Veja como montar uma carteira de renda fixa para atravessar as incertezas de 2025
Num cenário de juros elevados e expectativa de Selic em 15% ao final de 2025, a alocação criteriosa se tornou mais importante do que a busca pelo melhor retorno na composição da carteira de renda fixa. “É hora de priorizar solidez e resiliência, não crescimento cíclico ou exposição internacional não gerenciável”, comenta o economista pelo Insper e sócio da Nero AI Consultoria, Enrico Gazola.
Segurança passa ao primeiro plano quando o horizonte de curto prazo aponta para a eleição de 2026, agravada pelas incertezas externas da guerra comercial iniciada pelo presidente americano Donald Trump.
Por isso, os especialistas apontam que investir em títulos com vencimento mais curto, priorizar ativos pós-fixados e mirar crédito privado apenas em setores resilientes como energia e saneamento, fazem parte de uma boa carteira defensiva.
“Numa conjuntura de juros elevados e volatilidade econômica, reduzir o prazo dos papéis (duration) ajuda a proteger a carteira”, comenta Camila Dolle, head de análise de renda fixa da XP. Para títulos atrelados à inflação, ela recomenda vencimentos de até 5 anos e, para os prefixados, um limite de até dois anos. “Essa estratégia minimiza a exposição a flutuações nos preços e à imprevisibilidade do ciclo de juros”, avalia.
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Segundo Dolle, os títulos pós-fixados devem ter mais peso na carteira de investidores mais conservadores, pois proveem liquidez e segurança. Já os títulos IPCA + são relevantes para dar proteção real do patrimônio. Os prefixados devem ter uma proporção menor no portifólio em períodos de incertezas por causa do risco de marcação a mercado, ou seja, a atualização diária do valor do título, conforme os preços praticados de compra e venda.
Renda fixa como âncora da carteira
Gazola diz que o atual cenário também exige uma defesa ativa. Isso passa por apostas em pós-fixados com um pouco mais de risco de bancos privados. “O prêmio de risco precisa ser justo, especialmente para emissores fora do núcleo de alta qualidade. O episódio do Banco Master ressalta a importância de uma análise criteriosa e abrangente.”
Para Mauricio Valadares, diretor de investimentos da Nau Capital, a renda fixa deve ser a espinha dorsal de qualquer carteira neste ambiente de juros elevados e incertezas macroeconômicas. Ele defende “alocação acima da média em risco soberano, em risco bancário e em firmas de balanços sólidos”.
“A chave está na diversificação entre duration e qualidade do crédito”, complementa Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos. Para ele, o investidor deve adotar uma estratégia defensiva e diversificada, sem abrir mão de oportunidades de ganho real. Na sua avaliação, ativos pós-fixados (Tesouro Selic e CDBs atrelados ao CDI) são essenciais para dar liquidez e preservação de capital com baixa volatilidade. “Ao mesmo tempo, é possível alocar uma parcela em ativos de crédito privado com bom rating e spreads atrativos, especialmente em setores não cíclicos e com fluxo de caixa previsível, como energia elétrica e saneamento”, diz.
Crédito privado tem relevância
Mas como inserir o risco de crédito privado numa carteira de renda fixa? Embora não haja uma recomendação específica por setor, a XP sugere limitar a exposição a no máximo 5% da carteira por emissor, sempre considerando o perfil de risco do investidor. A orientação busca diversificar o risco de crédito e evitar concentração excessiva em ativos mais vulneráveis a oscilações ou inadimplência.
Setores regulados e pouco sensíveis ao ciclo econômico, como energia, saneamento e concessões de rodovias, devem ser priorizados nas carteiras de crédito privado. Essas firmas operam com contratos de longo prazo, muitas vezes reajustados pela inflação. “São setores menos voláteis, com menos problemas e mais previsíveis”, aponta Dolle, da XP.
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Enrico Gazola sugere cautela com exportadoras e firmas cíclicas, como construção civil, bens de consumo duráveis e varejo. “Exportadoras já foram queridinhas, mas o novo capítulo da guerra comercial e tarifas dos EUA contra China complicou o cenário”, observa. Já o crédito de firmas cíclicas e altamente endividadas devem ser evitadas ou analisadas com extrema cautela, pois a combinação de Selic alta e PIB fraco pela frente é especialmente nociva para elas.
Sidney Lima observa que os juros altos exigem critérios mais rigorosos na avaliação de riscos, pois as despesas financeiras também passam a pesar muito na conta das companhias. “Hoje, não basta olhar para o rating“, diz. É preciso fazer o dever de casa antes de assumir debêntures das firmas, observando a capacidade de geração de caixa do negócio, a estrutura de capital da companhia e também a sua exposição ao câmbio e necessidade de rolagem da dívida. “É muito importante se conscientizar, de que a análise deixou de ser puramente contábil e passou a ser também macroeconômica e setorial”, afirma.
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Autor: Leo Guimarães