Em Los Angeles, preço do aluguel supera US$ 40 mil após incêndios florestais
Los Angeles já enfrentava uma crise de acessibilidade habitacional antes que incêndios devastadores reduzissem bairros inteiros a cinzas. Mas o desastre está piorando a situação. As demandas recebidas pela LA Estate Rentals, que administra e aluga casas em alguns dos bairros mais caros da região, aumentaram para 500 por dia, mais de dez vezes o número anterior aos incêndios, disse o proprietário Michael Patrick à Bloomberg.
Recentemente, ele arranjou para que um inquilino pagasse US$ 35 mil por mês por um imóvel em Beverly Hills com um contrato de 12 meses. Após os incêndios, mas antes de fechar o negócio, o proprietário aumentou o aluguel para US$ 40 mil.
“O que está acontecendo no mercado imobiliário é nojento. As pessoas estão abusando dos preços. Tornou-se como o eBay das casas, uma guerra de lances”, disse Patrick, por telefone.
Milhares de imóveis destruídos
A segunda maior área metropolitana do país há muito tempo é uma das regiões menos acessíveis dos EUA para comprar ou alugar imóveis. Agora a pressão está aumentando porque os incêndios que já mataram pelo menos 24 pessoas também destruíram mais de 12 mil estruturas, muitas das quais eram residências. Isso está criando um grande grupo de pessoas, em todos os níveis de renda, que de repente não têm onde morar.
Apenas cerca de 5% dos apartamentos de Los Angeles estavam vagos antes dos incêndios, com um aluguel mediano de US$ 2.299, relatou o serviço imobiliário CoStar Group.
O mercado estava ainda mais restrito nas áreas afetadas pelos incêndios. A taxa de vacância era de 3,8% em Pasadena, perto do incêndio Eaton, e de 2,1% no condado de West Los Angeles, onde o incêndio Palisades está ativo.
Como os evacuados estão naturalmente procurando residências próximas às propriedades queimadas, a competição é mais acirrada nas áreas que já estavam com poucas opções. A demanda por propriedades mobiliadas, que custam mais, disparou porque muitos inquilinos em potencial perderam todos os seus pertences nas chamas.
“Há muita demanda”, disse Aaron Kirman, presidente executivo da Christie’s International Real Estate no Sul da Califórnia. “Eu tenho dois contratos de aluguel que receberam 20 inscrições cada.”
A Zillow Group retirou centenas de anúncios que parecem violar as regras contra abuso de preços desde o início dos incêndios, disse Alex Lacter, representante da firma. A Zillow está explorando novos processos para identificar abusos, mas por enquanto, está designando funcionários para investigar anúncios sinalizados pelos usuários.
Golpes na internet
Anúncios de casas para alugar estão surgindo na internet, postados como isca por pessoas que alegam representar propriedades, disse Patrick, da LA Estate Rentals. Os interessados são frequentemente informados de que as propriedades já foram alugadas. Então lhes é oferecida uma casa completamente diferente por um preço bem mais alto.
Na própria firma de Patrick, havia 200 listagens antes dos incêndios. Agora ele está ficando sem estoque.
“Não há nada de boa qualidade na faixa de US$ 10 mil a US$ 20 mil em Santa Monica ou Brentwood”, disse ele.
O efeito é ainda mais doloroso para as pessoas nas partes menos elitizadas do mercado. Muitos angelenos de renda baixa ou média perderam suas casas e a maioria dos seus pertences e não têm economias grandes o suficiente para competir em um mercado habitacional cada vez mais caro.
Comportamento do mercado
Os preços geralmente disparam após desastres naturais, pelo menos temporariamente, disse Jay Lybik, diretor nacional de análises multifamiliares da CoStar. Dois exemplos notáveis são o furacão Katrina em Nova Orleans, em 2005, e o furacão Harvey em Houston, em 2017.
Contudo, uma grande diferença agora é que casas inundadas nas áreas do Golfo podiam ser restauradas mais facilmente do que as casas de Los Angeles que foram queimadas e precisam ser reconstruídas do zero, afirmou Lybik. Em Nova Orleans, grande parte da população nunca retornou após o Katrina. Em Houston, os custos de nova construção são menores e enfrentam menos obstáculos regulatórios do que na Califórnia do Sul.
“O mercado já estava muito restrito [em Los Angeles]”, disse Lybik. “A absorção das famílias deslocadas terá um impacto maior no mercado geral.”
Compra de imóveis
Esse impacto se desdobrará em uma cidade que já impõe grandes tensões financeiras aos compradores e inquilinos. No terceiro trimestre, apenas 15% das famílias podiam se dar ao luxo de comprar uma casa com preço mediano de US$ 827 mil, de acordo com a Associação de Corretores de Imóveis da Califórnia.
Comprar uma casa nesse valor exigiria uma renda anual mínima de US$ 207.600, quase o dobro da média nacional, disse a associação.
A história é semelhante para as famílias inquilinas em Los Angeles. Cerca de 56% delas são consideradas sobrecarregadas com aluguel, o que significa que gastam mais de 30% de sua renda com moradia, de acordo com a imobiliária Redfin. Inquilinos deslocados por desastres naturais frequentemente enfrentam mais desafios para se realocar porque podem não ter seguro e nem os milhares de dólares necessários à vista para depósitos de um novo aluguel.
Mas ainda é cedo para ver uma mudança mensurável nos dados habitacionais, segundo Stuart Paul, economista da Bloomberg Economics.
“Até agora parece que são proprietários de imóveis de alto padrão na região oeste que estão experimentando aumentos de preço agressivos”, disse ele.
Ele citou o exemplo de um anúncio para uma casa de quatro quartos em Santa Monica que passou de US$ 8.750 em novembro para US$ 12.500 após os incêndios e depois caiu para US$ 9.950 nesta terça-feira (14).
Lei proíbe aumento abusivo
A lei da Califórnia proíbe aumentar o preço de bens de consumo, incluindo habitação, em mais de 10% após uma emergência. Desde a semana passada, o governador Gavin Newsom declarou estado de emergência para a área de Los Angeles. Os violadores das leis contra abuso de preços podem enfrentar até um ano de prisão e multas de US$ 10 mil mais penalidades civis.
“O Departamento de Justiça da Califórnia leva a sério todos os relatos de abuso de preços e está trabalhando com nossos parceiros de aplicação da lei para investigar todas as denúncias decorrentes dos incêndios no Sul da Califórnia”, disse um porta-voz do Procurador-Geral do Estado, Rob Bonta, em um e-mail.
No entanto, ter uma lei em vigor não é garantia de cumprimento. Los Angeles aprovou uma ordem em 2019 restringindo aluguéis de curto prazo, como AirBnbs, mas ela tem sido frequentemente ignorada.
Os proprietários de imóveis com hipoteca são obrigados a ter seguro, embora suas apólices possam não cobrir todos os custos da reconstrução e substituição de bens, à medida que os preços pós-desastre aumentam. O plano FAIR, apoiado pelo estado e que atua como último recurso para proprietários em zonas de alto risco de incêndio, limita a cobertura a US$ 3 milhões para uma residência.
Em meio à competição acirrada, muitos proprietários de casas destruídas pelo incêndio Palisades estão pagando do próprio bolso para garantir aluguéis em vez de esperar pelos pagamentos do seguro, disse Patrick.
“Quem pagar mais — e tiver a oferta mais limpa — leva”, disse ele.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Bloomberg