Por que a Embraer (EMBR3) segue em queda? Veja o que apontam XP e RB Investimentos
Desde que Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, na quarta-feira (10), os mercados monetários reagiram com cautela. A Embraer (EMBR3), uma das firmas brasileiras mais expostas ao mercado americano, viu suas ações despencarem quase 8% no pregão seguinte. Mas enquanto o impacto imediato nas cotações parece claro, especialistas apontam divergências importantes quanto ao tamanho real da ameaça para a companhia aérea.
Apesar da última semana ter sido importante para a firma, devido à negociação com a Scandinavian Airlines bateu sua máxima histórica com papel negociado a R$ 83,71, nesta sexta-feira (11), às 12h45, as ações estavam em queda de 1,53%.
A aviação executiva é hoje um dos principais pilares da Embraer, que direciona cerca de 60% de suas vendas aos EUA. Isso torna a firma particularmente vulnerável a medidas protecionistas. Segundo Heitor Maximiano, Sales de Renda Variável da InvestSmart XP, “as tarifas impostas pelos Estados Unidos colocam a Embraer em uma posição especialmente delicada”. Modelos como o Praetor, fabricados no Brasil, seriam diretamente afetados, enquanto os Phenom, montados na Flórida (EUA), “ainda carregam conteúdo nacional e podem ser parcialmente impactados”.
Maximiano detalha ainda que a XP estima um impacto significativo nas projeções operacionais da companhia. Uma tarifa de 10% já implicaria em uma redução de US$ 95 milhões no EBIT (Lucro Antes de Juros e Impostos) de 2026. Com a alíquota completa de 50%, esse impacto saltaria para até US$ 475 milhões, o que representa uma queda de até 60% nas estimativas. A corretora reiterou recomendação neutra para o papel, mas alertou para os riscos à competitividade frente a rivais europeus e norte-americanos, além da possibilidade de adiamentos de entregas em um ambiente de maior incerteza.
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Mas a Embraer não é a única firma a sofre com as medidas de Trump. O anúncio das tarifas gerou uma onda de aversão a risco entre investidores com posições em companhias exportadoras brasileiras. “O anúncio de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos representa um dos movimentos comerciais mais agressivos da atual gestão Trump”, avalia Daniel Nogueira, também da InvestSmart XP. Para ele, o impacto foi imediato no Ibovespa, com Embraer e Minerva (BEEF3) entre as maiores baixas. Enquanto a fabricante de aeronaves perdeu quase 8%, a Minerva, com 16% da receita exposta ao mercado americano, estimou perdas de até 5% na receita líquida consolidada.
Nogueira destaca ainda que, em contrapartida, ações como a da Vale (VALE3) se valorizaram, impulsionadas pela alta do minério de ferro e expectativas de estímulo econômico na China. Essa “descorrelação” de movimentos evidencia a necessidade de atenção redobrada por parte dos investidores. Ele também lembra que o impacto das tarifas não se limita ao Brasil: setores americanos inteiros, como o de café e suco de laranja, também podem ser afetados, tanto em custos quanto em emprego.
“O tarifaço tende a causar ruído relevante no curto prazo, mas já vimos esse filme antes. Trump costuma começar com um tom agressivo e depois recuar ou negociar termos mais brandos”, pondera Nogueira. Na sua visão, o momento exige cautela, seletividade e gestão de risco, e pode até abrir oportunidades pontuais.
Essa visão mais contida é compartilhada por Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, que questiona a leitura dominante no mercado. Para ele, a Embraer pode acabar sendo poupada do impacto mais severo. “Essa leitura de que a Embraer será fortemente afetada não faz muito sentido”, diz. Ele lembra que a companhia já opera com plantas nos Estados Unidos e que a própria carta de Trump menciona isenção de tarifas para firmas com investimentos em território americano — o que pode incluir a fabricante brasileira.
Cruz também destaca a limitação logística das grandes concorrentes. Boeing e Airbus acumulam juntas mais de 14 mil aeronaves encomendadas e com linhas de produção comprometidas até 2030. Isso significa que não seria simples para companhias aéreas americanas substituírem seus pedidos à Embraer, que tem hoje 383 aeronaves encomendadas por firmas dos EUA. “Se essas tarifas forem aplicadas à Embraer, o impacto será maior para a aviação regional e para a própria economia americana”, argumenta. Por isso, ele considera a queda das ações ‘descolada da realidade’.
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Agora, o que se vê é um mercado reagindo a um cenário ainda incerto e de forte componente político. A carta de Trump mencionando diretamente Jair Bolsonaro insere o Brasil em uma disputa doméstica americana, deslocando o eixo da discussão para longe dos fundamentos econômicos. Enquanto isso, a recomendação dos especialistas ouvidos pela reportagem é evitar decisões precipitadas e monitorar os desdobramentos diplomáticos e comerciais com atenção. Afinal, como já demonstrado em outras ocasiões, a retórica de Trump pode mudar — e, com ela, os rumos do mercado.
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Autor: Isabela Ortiz