Exercício é fundamental no tratamento do câncer, mas falta orientação, diz pesquisa


A ASCO 2025 (Sociedade Americana de Clínica Oncológica), um dos maiores congressos de oncologia do mundo, realizado entre 30 de maio e 3 de junho, apresentou um estudo latino-americano que destaca um aspecto ainda negligenciado no tratamento do câncer: o papel da atividade física.
A pesquisa, realizada com 454 médicos de 21 países da América Latina, revela que oncologistas da rede pública têm menos práticas relacionadas à avaliação e ao encaminhamento de pacientes oncológicos para programas de exercício físico do que os que atuam na rede privada, além de enfrentarem mais barreiras para realizar essas ações.
Segundo Paulo Bergerot, oncologista da Oncoclínicas e um dos autores do estudo, a prática regular de exercícios já é reconhecida como uma parte essencial do cuidado com o paciente oncológico.
“Ela ajuda a reduzir os efeitos colaterais dos tratamentos, melhora a qualidade de vida e até a sobrevida. No entanto, na prática clínica, ainda há um grande distanciamento entre essa recomendação e o que realmente é feito nos serviços, especialmente na rede pública”, explica.
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Disparidades
O levantamento apontou que médicos da rede pública foram significativamente menos propensos a avaliar os hábitos de atividade física dos pacientes (53% contra 82% na rede privada), a encaminhá-los a programas específicos (36% contra 72%) e a oferecer orientações sobre o tema (12% contra 56%).
As razões para isso são múltiplas, destacando-se a falta de locais adequados para encaminhamento (apontada por 86% dos profissionais da rede pública), os efeitos colaterais dos tratamentos (66%) e a falta de capacitação para prescrever exercícios de forma segura (63%).
“Há uma percepção equivocada de que o paciente com câncer deve permanecer em repouso. Isso não é mais verdade. O exercício pode e deve ser adaptado à condição de cada pessoa, inclusive durante a quimioterapia ou radioterapia”, afirma Bergerot.
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Rede privada
Apesar da rede privada apresentar maior adesão às práticas de prescrição de exercícios, a pesquisa indica que ainda há espaço para avanços nesse setor.
“Mesmo com mais recursos, os programas de atividade física ainda não são amplamente integrados de forma sistemática no cuidado oncológico”, ressalta o especialista.
Para Bergerot, os dados ajudam a identificar gargalos e a propor estratégias regionais que possam democratizar o acesso à atividade física durante o tratamento.
Ele reforça que o investimento na formação dos profissionais é fundamental, assim como a criação de parcerias com centros de reabilitação e a garantia da infraestrutura mínima nos serviços públicos.
“Integrar o exercício à rotina do cuidado oncológico não é um luxo, é uma necessidade baseada em evidências”, afirmou.
Ao dar visibilidade às desigualdades entre os sistemas de saúde latino-americanos, o estudo reforça a urgência de políticas públicas que incorporem definitivamente o exercício físico como ferramenta terapêutica no tratamento do câncer.
“Não estamos falando de algo complementar, mas sim de uma estratégia que melhora os desfechos clínicos, reduz complicações e contribui para a dignidade do paciente”, conclui Bergerot.
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Autor: Victória Anhesini