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EUA assumindo Gaza? Plano de Trump ignora contexto político e histórico

EUA assumindo Gaza? Plano de Trump ignora contexto político e histórico

A declaração que Donald Trump deu ontem sobre os Estados Unidos assumirem o controle de Gaza é uma meta praticamente inatingível sob vários aspectos, sejam geopolíticos, socioeconômicos, de logística e até do ponto de vista da política interna americana.

Um plano desse tipo envolveria que os quase 2 milhões palestinos da região aceitassem não retornar jamais aos seus lares — isso numa hipótese ainda remota de que um fim da guerra entre Israel e Hamas esteja próximo – e ainda que países vizinhos como Egito e Jordânia recebesse esse imenso influxo migratório, capaz de drenar social e economicamente qualquer nação.

Além disso, durante sua campanha e, especialmente em seu discurso de posse, Trump defendeu categoricamente uma redução na política de intervenção internacional dos EUA. “Mediremos nosso sucesso não apenas pelas batalhas que vencemos, mas também pelas guerras que terminamos – e talvez o mais importante, as guerras em que nunca entramos”, disse no dia 20 de janeiro, em Washington.

Assim, é difícil defender um empreitada como a de “limpar” Gaza e transformá-la no futuro numa “Riviera do Oriente Médio”, como o próprio presidente afirmou, ao lado de um surpreso primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

Críticas e repúdio

Internamente, a proposta já começou a receber comentários negativos até de políticos republicanos. “Vamos ver o que nossos amigos árabes dizem sobre isso”, disse à AP o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul e aliado de Trump. “Acho que a maioria dos habitantes da Carolina do Sul provavelmente não está entusiasmada em enviar americanos para assumir Gaza. Acho que isso pode ser problemático, mas vou manter a mente aberta”, desconversou.

Sobre o que os “amigos árabes” pensaram da ideia, as declarações oficiais foram diretas. O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita disse que o reino “rejeita inequivocamente” a proposta de Trump para Gaza e reiterou que continuaria seus esforços para estabelecer um Estado palestino independente. “Alcançar uma paz duradoura e justa é impossível sem que o povo palestino obtenha seus direitos legítimos”, comunicou.

O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, ressaltou em resposta que a posição da Jordânia sobre o recebimento de refugiados palestinos não mudaria: “A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos”.

Já o ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, disse que concordava com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammed Mustafa, sobre “a importância de avançar com projetos de recuperação precoce (…) sem que os palestinos deixem a Faixa de Gaza, especialmente com seu compromisso com sua terra e recusa em deixá-la”.

Contexto complicado

A recusa dos Estados mais próximos tem justificativas históricas. O regime da Jordânia convive com o temos de que a direita israelense implemente a ideia de que a Jordânia e a Palestina são uma coisa só e que tratem o Reino Hachemita, liderado pelo rei Abdullah II, como um Estado palestino.

O jornal The Times of Israel destaca que a Jordânia já é majoritariamente palestina, mas que o influxo de centenas de milhares de pessoas desestabilizaria um país que já sofre de problemas de legitimidade e acusações de que serve como um fantoche ocidental contra os interesses dos palestinos.

Pesa, de outro lado, a dependência financeira. A rede Al-Jazeera lembra que os EUA dão hoje em dia à Jordânia US$ 1,45 bilhão por ano em assistência externa bilateral, tornando-se um dos principais destinatários de ajuda externa, logo depois Israel e Egito.

O Egito, continua o jornal israelense, também vê o influxo potencial de habitantes de Gaza como uma ameaça existencial. Estão vivas na memória de boa parte da população as cenas do Hamas rompendo o muro da fronteira em 2008 e de cerca de 700.000 palestinos invadindo o Sinai.

Esse incidente levou a novos laços entre jihadistas no Sinai e o Hamas, que ajudou a afiliada do Estado Islâmico na península a realizar uma insurgência sangrenta contra as forças egípcias. O governo de Abdul Fattah as-Sisi no Egito vê a Irmandade Muçulmana como seu inimigo mortal e não está disposto a permitir que milhares de combatentes do Hamas, afiliado à Irmandade, entrem no país.

Acordo possível?

Mas então, qual poderia ser uma solução viável para a região. A revista Foreign Affairs defendeu em artigo nesta semana que os EUA poderiam aproveitar o momento de enfraquecimento da influência do Irã na região e costurar um acordo para normalizar as relações entre Israel e a Arábia Saudita, além de criar um caminho para o Estado palestino, desde que suas lideranças atendam façam alguma concessões.

Segundo a revista, Trump poderia ser capaz de fazer isso sem disparar nenhum tiro. “Se ele leva a sério sua postura de pacificação, deve propor essa abordagem a Netanyahu. Seus esforços podem falhar, mas as chances de sucesso hoje são melhores do que no passado. É raro que os interesses convirjam tão nitidamente na política externa, então Trump tem a oportunidade de fazer algo com que seus antecessores só poderiam sonhar.”

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Autor: Roberto de Lira

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