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Como o tarifaço de Trump pode ajudar o Brasil por um lado – e bagunçar nosso coreto por outro 

Já aconteceu antes. Em 2018, Trump impôs taxas a vários produtos chineses. Pequim retaliou com uma tarifa de 25% em cima da soja americana – os EUA são o segundo maior produtor do mundo, atrás do Brasil. 

Resultado: as exportações de soja dos EUA para a China caíram quase pela metade. E as nossas cresceram 29%. O Brasil passou a ser responsável por 75% da soja importada pelo Império do Meio em 2018, contra 53% em 2017.

Agora que os EUA impuseram 10% de sobretaxa a tudo o que vem da China, é possível que eles retaliem de novo, usando a soja como uma das armas. E o natural é aumentarmos mais ainda nossa fatia no país de Xi Jinping. 

Vale o mesmo para o mercado de aço – só que aí não por conta das tarifas contra a China, mas daquelas sobre o Canadá e o México. 

Em março de 2018, Trump tinha imposto uma taxa de 25% para todo o aço que se atrevesse a entrar no mercado americano. Bom, não exatamente todo. Canadá e México ficaram de fora. Hoje não mais – caso as tarifas anunciadas no primeiro momento se mantenham, claro, já que os dois países conseguiram um adiamento de um mês. 

E isso tem tudo a ver com o Brasil. Os três maiores exportadores da liga metálica para os EUA são justamente o Canadá (isolado na primeira posição), mais o México e o Brasil (que disputam o segundo lugar). 

55% do aço que exportamos têm os EUA como destino. No México, a fatia é bem maior, 82,5%. No Canadá, absurda: 99,5%.

Se os dois passarem a pagar 25% de imposto nesse mercado, tal como o Brasil, a vantagem competitiva deles se esvai. E o aço daqui tende a ganhar terreno. Isso, claro, se Trump não vier com alguma taxa surpresa para o nosso lado.

Se o Brasil pode levar vantagem no comércio de algumas commodities, não dá para dizer o mesmo sobre os manufaturados. 

O lado meio vazio do copo

A China é o maior exportador do mundo, com destaque para produtos eletrônicos, têxteis e máquinas. Em 2024, fez o maior superávit comercial da história da humanidade: exportou US$ 990 bilhões a mais do que importou. Os EUA, sozinhos, responderam por US$ 360 bilhões dessa conta. 

Com a sobretaxa de 10% sobre os produtos chineses, as relações comerciais entre os dois países tendem a esfriar. É algo que já aconteceu antes em alguns mercados. No ano passado, os EUA já tinham imposto uma taxa de 100% sobre os carros elétricos e híbridos da China, o que praticamente fechou o mercado americano para BYD, GWM e cia.

O que as montadoras chinesas fizeram? Dobraram suas apostas em países com tarifas de importação mais amigáveis para EVs, caso do Brasil. E isso tem ajudado a encher nossas ruas com carros importados da China.

No caso dos automóveis, as coisas acabaram se ajustando. BYD e GWM começam a fabricar automóveis por aqui neste ano.

Mas uma realidade com os EUA mais fechados a todos os produtos made in China não é uma boa notícia para nossa balança comercial. Hoje, graças à soja e ao minério de ferro, somos superavitários no comércio com eles. Exportamos para eles US$ 31,4 bilhões a mais do que importamos. Como vai ficar mais difícil para a China vender para os EUA, o país de Xi Jinping terá de arranjar novos clientes – provavelmente vendendo com desconto em outros mercados, como o nosso.

Bom, para quem compra, que pode encontrar produtos chineses mais baratos, ruim para a indústria nacional, que verá um concorrente já monstruoso se tornar ainda mais bestial. Pior que essa já era a tendência. Em 2023, nosso superávit com a China tinha sido bem maior, US$ 51,1 bilhões. Com o cenário que se desenha, nosso superávit com a China pode virar um déficit – caso as exportações de commodities não bastem para segurar a balança.

Freio na economia global

Essa história toda tem mais um lado. Olhar para um outro setor da economia é uma forma limítrofe de analisar os efeitos de uma guerra tarifária – principalmente de uma ainda cercada de incógnitas. 

O grande problema é existencial. Um mundo mais fechado para o comércio é, necessariamente, um mundo com menos crescimento econômico. 

É o que aconteceu em 2018/2019, conforme foi crescendo a primeira guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo. O crescimento global em 2017 tinha sido de 3,8%, de acordo com o FMI. Em 2018, oscilou para 3,6%. No ano seguinte, com as imposições tarifárias e suas retaliações já aprofundadas, o PIB planetário puxou o freio de mão: 2,8%.

No ano passado, esse crescimento ficou em 3,2% – pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional. O FMI previa a manutenção desse ritmo para 2025, antes de a nova guerra tarifária virar realidade. Hoje, definitivamente, isso já é otimismo.

E um mundo que cresce menos também é um mundo menos amigável à commodities cíclicas, como minério de ferro, petróleo e mesmo a soja. Trata-se de produtos cujas cotações dependem da confiança em relação ao futuro da economia global. E agora isso é tudo o que falta.  

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Autor: Alexandre Versignassi

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