Ricos serão mais ricos, dizem analistas, mas “vergonha do luxo” os fará esconder isso


Em tempos de volatilidade econômica, a riqueza costuma se tornar um tema politizado. O “grande e belo” pacote da Casa Branca dividiu opiniões após estimativas do Escritório do Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) indicarem que as políticas custariam aos americanos mais pobres cerca de US$ 1.600 ao ano, enquanto elevariam em média em US$ 12.000 a renda dos lares mais ricos anualmente.
Isso decorre de ajustes de política, como o aumento do limite de isenção para impostos sobre heranças e doações para US$ 15 milhões, bem como a elevação do teto de dedução de impostos estaduais e locais (SALT) de US$ 10.000 para US$ 40.000.
Um problema nos debates atuais sobre tributos à riqueza, diz o economista-chefe do UBS, Paul Donovan, é que muitos eleitores mais ricos nos EUA não se reconhecem como ricos.
Em uma mesa-redonda na semana passada, Donovan explicou: “Uma questão bem interessante que vemos surgir cada vez mais em discussões sobre impostos sobre a riqueza e heranças é a crescente lacuna entre percepção e realidade da riqueza. As pessoas dizem: ‘Sim, precisamos de um imposto sobre milionários, mas não em mim, eu não conto como milionário’, quando, na verdade, você tem um apartamento de dois quartos em Manhattan. Você é, por definição, milionário.”
Donovan continuou dizendo que as redes sociais também distorcem a percepção de riqueza. Mesmo que a desigualdade não tenha mudado, “as pessoas se sentem mais desprovidas pelo suposto luxo exibido online”.
“Como resultado, as pessoas acabam confundindo ainda mais a percepção de sua própria riqueza com a realidade”, acrescentou Donovan. “Muitos são ricos, mas se veem em desvantagem por não viverem como um influenciador digital.”
Vergonha de ostentar luxo
Com a riqueza tornando-se um tema socialmente cada vez mais divisivo – inclusive levando os abastados a se distanciarem de sua própria condição –, os consumidores já estão reduzindo a compra de símbolos de status e de experiências vistosas.
O balanço de primavera da Bain sobre o setor de luxo, divulgado na semana passada, mostra que o segmento de bens pessoais encolheu.
Claudia D’Arpizio, uma das autoras do relatório, contou à Fortune que o termo “vergonha do luxo” (“luxury shame”) surgiu durante a crise financeira de 2008, quando a riqueza passou a ser vista como algo “cafona”, diante dos milhões de americanos que perderam casas e empregos.
D’Arpizio acrescenta que, na época, as lojas de grife passaram a usar sacolas brancas discretas para as compras, pois os clientes não queriam ser vistos carregando embalagens de marcas famosas. “Nos EUA, isso foi autogerado; as pessoas mudaram seus comportamentos porque sentiam vergonha”, diz ela.
Hoje, o movimento, protagonizado pelos consumidores chineses, tem caráter mais governamental. “É um regime comunista que incentivou o consumo de luxo nos últimos 15 anos, quando a população estava cada vez mais rica. Agora, com o crescimento desacelerando e o desemprego entre gerações mais jovens, querem evitar tensões, dizendo aos ricos: ‘Não ostentem riqueza neste momento’.”
Essa tensão social está se espalhando para o Ocidente, completa D’Arpizio, e, por isso, as marcas de luxo deveriam dar menos ênfase ao elitismo e mais à ideia de serem guardiãs de cultura e inovação.
Os ricos ficam mais ricos
Dito isso, o fato de os ricos não quererem ou não perceberem sua riqueza não significa que as engrenagens que geram seus ativos estejam desacelerando.
“Há dois motores independentes que precisamos considerar, e que não afetam o motor de crescimento de riqueza”, diz Donovan em resposta a uma pergunta da Fortune. “O primeiro é o aumento do nacionalismo econômico.”
Basta olhar para a iniciativa “America First” de Trump, mas Donovan afirma que esse comportamento também é comum em países como a China. “Frequentemente, há hostilidade a marcas e firmas estrangeiras. Vimos isso com as grifes europeias de luxo na China.”
Donovan acrescenta que o segundo fator que molda a abordagem de consumo dos ricos é o foco no entretenimento. “Frequentemente me perguntam: ‘O que um economista quer dizer com ‘diversão’?’ A resposta é qualquer coisa que você possa postar no Instagram”, explica. “Então é viagem ao exterior, refeições em restaurantes, shows da Taylor Swift. E, claro, roupas novas, porque, ao postar a foto daquela refeição incrível, você precisa estar com um look novo.”
“Essas tendências, que são independentes da criação de riqueza, precisam ser consideradas, pois podem parecer sinais de vergonha de ostentar riqueza, quando, na verdade, refletem mudanças no padrão de consumo por outros motivos.”
Esta história foi originalmente publicada em Fortune.com.
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Autor: Roberto de Lira