER3) completa dois anos neste sábado (11). Em janeiro de 2023, a firma anunciou em comunicado ao mercado que a dívida da varejista seria de pelo menos R$ 20 bilhões, maior do que o número divulgado nos balanços. Depois dessa divulgação, as ações viraram pó.
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Desde o anúncio do escândalo até o fechamento de quinta-feira (9), as ações da Americanas recuam 99,5%, indo de R$ 12 para R$ 5,61. A firma entrou em recuperação judicial com dívidas de R$ 43 bilhões, a maioria do valor convertida em ações, o que deve diluir ainda mais o acionista minoritário.
Analistas do mercado monetário comentam que a fraude da Americanas deixou uma lição amarga para o investidor. Segundo Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, o investidor precisa manter no radar alguns pontos, como a transparência da firma. Quanto mais informações uma firma esconde, menos o investidor deve confiar nela.
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Rogério Paulucci, professor de mercado monetário na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI), diz que a maior lição para o investidor é a diversificação. Sem ela, afirma o professor, a pessoa pode ter prejuízos em caso de forte queda dos ativos. “Se a ação da Americanas tivesse uma pequena participação na carteira, o prejuízo contabilizado seria mínimo”, aponta.
Já Artur Horta, especialista em investimentos da GTF Capital, observa que o investidor, vítima de uma “diretoria corrupta e antiética”, deve aprender a não aportar seu dinheiro em firmas que possuem controladores que tomaram atitudes não tão positivas em relação à governança corporativa. “Os controladores da Americanas, conhecidos como 3G, já tomaram práticas de governanças duvidosas na Ambev (ABEV3)”, salienta.
A fala do especialista remete ao acordo fechado entre a Ambev e a CVM em 2009 sobre o processo de Marcel Herrmann Telles de ter supostamente vendido ações da companhia em 2003 antes de anunciar ao mercado a integração entre a Ambev e a belga Interbrew. Após o anúncio, as ações da companhia caíram cerca de 30%. Em 2009, a Ambev pagou cerca de R$ 250 mil para CVM para encerrar o caso.
Vale a pena investir na ação da Americanas?
Analistas do mercado monetário avaliam que a ação AMER3 está barata, mas ponderam que é melhor não se arriscar no ativo em meio à difícil situação em que a firma está. No caso de quem perdeu todo o dinheiro, o melhor é aceitar o prejuízo, pois o papel dificilmente vai recuperar o patamar anterior ao anúncio da fraude.
Para Felipe Sant’ Anna, o papel pode ter algumas subidas pontuais por causa de informações positivas de curto prazo, mas é somente isso que o investidor pode esperar. “Esse golpe é um vaso que se quebrou e dificilmente vai ser reconstruído. A firma tinha um marketplace muito grande e depois da fraude foi perdendo uma série de clientes. O caminho para a recuperação é muito longo e árduo, e por isso não recomendo a compra para AMER3”, explica.
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Para Acilio Marinello, sócio-diretor da Essentia Consulting, uma crise de desconfiança pode demorar muito tempo para ser consertada e mudar a concepção dos investidores. A ação da Americanas, de acordo com Marinello, deve demorar pelo menos uns 10 anos ou mais para recuperar o valor de 11 de janeiro de 2023.
“A firma teve queda na receita do e-commerce, e o cenário para o setor é muito competitivo. Por isso, não vejo que a ação deve se recuperar. Sendo assim, a firma só é atrativa para investidores que possuem um grande perfil de risco, além de muito paciência. Isso porque a firma pode demorar pelo menos 10 anos para voltar a ser o que era antes do escândalo da Americanas. Até lá, o ativo pode passar por muita volatilidade”, aponta Marinello.
Os demais analistas concordam praticamente com todos os pontos apresentados. Caroline Sanchez, da Levante, afirma que o melhor para o investidor que busca investir no varejo é aportar nas ações do Mercado Livre. “A firma conseguiu pegar boa parte da fatia de mercado da Americanas e hoje é uma das melhores do setor. Em nossa visão, o risco-retorno de Americanas é muito desproporcional”, afirma Sanchez.
Relembre o caso Americanas
Na noite de 11 de janeiro de 2023, quando o pregão daquele dia já havia se encerrado, um fato relevante informava ao mercado a descoberta de inconsistências contábeis da Americanas na casa de R$ 20 bilhões. Na prática, uma das maiores varejistas da Bolsa estava reconhecendo que suas dívidas seriam maiores do que a exposta nos balanços monetários da companhia.
O descasamento viria de operações de risco-sacado — nome dado no setor varejista ao adiantamento a fornecedores por meio de empréstimos feitos por uma companhia com bancos ou FIDCs — não registradas ou registradas incorretamente; um problema que estaria ocorrendo há pelo menos sete anos.
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A notícia veio acompanhada dos pedidos de demissão de Sérgio Rial e André Covre, CEO e CFO da companhia, que haviam assumido o cargo logo antes, no dia 01º de janeiro.
O mercado não reagiu bem: no dia 12 de janeiro, as ações da Americanas cederam 77,33%, saindo de R$ 12 para R$ 2,72 em um só pregão. Naquele dia, a varejista perdeu R$ 8,37 bilhões em valor de mercado. Hoje, após uma série de reagrupamento de ações, os R$ 12 equivaleriam a R$ 1.200 e os R$ 2,72 a R$ 272,00.
Leia detalhes: Americanas (AMER3) em números: os impactos da crise no mercado
Mas a história naquele janeiro de 2023 estava apenas começando. No dia 19 de janeiro, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial na Quarta Vara firmarial do Rio de Janeiro. À Justiça, a companhia declarou dívidas de R$ 43 bilhões e ao menos 16,3 mil credores.
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A RJ fez a AMER3 virar uma “penny stock”: no dia 20, a ação chegou aos R$ 0,79, deixando a composição da carteira teórica do Ibovespa.
A onda de ceticismo com a varejista respingou em todo o mercado brasileiro. As ações da concorrente Magazine Luiza (MGLU3) tiveram em janeiro de 2023 o 4º melhor desempenho mensal de sua história.
Por outro lado, a Ambev (ABEV3) sofreu. Entre os dias 11 e 16 daquele mês, a companhia viu suas ações caírem quase 8%, na esteira da desconfiança do mercado com o trio de homens mais ricos do País, Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Juntos, eles são acionistas de referência da Americanas e donos da private equity 3G Capital. Ainda que a 3G e a varejista não estejam relacionadas, o envolvimento dos executivos com a Americanas acabou respingando em seus outros negócios.
Investidores da AMER3 também viram as carteiras de investimento dissolverem. O comerciante de bebidas Pedro Henrique perdeu R$ 90 mil com o colapso das ações da Americanas, praticamente toda a reserva financeira que juntou ao longo de seis anos.
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A história dele e de outros minoritários foi contada neste especial feito pelo E-Investidor: Caso Americanas: as histórias por trás dos números.
A maré negativa não foi só na Bolsa: 588 fundos de ações, 469 fundos de debêntures e oito fundos imobiliários tinham exposição à Americanas. A desvalorização dos títulos de dívida emitidos pela varejista levou o mercado de crédito privado a um prejuízo que havia muito tempo que não se via, com alguns fundos de renda fixa chegando a retornos negativos.
O Nu Reserva Imediata, maior fundo de renda fixa para pessoas físicas do Brasil, que tinha 1,2 milhão de investidores à época, foi um deles. Em um período de 30 dias após a descoberta do rombo contábil na Americanas (AMER3), viu a saída de 288,1 mil cotistas.
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Autor: Bruno Andrade