Entenda quais os indícios da entrada dos EUA na guerra e os impactos para Trump


Quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que as Forças Armadas americanas atacaram instalações nucleares no Irã, neste sábado, o mundo prendeu a respiração.
O republicano que fez campanha criticando governos democratas por se envolverem em conflitos do outro lado mundo enfim cedeu à pressão de Israel e colocou a maior potência militar do planeta à disposição do aliado.
A operação mirou não só as infraestruturas iranianas em Natanz e Isfahã, mas também em Fordow — fortaleza subterrânea considerada o “coração” do programa nuclear de Teerã. Para os olhares mais atentos, porém, não faltaram indícios de que Washington interviria.

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No anúncio da operação, feito na sua rede social Truth Social, Trump indicou que o ataque forçaria o regime iraniano a acabar com a guerra, defendendo que “não há outro exército no mundo que poderia ter feito isso”.
A manobra, no entanto, se torna mais um exemplo da contradição que virou marca do republicano. Durante a campanha presidencial do ano passado, Trump frequentemente criticou rivais democratas por se envolverem em conflitos no Oriente Médio em vez de voltarem os olhares para assuntos domésticos — um pensamento fortemente defendido pelo movimento MAGA (“Make America Great Again”).
Além disso, Trump repetiu com orgulho que guerras não foram iniciadas no seu primeiro mandato, alegando que pacificaria o mundo nesta segunda passagem pela Casa Branca. Sem sucesso nas mediações entre Rússia e Ucrânia, tampouco entre Israel e Gaza, ele parece ter sucumbido à mão de ferro.
— Todos os sinais eram de preparação dos EUA para a guerra, mesmo com a rejeição da opinião pública americana ao envolvimento em mais um conflito no Oriente Médio — diz Maurício Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, ao GLOBO. — A grande dúvida é o quão eficazes foram os bombardeios, em especial se conseguiram danificar ou destruir as instalações subterrâneas do programa nuclear iraniano.
Há, no entanto, que se medir qual será a força da reação iraniana — que, a depender de como irá retaliar, pode ter impactos na aprovação da manobra entre os americanos, inclusive na sua base. Logo após o ataque, a Guarda Revolucionária da República Islâmica, braço mais poderoso das Forças Armadas do país, afirmou: “agora a guerra começou para nós”.
Para Paulo Filho, coronel da reserva e mestre em Ciências Militares, ainda “é muito cedo para avaliar” as consequências da entrada dos EUA na guerra. Segundo ele, dois fatores são fundamentais para analisar a operação: os danos efetivos e como será a reação dos iranianos.
— A Guarda Revolucionária tuitou “agora entramos na guerra”. O que farão: atacar tropas dos EUA na Síria e no Iraque? Fechar o estreito de Ormuz? Eles ainda têm condições de reagir? E se reagirem, qual será a resposta dos EUA? Há chance de queda do regime? — pontuou ao GLOBO.
Sinais da interferência americana
Nos últimos dias, Washington deu diversos indícios de que entraria oficialmente na guerra.
Mais cedo neste sábado, os EUA haviam enviado para sua Base Naval de Guam, no Pacífico, seis bombardeiros B-2 — os únicos com capacidade para transportar bombas do tipo “bunker busters”, de quase 14 toneladas, projetadas para destruir bunkers subterrâneos como a fortaleza nuclear de Fordow. A manobra foi vista como um presságio de um ataque iminente, uma vez que a proximidade da base com o Oriente Médio e seu papel como centro logístico regional a tornam um ponto de partida estratégico para operações na região.
Paralelamente, os EUA já haviam enviado cerca de 30 aviões de abastecimento para a região e deslocado seu maior porta-aviões, o USS Gerald R. Ford, para o leste do Mar Mediterrâneo, perto de Israel, com previsão de chegada na próxima semana. Com capacidade para cerca de 4.600 militares e até 90 aeronaves, ele se juntará a outros dois superporta-aviões americanos que já estão nas proximidades: o USS Nimitz, que estava no sudeste da Ásia, e o USS Carl Vinson, antes em operação no Oceano Índico.
Outro indicio de que Washington foi uma informação revelada mais cedo pela AFP de que Trump, que raramente passa os fins de semana em Washington, retornaria à Casa Branca na noite deste sábado para uma “Reunião de Segurança Nacional” não especificada.
Há dois dias, Trump advertiu que Teerã tem “no máximo” duas semanas para evitar possíveis ataques aéreos americanos, enquanto Washington avaliava se deveria se juntar à campanha de bombardeios sem precedentes de Israel. No entanto, em uma reportagem da Reuters publicada neste sábado, duas autoridades ouvidas sob condição de anonimato pela agência teriam afirmado que Israel estava pressionando Trump a aproveitar a janela de oportunidade para atacar agora.
Consequências para além de Teerã
Teerã havia ameaçado retaliar as forças americanas no Oriente Médio se Trump atacasse, mas o presidente dos EUA pediu “paz”. Nos dias anteriores ao ataque em larga escala impetrado por Israel, Washington emitiu um alerta ao seu corpo diplomático em países na região orientando que retornassem aos Estados Unidos.
Também neste sábado, os Houthis — rebeldes que comandam grande parte do Iêmen com financiamento de Teerã — ameaçaram atacar embarcações americanas no Mar Vermelho caso os EUA se juntassem a Israel no conflito.
— Se os Estados Unidos se envolverem em um ataque e uma agressão contra o Irã junto ao inimigo israelense, as Forças Armadas (houthis) mirarão seus navios e embarcações de guerra no Mar Vermelho — disse o porta-voz militar do grupo, Yahya Sari, em uma declaração gravada em vídeo.
Logo após a guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023, os Houthis deram início a uma série de ataques a barcos suspeitos de terem ligação com Israel e com aliados ocidentais no estreito de Bab al-Mandeb, entrada sul do Mar Vermelho próxima ao Iêmen. O local é particularmente estratégico por separar os continentes da Ásia e África e conectá-los à Europa. Hoje, a Organização Marítima Internacional estima que até um quarto da navegação global passe pela rota entre o estreito de Bab al-Mandeb até o Canal de Suez, onde é feita a conexão com o Mar Mediterrâneo.
Os ataques só foram interrompidos em maio, após um cessar-fogo firmado com Washington depois que os EUA, em parceria com o Reino Unido, terem promovido uma série de ataques contra o território iemenita — que enfrenta uma guerra civil desde 2014. Contudo, a interferência americana pode levar a uma nova obstrução em uma rota-chave para o comércio global.
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Autor: Agência O Globo