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Fábricas com robôs 24h: a arma secreta da China para enfrentar as tarifas de Trump

Fábricas com robôs 24h: a arma secreta da China para enfrentar as tarifas de Trump

A arma secreta da China na atual guerra comercial é um exército de robôs industriais movidos por inteligência artificial, que transformou a manufatura no país.

Fábricas em todo o território chinês estão sendo automatizadas em ritmo acelerado. Com engenheiros e eletricistas operando frotas de robôs, essas unidades estão reduzindo os custos de produção e elevando a qualidade dos produtos.

Como resultado, os preços das exportações chinesas — motor da economia nacional — seguem competitivos, mesmo com as tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A China também enfrenta novas barreiras da União Europeia e de países em desenvolvimento como Brasil, Índia, Turquia e Tailândia.

Hoje, o país é mais automatizado do que Estados Unidos, Alemanha ou Japão, e tem mais robôs industriais por 10 mil trabalhadores do setor do que qualquer nação, com exceção de Coreia do Sul e Cingapura, segundo a Federação Internacional de Robótica.

Robôs e um trabalhador em uma fábrica da fabricante de carros elétricos Zeekr, em Ningbo, China, 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

A estratégia de automação foi incentivada por diretrizes estatais e por investimentos de grande escala. Com robôs substituindo operários, a China se posiciona para manter sua liderança na produção em massa, mesmo com o envelhecimento da população e o desinteresse crescente por empregos industriais.

He Liang, fundador da Yunmu Intelligent Manufacturing, uma das líderes chinesas na produção de robôs humanoides, disse que a expectativa é transformar a robótica em um novo setor estratégico. “A expectativa para os robôs humanoides é criar outra indústria como a dos carros elétricos. É uma estratégia nacional.”

Da grande indústria a pequenas oficinas

Os robôs não estão apenas em montadoras. Pequenas oficinas também estão se automatizando. Em Guangzhou, Elon Li opera um ateliê com 11 funcionários que fabricam churrasqueiras e fornos. Ele está prestes a comprar um braço robótico de US$ 40 mil que, com uma câmera e IA, imita soldagens humanas com pouca intervenção. Há apenas quatro anos, esse sistema custava quase US$ 140 mil e só era vendido por firmas estrangeiras.

Grandes firmas investem ainda mais. A fábrica da Zeekr, montadora chinesa de veículos elétricos, em Ningbo, começou com 500 robôs há quatro anos e agora tem 820. Carrinhos automatizados transportam blocos de alumínio até fornos, e braços robóticos em “fábricas escuras” — sem trabalhadores e com luzes apagadas — fazem soldas complexas em carrocerias.

Um robô separa porcas de roda antes de instalar rodas em carros elétricos em uma fábrica da Zeekr em Ningbo, China, em 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

Embora robôs dominem a linha de produção, trabalhadores ainda são necessários para tarefas como controle de qualidade e instalação de componentes delicados. Algumas dessas etapas, no entanto, também estão sendo automatizadas com IA. Um sistema de câmeras no fim da linha tira fotos dos carros e compara com um banco de dados para identificar falhas em segundos.

Além da montagem, a IA também está sendo usada para projetar veículos. Carrie Li, designer da Zeekr em Xangai, usa inteligência artificial para analisar o design interno dos carros. “Tenho mais tempo livre para pensar em quais tendências de moda incluir no interior”, diz.

Enquanto fábricas americanas também utilizam automação, muito do equipamento é chinês. A maioria das montadoras criadas nos últimos 20 anos está na China, o que impulsionou a indústria local de automação. firmas chinesas compraram fornecedores de robótica no exterior, como a alemã Kuka, e transferiram operações para o país. Quando a Volkswagen abriu uma fábrica em Hefei no ano passado, havia apenas um robô alemão e 1.074 chineses.

“Made in China 2025”

Um robô humanoide corre durante uma meia maratona realizada pelo governo municipal de Pequim, em 19 de abril de 2025. Para demonstrar os avanços em automação, Pequim realizou uma meia maratona para 12.000 corredores e 21 robôs humanoides. Apenas quatro robôs concluíram a prova. (Andrea Verdelli/The New York Times)

A automatização acelerada é parte do plano “Made in China 2025”, iniciado há uma década, que estabeleceu dez setores em que o país busca liderança global — entre eles, a robótica. Em 2023, o governo de Pequim exigiu que montadoras alugassem robôs humanoides e enviassem vídeos deles em ação, mesmo que só realizassem tarefas simples como triagem de peças.

No fim de semana, a prefeitura de Pequim realizou uma meia maratona com 12 mil corredores e 20 robôs humanoides. Apenas seis completaram a prova, e o mais rápido levou quase três vezes mais tempo que os humanos, mas o evento ajudou a chamar atenção para os avanços.

Em março, o premiê Li Qiang anunciou um esforço para “desenvolver vigorosamente” robôs inteligentes. A principal agência econômica do país revelou um fundo de capital de risco nacional de US$ 137 bilhões para robótica, IA e outras tecnologias avançadas.

Nos últimos quatro anos, os bancos estatais chineses aumentaram os empréstimos a firmas industriais em US$ 1,9 trilhão, financiando tanto novas fábricas quanto modernizações de equipamentos.

Uma tela de exibição de um robô sendo treinado para receber visitantes na fábrica de montagem de carros elétricos Zeekr em Ningbo, China, em 31 de março de 2025. (Qilai Shen/The New York Times)

As universidades chinesas formam cerca de 350 mil engenheiros mecânicos por ano, além de eletricistas e técnicos especializados — número muito superior aos cerca de 45 mil formados nos EUA.

Jonathan Hurst, diretor de robótica da Agility Robotics, fabricante americana, disse que a escassez de profissionais qualificados é um dos principais desafios. Quando era aluno de pós-graduação no Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, Hurst disse que era um dos dois únicos engenheiros mecânicos do programa.

Trabalhadores preocupados

Na China, o avanço da automação já preocupa alguns trabalhadores. Geng Yuanjie, 27 anos, opera uma empilhadeira na fábrica da Zeekr. Ele disse que havia muito menos robôs quando trabalhava na Volkswagen e que sente falta de conversar com colegas durante os turnos de 12 horas. “Sinto que a automação está avançando. Minha educação pode não ser suficiente para aprender a programar robôs. Tenho medo de perder o emprego.”

“Não sou só eu — todos se preocupam com isso”, disse ele.

A automação já ameaçou ou eliminou empregos em todo o mundo, o que costuma frear seu avanço. Na China, no entanto, há poucos obstáculos. O país não tem sindicatos independentes, e o controle do Partido Comunista deixa pouco espaço para dissidências.

Outro fator por trás da automação é a crise demográfica. O número de nascimentos caiu quase dois terços desde 1987, e dois terços dos jovens de 18 anos ingressam em universidades — o que os afasta do trabalho fabril.

“O dividendo demográfico da China acabou”, disse Stephen Dyer, da consultoria AlixPartners. “Agora o país vive um déficit demográfico, e a única saída é aumentar a produtividade.”

c.2025 The New York Times Company

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Autor: Paulo Barros

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