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Aquisições, pet food e Oriente Médio: o futuro da BRF após sair da maior crise de sua história

A BRF nunca gerou tanto caixa em sua história quanto em 2024: R$ 6,5 bilhões, resultado alcançado apenas dois anos após viver o fundo do poço. Com a casa arrumada após um intenso programa de reestruturação financeira, os investimentos voltaram à ordem do dia na firma dona da Sadia e da Perdigão. Só no segundo semestre do ano passado, foram mais de R$ 1 bilhão em novos negócios.

“Passamos do diagnóstico e recuperação para a fase de crescimento estratégico”, reforça Miguel Gularte, CEO da BRF, em entrevista ao InvestNews na sede da firma em São Paulo. “Foi uma transformação que não ocorreu apenas no ‘caderninho’, tivemos muita análise de dados para chegarmos até aqui”, reforça Gularte, fazendo referência à reportagem sobre como a BRF saiu da crise.

Gularte e a liderança da BRF operam hoje com um olho na produção, outro nos dados: em todas as áreas da companhia, do escritório às linhas de produção, estão instalados painéis com os principais indicadores de eficiência. Ali, é possível acompanhar a evolução de diferentes áreas da firma e até comparar o desempenho das diversas unidades, em tempo real. “A gente tinha ilhas de excelência dentro da companhia, que não eram integradas, e corrigimos isso”, diz o CEO.

Em outubro, a companhia investiu US$ 84,3 milhões por 26% da Addoha Poultry Company, uma das principais produtoras de frango da Arábia Saudita, reforçando sua presença no Oriente Médio. No mês seguinte, adquiriu uma fábrica de alimentos processados na China por US$ 79 milhões, avançando também no mercado asiático. E, em dezembro, a dona da Sadia entrou no segmento de gelatina e colágeno ao comprar 50% da Gelprime, num negócio de R$ 312,5 milhões com gatilhos de performance que podem incrementar até US$ 13,6 milhões no valor original.

Para 2025, a estratégia seguirá a mesma. A BRF avalia cerca de R$ 1 bilhão em investimentos para novos projetos, dos quais pelo menos 70% serão destinados ao aumento da capacidade de produção de alimentos processados – como nuggets e lasanhas congeladas –, que possuem maior margem de lucro e menor volatilidade de preços quando comparados à carne in natura.

Gularte prefere não dar pistas sobre os próximos investimentos. Questionado sobre uma possível entrada da BRF no mercado de ovos, a exemplo da concorrente JBS, que comprou metade da Mantiqueira, o executivo afirma que prefere “amadurecer os planos internamente” antes de discuti-los publicamente. Mas uma característica certamente permanecerá: adquirir participações em firmas antes de comprá-las totalmente.

“Preferimos ir devagar, com uma participação menor ou meio a meio até que os resultados se tornem mais evidentes e nos deem a convicção de evoluir [para uma aquisição completa]”, explica Fabio Mariano, CFO da BRF. “A companhia entende que vai precisar investir em capacidade produtiva, mas será com cautela. Num país onde os juros estão no patamar atual, não há margem para investimento errado.”

Mercado externo

No plano de expansão da BRF, o mercado externo é prioridade. A China e o Oriente Médio são regiões estratégicas para a companhia, equilibrando riscos geopolíticos e aproveitando oportunidades específicas desses mercados, afirma Gularte.

“Faz vários trimestres que a região MENA [Oriente Médio e Norte da África] tem um consumo maior que a Ásia em termos de importação do Brasil”, destaca o CEO. A mudança de Marquinhos Molina, filho do controlador da BRF, para Riade, na Arábia Saudita, evidencia essa prioridade.

Fábrica da BRF em Dammam, na Arábia Saudita (Divulgação)

Em outra frente, diante da ameaça crescente de guerras comerciais envolvendo os Estados Unidos, Gularte avalia que as vendas no exterior serão importantes como proteção contra a volatilidade cambial.

“No nosso setor, a demanda supera a oferta, o que representa um risco menor em comparação com outros segmentos”, explica. Desde 2022, a BRF conseguiu 175 novas habilitações internacionais para exportação, diversificando ainda mais suas opções de mercado.

“A melhor escolha é ter várias escolhas. A melhor opção é ter várias opções”, resume. Eventuais retaliações comerciais aos EUA , afirma, poderiam até abrir oportunidades adicionais para os frigoríficos brasileiros, incluindo a BRF.

Pet food de volta

Outra decisão estratégica é que a divisão de pet food voltou a ser prioritária para a BRF. A unidade, dona das marcas Biofresh e Grand Plus, havia sido colocada à venda em 2023, mas nenhum negócio foi concretizado, apesar do interesse de firmas como Nestlé e ADM. Agora, está plenamente integrada ao planejamento estratégico da companhia.

O executivo Stanley Andrade, responsável pelo planejamento do programa de eficiência BRF+, assumiu a liderança dessa divisão. “O pet food é um segmento em crescimento e faz sentido para a BRF”, diz Gularte, destacando que alguns insumos usados na alimentação de frangos e suínos também são utilizados na ração para pets, o que amplia o poder de barganha da companhia junto aos fornecedores.

‘Melhoria contínua’

O ressurgimento da BRF ocorreu pouco mais de dois anos após a chegada de Marcos Molina como controlador. No início de 2022, a firma enfrentou o pior trimestre de sua história, com prejuízo de R$ 1,6 bilhão, queima de caixa de R$ 3,7 bilhões e dívida líquida de R$ 12,6 bilhões. Duas ofertas subsequentes de ações (“follow-on“) foram necessárias, com Molina investindo ao todo cerca de R$ 13 bilhões.

Marcos Molina, controlador da BRF, e Miguel Gularte, CEO da BRF
Marcos Molina, controlador da BRF, e Miguel Gularte, CEO da BRF (Divulgação)

“Não havia explicação para a crise da BRF”, lembra Gularte. “Tínhamos todos indicadores mapeados, marcas fortes, capilaridade e profissionais excelentes. É uma firma condenada ao êxito.” Segundo o CFO da companhia, Fabio Mariano, que está na BRF desde 2017, faltava um direcionamento estratégico voltado para problemas do presente, o que passou a existir com Molina, hoje dono de 50,49% das ações da BRF.

“Tivemos sete CEOs em dez anos, o que é prejudicial numa indústria cíclica como a nossa. A firma foi perdendo a capacidade de aprender com os próprios erros”, diz Mariano. “A chegada de Marcos trouxe estabilidade e clareza estratégica.”

Um bom exemplo do que esse novo direcionamento conseguiu proporcionar é que, a partir de 2022, apenas com a melhora de produtividade, a BRF conseguiu gerar 120 mil toneladas adicionais de carne de frango sem aumentar o número de animais abatidos. É como se a BRF tivesse construído uma nova planta frigorífica de médio porte.

“Era fundamental reduzir a ociosidade antes de investir em crescimento”, afirma Gularte. Em 2024, o programa BRF+ gerou R$ 1,5 bilhão em lucro operacional. “Hoje, temos clareza absoluta do nosso desempenho e todos sabem exatamente o que precisam fazer para contribuir”, conclui.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Rikardy Tooge

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