Finalistas da Copa do Mundo, Chelsea e PSG são contestados por origem de dinheiro


Paris Saint-Germain e Chelsea se enfrentam neste domingo, dia 13, em Nova Jersey, na primeira final da história da nova Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Mais do que um jogo que coroará um campeão mundial inédito, a decisão reúne dois clubes que tiveram crescimento exponencial nos últimos anos a partir de investimentos bilionários vindos de fundos contestados — tanto por suas origens políticas quanto por sua transparência financeira.
O PSG passou por uma transformação radical a partir de 2011, quando foi adquirido pelo Qatar Sports Investments (QSI), fundo ligado diretamente ao Estado do Qatar. Desde então, o clube francês passou de coadjuvante na Europa para um dos protagonistas do futebol mundial.
De acordo com levantamento da Deloitte e de registros da imprensa francesa, o PSG gastou mais de €1,9 bilhão (mais de R$ 12 bilhões) em contratações ao longo dos últimos 13 anos. Entre essas negociações estão as duas maiores da história do futebol: Neymar, por 222 milhões de euros, e Kylian Mbappé, por €180 milhões. Os valores, somados aos altos salários oferecidos, alçaram o clube a um novo patamar.
Em 2024, o PSG foi listado como o terceiro clube com maior receita do futebol global, atrás apenas de Real Madrid e Manchester City, com cerca de €806 milhões (R$ 5,2 bilhões) de faturamento anual. A Forbes estima o valor de mercado do clube parisiense em US$ 4,4 bilhões (R$ 28,5 bilhões).
O sucesso esportivo também se tornou evidente: o PSG dominou o cenário doméstico, venceu a Champions League de 2025 e agora chega à final do Mundial como favorito.
Mas o avanço meteórico veio acompanhado de questionamentos. O clube se tornou símbolo do chamado “sportswashing” — quando governos utilizam o esporte para suavizar suas imagens internacionais. O Qatar, acusado por diversas ONGs de violar direitos humanos, investiu pesado em futebol como parte de uma estratégia geopolítica.
Além disso, o PSG já foi alvo da UEFA por supostas manobras financeiras para driblar o Fair Play monetário. Em uma delas, um contrato de patrocínio com a Qatar Tourism Authority foi avaliado inicialmente em €200 milhões por ano, mas a entidade europeia o rebaixou drasticamente, apontando valores incompatíveis com o mercado.
Mais recentemente, o controle do clube voltou ao centro das atenções após a QSI iniciar conversas para vender parte de sua fatia a investidores americanos, como o fundo Arctos Sports Partners. O presidente do clube, Nasser Al-Khelaifi, também passou a ser investigado por denúncias de uso indevido de influência e abuso de poder em negócios internos, o que adicionou outra camada de polêmica à gestão qatari no clube francês.
Bilionário russo
Do outro lado da final, o Chelsea também viveu uma revolução financeira e esportiva desde o início do século. Em 2003, o então desconhecido empresário russo Roman Abramovich comprou o clube por cerca de £140 milhões (R$ 1 bilhão, em valores atuais). Ao longo dos 19 anos seguintes, o magnata injetou mais de £1,5 bilhão (R$ 11,2 bilhões) no time londrino, o que resultou em uma série de títulos, incluindo duas Ligas dos Campeões e diversos campeonatos ingleses. A presença de Abramovich transformou o Chelsea em potência — e mudou a forma como clubes passaram a se relacionar com grandes investidores estrangeiros.
Porém, os métodos de Abramovich também foram alvo de severas críticas. Um extenso trabalho investigativo do site The Bureau of Investigative Journalism revelou que o bilionário utilizou uma rede de firmas offshore em paraísos fiscais, como Ilhas Virgens Britânicas e Delaware, para realizar pagamentos secretos a agentes e intermediários. Esses pagamentos, não declarados nos livros oficiais, serviam para facilitar contratações e comissões, driblando controles monetários.
A situação ficou insustentável quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. O governo britânico impôs sanções diretas a Abramovich, apontando-o como um aliado próximo do presidente Vladimir Putin. Sem alternativas, o oligarca russo foi forçado a vender o Chelsea.
A venda foi concluída em maio de 2022, por £2,5 bilhões (quase R$ 19 bilhões em valores atuais), para um consórcio liderado por Todd Boehly, Clearlake Capital, Mark Walter e o bilionário suíço Hansjörg Wyss. Os novos donos assumiram o comando com o aval do governo britânico, que congelou a quantia arrecadada com a venda com a promessa de destiná-la a vítimas da guerra na Ucrânia — o que ainda está em negociação judicial.
Desde então, o Chelsea passou a ser gerido como um ativo monetário. Clearlake Capital, fundo de private equity baseado nos Estados Unidos, tornou-se o maior acionista do clube, seguindo uma tendência que se espalha por todo o futebol europeu: a financeirização dos clubes.
Em seus dois primeiros anos sob a nova gestão, o Chelsea investiu mais de £1 bilhão (R$ 7,5 bilhões) em transferências, com foco em jovens talentos e contratos de longo prazo. Embora os resultados em campo tenham oscilado, a presença na final da Copa do Mundo de Clubes mostra que o modelo está em busca de consolidação.
A trajetória de PSG e Chelsea nesta década se tornou um espelho das transformações profundas que o futebol global atravessa. As duas instituições, antes sem grande protagonismo internacional, alcançaram o topo com apoio de fortunas geradas por fundos estatais, estruturas de capital privado e movimentações pouco transparentes.
A decisão em Nova York não será apenas a disputa de um troféu inédito: será, também, um marco simbólico da nova ordem que rege o futebol moderno — dominada por grandes investidores, interesses geopolíticos e a disputa constante entre paixão e poder.
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Autor: danilolavieri