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Argentina volta ao jogo da Unipar, que segue atrás de aquisições: ‘É o timing certo’, diz controlador

A operação na Argentina foi, por um bom tempo, uma preocupação da Unipar. Com anos de instabilidade econômica e um câmbio controlado, o grupo petroquímico controlado pela família Geyer cogitou se desfazer do ativo. Mas as mudanças promovidas pelo governo Milei trouxeram novas perspectivas, afirma Frank Geyer Abubakir, acionista controlador da companhia.

A planta localizada em Bahía Blanca, cidade portuária na região sul da província de Buenos Aires, atravessou os últimos anos como um ativo resiliente, porém sob pressão. “Chegamos a rever os investimentos por lá, sim. Era muito difícil competir com um câmbio artificial que espremia as firmas”, diz Frank, neto de Paulo Geyer, um dos fundadores da Unipar.

A flexibilização do câmbio e a agenda liberalizante promovidas por Javier Milei reacenderam a confiança, prossegue o empresário, que hoje não ocupa cargo executivo na Unipar. “O empresário até aguenta por um tempo, mas tem limite. Agora, com o câmbio livre, o jogo volta a ser formalmente justo. A firma volta a ter a margem.”

Fábrica da Unipar em Bahía Blanca, na Argentina (Divulgação)

Apesar dos bons ventos vindos do outro lado do Rio da Prata, a Unipar hoje enfrenta um desafio maior: o ciclo de baixa da indústria petroquímica. 

Em 12 meses, o preço do PVC — responsável por 39% da receita — caiu 7%, enquanto a soda cáustica, que responde por 40% do faturamento, passa por um arrefecimento após forte alta em 2023, quando avançou quase 20%. “O ciclo ainda está difícil. O preço do PVC está pressionado, e isso afeta a margem. Mas o cloro e a soda seguem sustentando a operação”, diz Frank.

Mesmo com o cenário adverso, a companhia lucrou R$ 150 milhões no primeiro trimestre deste ano — quase três vezes o registrado em igual período de 2024 (R$ 56 milhões). A margem operacional (Ebitda) subiu para 26%, com destaque para a divisão de cloro-soda, impulsionada pela demanda do setor de saneamento.

A nova planta de Camaçari (BA), inaugurada no fim do ano passado, reforça essa estratégia ao abastecer o Nordeste, uma das regiões que mais precisa avançar no serviço, com menor custo logístico.

Ciclo de oportunidades

Com o balanço saudável, as aquisições seguem no radar da Unipar. Apesar do apetite declarado há alguns anos, nenhuma transação foi feita. A tentativa mais conhecida foi a de comprar o controle da Braskem em 2023, mas a negociação não avançou.

Para Frank, o momento é propício: são nos ciclos de baixa que surgem as melhores oportunidades. “É o momento certo para M&As. O cenário favorece reformas, modernização tecnológica e compras estratégicas. Mas cabe à administração fazer isso com disciplina.”

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Planta industrial da Unipar (Divulgação)

O discurso permanece alinhado: o radar está ligado e a firma se considera pronta para agir, caso surja o alvo certo — e juridicamente confiável. O caminho para esse crescimento pode incluir ativos no exterior. “A oportunidade ainda precisa aparecer.”

Com alavancagem em 0,88 vez a dívida líquida pelo Ebitda e a maior parte dos vencimentos concentrada a partir de 2029, a companhia tem gordura de sobra para investir.

Presente em três países e com novos projetos em andamento, a Unipar aposta em ganhos de escala. Além da unidade em Camaçari e da planta argentina, trabalha para ampliar a capacidade de produção de PVC em Santo André (SP), com entrada prevista ainda neste ano. A aposta, diz Frank, é manter uma firma sólida e longeva — mesmo em tempos de margens apertadas.

Tradição dos Geyer

Embora não ocupe cargo executivo, Frank Geyer Abubakir acompanha de perto os rumos da Unipar como acionista controlador — e como herdeiro de uma história que mistura indústria, cultura e visão de longo prazo. Paulo Geyer, seu avô e um dos fundadores da companhia, era colecionador de artes — um hobby que passou para o neto.

Hoje, Frank cuida do legado familiar também fora dos negócios: é o responsável pela preservação da Brasiliana Geyer, uma das coleções iconográficas mais importantes do país, instalada na Casa Geyer, um casarão histórico no bairro de Cosme Velho, na zona sul do Rio de Janeiro, doado para o Museu Imperial.

O imóvel e o acervo — que reúnem mais de 4,2 mil obras sobre a formação do Brasil — estão sendo restaurados com recursos da própria família, via Lei de Incentivo à Cultura. A ideia é transformar o espaço em um centro de memória e educação pública.

“Meu avô era um apaixonado por livros e acervos, e acho que isso passou pra mim. Eu sempre gostei de estudar, de comprar livro, de ir atrás. É uma forma de conexão com ele, sabe?”, conta Frank.

Esse vínculo com o passado também ajuda a moldar a transição para o futuro. As filhas de Frank, Maria Cecília e Maria Carolina, já participam de conselhos e se envolvem com o acervo e a governança da companhia. Mas ele faz questão de destacar que o caminho delas deve ser guiado pela vontade própria.

“Elas vão se formando. A gente não quer pressionar. O que eu quero é que elas tenham formação, cultura e poder de escolha. Se vão se envolver com a companhia ou com o acervo, tudo bem — desde que seja escolha delas.”

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Rikardy Tooge

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