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Veja como funciona a taxa de Donald Trump e por que ela afeta as empresas da Bolsa

As tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra impostações vindas do Brasil pegou mercado, governo e cidadãos do País de surpresa não apenas pelo seu tamanho como pela justificativa que extrapola a esfera comercial. Assim, nesta quinta-feira (10), dia seguinte ao anúncio, investidores tentam digerir a medida e entender como funciona a taxa de Trump na prática, bem como avaliar o impacto dela na Bolsa de Valores e demais ativos monetários.

O mandatário americano enviou na noite de ontem (9) uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciando a imposição de tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros que chegam aos EUA. A medida repercutiu rapidamente por conta da justificativa apresentada: segundo Trump, uma resposta à suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que, segundo ele, prejudicam firmas americanas de tecnologia – como o X, antigo Twitter.

Trump, ao que tudo indica, não esqueceu o episódio – mesmo que já antigo. Em setembro de 2024, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou a retirada do aplicativo X do ar no Brasil. A decisão ocorreu após Elon Musk, atual dono da plataforma, se recusar a indicar um representante legal da firma para responder judicialmente no País.

O que diz a carta de Trump e por que a tarifa é 50%

Na carta redigida à Lula, Donald Trump comenta os dois casos:

“Conheci e me relacionei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos demais líderes mundiais. A maneira como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato — inclusive pelos Estados Unidos —, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. Trata-se de uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!

Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil contra as eleições livres e os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS para plataformas de redes sociais dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado brasileiro de redes sociais), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de quaisquer tarifas setoriais. Produtos transbordados com o intuito de burlar essa tarifa de 50% estarão sujeitos à tarifa mais alta”.

Apesar da forte repercussão, ainda não está definida qual será a resposta do governo brasileiro ao novo tarifaço. Até o momento, o presidente Lula limitou-se a dizer que a carta será “devolvida” e que não adotará nenhuma medida antes do prazo estipulado por Trump. Ainda assim, uma dúvida permanece: o que vai mudar, na prática, caso a tarifa de 50% realmente entre em vigor em 1º de agosto deste ano.

Quais setores sofrem mais com a taxa de Trump?

Apesar de já ter sido atingido em abril por tarifas globais de 10% impostas por  Trump, o Brasil ainda não havia enfrentado uma medida tão severa quanto o novo tarifaço de 50% sobre seus produtos. Segundo o especialista em investimentos Virgílio Iage, da Valor Investimentos, ambas as taxações fazem parte da guerra comercial iniciada pelo presidente americano. No entanto, há uma diferença clara entre os dois episódios: a motivação por trás de cada medida. “O que muda é o fator político explícito. Agora, a medida está claramente vinculada ao apoio ao ex-presidente Bolsonaro e à ‘censura’ no Brasil, ao invés de déficit comercial genérico”, avalia.

Em uma lógica geral, se a tarifa de fato entrar em vigor, os produtos brasileiros ficarão mais caros para o importador americano, o que pode afetar a competitividade das exportações brasileiras em relação à outras indústrias, gerando um efeito bola de neve na economia – e também nos investimentos. Na visão do analista, os principais produtos afetados serão:

  • Café;
  • Suco (especialmente de laranja);
  • Laranja;
  • Carne bovina;
  • Açúcar;
  • Frutas tropicais;
  • Especiarias;
  • Produtos industriais, como aeronaves;
  • Petróleo – e por consequência produtos derivados, como gasolina.

Já de acordo com Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria, “setores com forte presença nos EUA verão margens comprimidas ou precisarão redirecionar embarques a um real depreciado”. Entre os produtos afetados, Gazola cita aço, celulose, calçados e produtos ligados à aviação, além do café, como dito também por Iage.

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Na visão do economista, para a população, o impacto virá em duas ondas, já que a tendência é o dólar subir e o real desvalorizar. “A imediata é o encarecimento de bens já pressionados pela desvalorização cambialcombustíveis, fertilizantes, eletrônicos –, porque o dólar mais alto se propaga pela cadeia em poucos trimestres. A segunda, mais difusa, vem da perda de dinamismo em regiões exportadoras (Santos, Paranaguá, Vale do Paraopeba); menos receita em dólar significa menos investimentos e, portanto, salários menores no agregado”, diz.

“Isso se soma com a provável necessidade de o Banco Central (BC) manter juros altos por mais tempo para conter o repasse inflacionário e o resultado é crescimento menor da economia justo quando o País tenta sair de um hiato de produtividade. Em síntese, o ‘tarifaço’ não serve apenas como um golpe na corrente de comércio, mas também um teste de resiliência institucional de Brasília e de capacidade de o setor privado acelerar a migração para mercados menos sujeitos à volatilidade geopolítica“, finaliza.

Reação do dólar, inflação e mercado doméstico

Iage confirma a teoria de Gazola sobre a alta do dólar e uma desvalorização do real: “O real caiu 2% no câmbio recuando parte do movimento e fechando em torno de menos -0,7% ao longo do dia (na quarta-feira). A lógica é que o câmbio se desvaloriza, o que melhora a competitividade nas exportações mas reduz o poder de compra interno”, explica. Já em relação ao dólar, o analista afirma que a moeda americana subiu forte e, com isso, a inflação também aumenta, assim como o preço de todos os insumos. “Indiretamente, isso faz com que tudo fique mais caro, o que acaba impactando negativamente na economia”.

Para o investidor, é importante citar que o tarifaço de 50% em relação aos produtos podem afetar diretamente as firmas de capital aberto – aquelas negociadas na Bolsa – que produzem esses insumos. Dentre as principais, o analista menciona Ambev (ABEV3), Minerva (BEEF3), Marfrig (MRFG3), Petrobras (PETR3; PETR4), Prio (PRIO3) e Embraer (EMBR3). No entanto, existem firmas que podem se beneficiar: “a indústria bovina dos Estados Unidos pode ganhar um espaço no mercado brasileiro e um redirecionamento das suas exportações”, explica.

Em uma síntese, o analista chama atenção para os custos mais elevados para o importador americano, pressão sobre preços domésticos (inflação) e mercado de renda variável e a busca de uma nova estratégia de exportação na indústria brasileira – ou seja, se debruçar sobre mercados aliados, como América Latina e China.

Quais são as possíveis ações do Brasil em relação às tarifas?

Apesar do presidente Lula ter afirmado que não irá tomar nenhuma medida até o fim do prazo, tanto o economista quanto o analista compartilham da mesma visão. Para Gazola, a melhor resposta passa por três frentes. “Primeiro, acionar imediatamente o mecanismo de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC): ainda que lento, mantém o litígio em fórum multilateral e isola o componente político da medida. Segundo, coordenar-se com parceiros que também receberam cartas tarifárias (México, Índia e Coreia do Sul) para reforçar a acusação de prática unilateral; essa coalizão reduz o risco de retaliação cruzada dispersa”.

“Terceiro – e talvez mais importante – oferecer ao firmariado um mapa claro de crédito e seguro-exportação focado em diversificação de mercados, em vez de retaliar na mesma moeda, o que só ampliaria o dano inflacionário interno. Reações espelhadas podem ser populares, mas, na prática, tributam o consumidor brasileiro duas vezes”, afirma.

Para a Iage, a solução é muito parecida: “O governo Lula deve usar a lei de reciprocidade econômica, mas mantendo aberturas para negociações via OMC. O mercado também espera um esforço diplomático junto aos aliados, aos blocos da União Europeia e Ásia para tentar pressionar os Estados Unidos”.

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: Manuela Miniguini

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