A tecnologia nos carros novos está começando a enlouquecer as pessoas
Os motoristas estão descobrindo que gostariam que a tecnologia inteligente em seus carros fosse um pouco mais burra.
As montadoras adicionaram novos recursos tecnológicos na década de 2020 que vão além das telas sensíveis ao toque, sistemas de direção assistida e aplicativos de telefone complementares que se tornaram onipresentes nos carros novos. Alguns veículos vêm com visão noturna infravermelha, iluminação ambiente sazonal e “câmeras familiares” internas que mostram os passageiros no banco traseiro.
Muitos motoristas dizem que é um exagero. A parcela que tinha sentimentos positivos sobre a intuitividade dos controles de seus carros caiu de 79% em 2015 para 56% em 2024, de acordo com pesquisas com compradores de carros novos feitas pela Strategic Vision, firma de pesquisa de mercado. A tendência foi semelhante para a percepção dos motoristas sobre o painel, as interfaces de tela e o layout dos instrumentos.
Os motoristas ainda estão satisfeitos com a tecnologia nos carros, disse Alexander Edwards, presidente da Strategic Vision — mas querem que seja tão fácil de usar quanto um iPhone, e a maior parte não é.
Em janeiro, Vincent Dufault-Bédard tentou, e não conseguiu, começar a carregar remotamente seu carro elétrico Volkswagen ID.4 2024 usando um aplicativo no telefone. O engenheiro de 36 anos em Montreal foi até o carro à noite, em uma temperatura de -9º C, de shorts e chinelos, pensando que voltaria para dentro de casa rapidamente.
Mas as portas do carro não abriam porque as maçanetas equipadas com sensores não funcionaram no frio. Ele acabou tendo de entrar no carro pelo porta-malas.
“Só quero uma maçaneta normal”, disse Dufault-Bédard.
Em 2024, os proprietários de veículos elétricos relataram que era difícil usar as maçanetas, que apresentam uma taxa de 3,1 problemas a cada cem veículos, acima dos 0,2 em 2020, de acordo com a J.D. Power.
“Mudamos as maçanetas das portas, o que foi de uma experiência livre de problemas para agora, que elas destravam quando o proprietário se aproxima, e estamos vendo um monte de problemas”, disse Kathleen Rizk, diretora sênior da J.D. Power.
As falhas podem ser especialmente irritantes para motoristas cujos carros custam mais por causa da tecnologia extra. Alguns recursos premium, como bancos massageadores e telas do lado do passageiro, podem aumentar o preço de um carro. O preço médio de transação de um veículo novo era de US$ 47.373 em fevereiro, de acordo com o site de compras de carros Edmunds.
As telas sensíveis ao toque são um assunto delicado para motoristas como Jake Pratte. Ele as vê como um aborrecimento e um perigo em potencial. Alterar as configurações pode exigir vários toques e geralmente não fornece feedback físico, como girar ou apertar um botão.
“Você tem que olhar o que está fazendo, o que significa que vai tirar os olhos da direção”, disse Pratte, gerente de projeto de 35 anos na área de St. Louis.
Ele tem uma aversão semelhante aos interruptores capacitivos, que se parecem muito com botões, mas funcionam quando são tocados, não apertados. Ambos os componentes são “um pesadelo absoluto para alguém com as mãos ligeiramente suadas”, disse ele.
As telas sensíveis ao toque cresceram, tanto em diâmetro quanto em prevalência, durante a década de 2010 e agora são praticamente inevitáveis. Uma regra da Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário exigia uma câmera de ré e, portanto, uma tela, em veículos novos a partir de 2018.
Cerca de 28% dos compradores de carros novos preferem botões em vez de telas sensíveis ao toque, de acordo com uma pesquisa de 2022 da firma de consultoria Escalent.
Algumas montadoras estão trazendo de volta os botões em novos modelos. E a partir do ano que vem, as classificações de segurança veicular da organização europeia Euro NCAP considerarão os carros mais seguros se vierem com componentes físicos para controles primários, como limpadores de para-brisa e luzes de emergência, em vez de inclui-los em uma tela sensível ao toque.
“Existem problemas genuínos de distração”, disse Matthew Avery, diretor de desenvolvimento estratégico da Euro NCAP.
Os motoristas ficam mais entusiasmados com recursos tecnológicos como dispositivos de carregamento de telefone sem fio, assentos aquecidos/ventilados, limpadores com sensor de chuva e aspiradores de pó embutidos, de acordo com uma pesquisa realizada no ano passado com compradores de carros novos pela firma de pesquisa de mercado AutoPacific.
No final de suas listas de desejos estão telas do lado do passageiro e realidade aumentada visíveis no para-brisa. E de acordo com a J.D. Power, eles ficam desapontados com os controles por gestos, por meio dos quais se pode, digamos, aumentar o volume girando um botão imaginário no ar.
Os veículos de modelo básico tendem a reter mais de seu valor no final de um contrato de leasing, porque a tecnologia mais cara é menos valorizada no mercado de usados, mostrou a J.D. Power. A concessionária poderia adicionar talvez US$ 50 ao pagamento mensal de um carro com muitos recursos para compensar a depreciação da tecnologia.
Alguns motoristas dizem que não querem pagar por um monte de tecnologia que optariam por não usar se pudessem. Mas os recursos modernos nem sempre colocam uma grande pressão sobre o preço dos veículos, de acordo com Ed Kim, analista-chefe da AutoPacific.
Os interruptores capacitivos são mais baratos do que os botões físicos, disse ele, e pode ser mais econômico instalar as mesmas telas grandes em todos os modelos, em vez de colocar telas menores em veículos básicos.
Claro, para-lamas e para-brisas rachados podem acumular grandes contas para os motoristas quando há câmeras e sensores envolvidos. Isso também aumenta os prêmios do seguro.
No ano passado, cerca de um quarto dos reparos de automóveis envolveu uma recalibração do sensor, a um custo adicional médio de cerca de US$ 600, de acordo com a Mitchell, fornecedora de tecnologia e informações para seguradoras de automóveis.
Outros custos da tecnologia se somam, mesmo os pequenos.
Ken Larsen, de 59 anos, gosta de ligar sua picape Toyota Tundra 2024 remotamente para que ela já vá aquecendo nas manhãs frias de Montello, em Nevada. Essa função não funciona de forma confiável com seu controle no chaveiro, então ele a inicia a contragosto por meio do aplicativo da Toyota, que cobra uma taxa de assinatura.
“Meu pagamento é de US$ 1 mil por mês e agora tenho que pagar mais US$ 15 mensais apenas para poder ligá-la remotamente”, disse Larsen, operador de equipamentos em uma mina.
Depois de ficar com o veículo por um ano e meio, Larsen também comprou recentemente um Chevy Silverado 1985. Ele mesmo consegue consertá-lo.
Escreva para Joe Pinsker em joe.pinsker@wsj.com
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: The Wall Street Journal