Quais empresas do setor financeiro terão lucros e dividendos reduzidos após nova MP de Lula?
Pelo placar de 346 votos favoráveis e 97 contrários, a Câmara dos Deputados anulou os efeitos imediatos da Medida Provisória (MP) de elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e da Contribuição Social do Lucro Líquido (CSLL). No entanto, vale lembrar que a escolha do Congresso não derruba a nova MP de Lula até que haja uma votação do mérito da proposta. Analistas ouvidos pela reportagem dizem que algumas firmas do setor monetário, como os grandes bancos, podem até ser beneficiadas pela proposta, enquanto fintechs e outras financeiras podem ter uma queda significativa no lucro.
O decreto eleva a alíquota da CSLL das instituições de pagamentos de 9% para 15%. Estão nessa categoria Pagbank e Stone. As firmas financeiras de crédito ao consumidor terão um aumento da alíquota de 15% para 20% e bolsas de valores e demais corretoras terão a alíquota elevada de 9% para 15%. Os demais segmentos, como bancos e seguradoras, terão a alíquota mantidas, respectivamente, em 15% e 20%.
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, estima que as mais impactadas serão PagBank e Stone. Segundo ele, as firmas teriam a elevação de 6 pontos porcentuais da alíquota, o que pesaria fortemente sobre o lucro delas. Já o Itaú BBA calcula um impacto menor nas firmas de pagamentos, com a queda no lucro da PagSeguro em 4% e da Stone em 3%. Os analistas estimam que as firmas possuem um espaço maior para repassar preços e manter um pouco mais de margem de ganhos. No entanto, essas não são as únicas firmas no centro do debate.
B3, XP e Nubank são as maiores impactadas pela MP de Lula
Na visão dos analistas do JPMorgan, a medida pode ser vista como negativa e gerar um recuo de 7% a 8% no lucro da B3 (B3SA3). Essa queda no lucro é calculada assumindo que não haja repasse do imposto via preços para os clientes ou outras medidas para compensação da nova taxa, que para companhia deve subir de 9% para 15%. O Itaú BBA tem a mesma estimativa para a firma, com redução de 7% no lucro devido ao novo imposto.
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O consenso dos bancos é que a B3 não deve optar por fazer o repasse de preços devido a potenciais concorrentes da companhia, como a própria listagem no mercado internacional, que passou a ser uma verdadeira pedra no caminho da firma. Isso porque companhias brasileiras começaram a procurar a Bolsa americana por ter mais volume e ganhos de mercado. O caso mais recente foi o da JBS.
Outra firma a ser impactada será a XP (XPBR34). Os analistas calculam que a companhia terá uma redução de 10% no seu lucro líquido. Conforme o Itaú BBA, a firma será impactada por operar fundos no exterior, que terão a alíquota elevada de 15% para 25%. Isso significa que firmas que operam por meio de fundos fora do Brasil verão um aumento na tributação sobre a renda.
“Isso inclui principalmente a XP, que utiliza esses fundos (também conhecidos como Coliseu) como contraparte para operações locais. Aproximadamente dois terços dos lucros antes dos tributos (EBT) da XP vêm desses veículos. É claro que esse assunto e suas interpretações ainda podem mudar, mas isso pode gerar um impacto de cerca de 10% no lucro líquido da XP”, dizem Pedro Leduc, William Barranjard e Mateus Raffaelli, que assinam o relatório do BBA.
Há também outras companhias com reduções significativas no lucro por causa dessas medidas. O JPMorgan estima que o Nubank (ROXO34) pode apresentar queda entre 5% e 7% do lucro. “O Nubank também deve ser afetado, pois a alíquota de imposto para sua entidade financeira no Brasil, somando Imposto de Renda Pessoa Jurídica e CSLL, vai passar dos 40% para 45%, lembrando que o Inter paga a alíquota maior, portanto sem grande impacto”, explicam Yuri Fernandes, Guilherme Grespan, Fernanda Sayao e Marlon Medina, que assinam o relatório do JPMorgan. Já o Itaú BBA calcula que o Nubank deve apresentar queda de 6% do lucro pelos mesmos motivos.
IOF vai impactar bancos e seguradoras por previdência?
Há também mudanças na previdência privada, relacionada ao Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). Segundo o decreto, até 31 de dezembro de 2025, o IOF nos aportes em VGBL incidirá somente sobre o valor que exceder R$ 300 mil, considerados a partir da data de entrada em vigor do decreto e em uma mesma seguradora.
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A partir de 1º de janeiro de 2026, o IOF de 5% nos aportes em VGBL começaria a incidir sobre o valor que exceder R$ 600 mil, independentemente de terem sido depositados em uma ou várias instituições. No fim do dia, a medida eleva a alíquota de 3% para 5% para valores acima de R$ 600 mil e isenta patrimônios abaixo dessa quantia.
Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos e sócio da Beginity Capital, explica que entre os bancos, o Banco do Brasil (BBAS3) tende a ser o mais impactado. Isso ocorre porque ele detém uma participação majoritária na BB Seguridade, a qual é altamente exposta a produtos de previdência e seguros de vida — segmentos diretamente afetados pela nova taxação.
“O impacto esperado no lucro da BB Seguridade (BBSE3) pode chegar a 5% a 8% ao ano, especialmente se a companhia não conseguir repassar o IOF integralmente ao cliente. Isso implicaria em uma redução estimada de até 0,7 ponto percentual no rendimento em dividendos da BB Seguridade (dividend yield), levando-o de cerca de 9,5% para 8,8%”, calcula Dias. Ainda entre as seguradoras, a Caixa Seguridade (CXSE3) tem perfil semelhante, com alta exposição à previdência. A redução no lucro pode variar entre 4% e 6%, com uma possível queda no dividend yield de 9,2% para 8,6%.
Como devem ficar os dividendos dos bancos?
Já o Bradesco também deve sentir os impactos da mudança, pois a companhia possui uma das maiores operações de seguros do País, especialmente em vida e previdência. A Bradesco Seguros reportou lucro de R$ 2,4 bilhões no primeiro trimestre de 2025, equivalente a 40,9% do lucro total do grupo, que foi de R$ 5,86 bilhões no primeiro trimestre de 2024.
“A nova alíquota de IOF pode comprimir a rentabilidade dos segmentos de seguros e previdência, afetando indiretamente o lucro consolidado dos bancos — principalmente para aqueles com maior dependência dessas receitas. Por isso, estimamos um retorno em dividendos de 9,5% para BB, 6,8% para Bradesco, rendimento de 6,2% em dividendos do Itaú e 7% para o Santander”, argumenta o sócio da Beginity Capital.
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João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, diz que, embora os grandes bancos tenham operações de seguros, o impacto deve ser limitado, visto que o IOF sobre previdência tende a não ser tão agressivo quanto o CSLL para os demais concorrentes. A mudança do CSLL afeta concorrentes diretos, como o Nubank, já as questões de seguros e previdência afetam todo o setor.
Ou seja, há espaço para repasse de preços no segmento de previdência e ganhos com equalização da competitividade com concorrentes que pagavam menos impostos. “A relação dessas mudanças não deve alterar significativamente os dividendos, sendo o dividend yield esperado de BBAS3 de 9%. ITUB4 com 7%, SANB11 com 7,5% e BBDC4com 8%”, explica Abdouni.
Como os bancos tradicionais são os beneficiados pela medida, os analistas preferem ações desses bancos. Hulisses Dias recomenda a compra para a ação do Banco do Brasil pelo fato de a estatal apresentar o maior rendimento em dividendos. Ele acredita que o papel está atraente pelo desconto apresentado, mesmo diante das incertezas sobre o agronegócio.
Já Abdouni, da Levante, prefere o Itaú (ITUB4) pelo menor risco que o banco apresenta, mesmo com a companhia pagando o menor dividendo entre os quatro. Bradesco e Santander não são cotados pelos analistas devido aos dividendos medianos e o momento de recuperação que as companhias vivem, reduzindo os possíveis ganhos de competitividade com a nova MP de Lula.
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Autor: Bruno Andrade