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Ritmo da atividade em dezembro surpreende, mas não deve alterar rota do BC

Ritmo da atividade em dezembro surpreende, mas não deve alterar rota do BC

A atividade econômica brasileira fechou o ano num ritmo superior ao estimado pelos economistas, conforme dados do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) divulgados nesta segunda-feira (19), mas o analistas dizem que não há indícios de um aquecimento que possa preocupar o Banco Central na sua definição da política monetária.

O desempenho no mês foi atribuído à resiliência do consumo das famílias, já antecipada por outros indicadores e os especialistas acreditam que ainda persistem dúvidas se o desempenho deve se manter, especialmente no setor de serviços.

Segundo o BC, o índice avançou 0,82% em dezembro ante novembro, superando projeções de analistas que iam de altas de 0,40% a 0,75%. Esse resultado veio de alta de 1,1% na Indústria e de 0,3% em serviços, enquanto o varejo recuou 1,3% na margem.

Embora o desempenho do IBC-BR tenha surpreendido – foi a taxa de expansão da atividade mais forte dos últimos 8 meses e a 3ª taxa de crescimento mensal mais elevada do ano de 2023, atrás apenas de abril e fevereiro -, Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, alerta que o indicador no mês pode ter sido afetado por movimentos sazonais, que aquecem a economia nesse período do ano.

Ela explica que, quando a análise é feita sob uma ótica temporal maior, acaba expressando a consolidação de um processo de desaceleração da economia. “No segundo semestre do ano, a taxa média mensal de crescimento ficou em 0,12% e contrastou com a taxa média 0,5% verificada no primeiro semestre do ano”, compara.

Por conta disso, a economista vê os dados recentes reforçando o cenário base do BC, de desaceleração paulatina do nível de atividade, portanto sem impacto sobre a condução da política monetária.

O comentário do Santander Brasil vai na mesma direção, de confirmação da tendência de enfraquecimento da atividade doméstica no 2º semestre, especialmente para segmentos sensíveis ao ciclo. “Esperamos um resultado melhor no 1º trimestre de 2024, com o aumento da demanda causado pelo pagamento dos precatórios e um ‘carry trade’ mais forte deixado pelo resultado de dezembro”, diz o banco.

Base frágil

O economista André Perfeito, por sua vez, escreveu na rede social X que muito do crescimento se deu sobre uma base de comparação ainda frágil, que “crescer na margem não é tão difícil assim”.

Para 2024, no entanto, Perfeito tem projeção de alta de 2,2% no PIB, levando em consideração fatores como a massa salarial em patamar recorde, os juros em queda, o saldo das operações de crédito para pessoas físicas em patamar elevado, e os saldos expressivos na balança comercial. “Estes fatores devem criar espaço para uma alta maior do PIB que o projetado pelo mercado.”

A XP comentou em relatório que a atividade econômica brasileira ganhou força nos últimos meses, impulsionada principalmente pelo consumo das famílias. A estimativa é que PIB total tenha crescido 3,0% no ano passado, o que considera um aumento de 0,1% no quarto trimestre ante o terceiro e de 2,3% em relação ao mesmo trimestre de 2022.

Com isso, o XP Tracker para o PIB do 1º trimestre de 2024 está em +0,5% ante  o trimestre anterior e em +2,2% na comparação anual.

“Assim, nossa projeção para o crescimento do PIB em 2024, atualmente em 1,5%, está inclinada para cima. Aguardaremos a divulgação dos resultados do PIB do 4º trimestre para eventualmente revermos o cenário de crescimento econômico deste ano.

Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, quando se projeta a evolução da economia neste ano, a grande questão continua sendo a capacidade de resiliência do setor de serviços.

Ele pondera que alguns fatores específicos têm contribuído para sustentar a demanda por serviços. “Na nossa avaliação, o mercado de trabalho aquecido, a regra de valorização do salário-mínimo e a inflação comportada deve contrabalançar essa perda de fôlego”, afirma.

A projeção do PicPay é de uma variação modesta de 0,1% no quarto trimestre e de um crescimento de 3% em 2023. Para 2024, está projetado um avanço de 1,8%.

Rafael Perez, economista Suno Research, comenta que a economia brasileira se mostrou mais resiliente e dinâmica que o esperado ao longo de todo ano. Isso apesar desaceleração da atividade nos últimos meses de 2023, ainda influenciada pelos efeitos da política monetária restritiva e o esgotamento da expansão de alguns setores.

“A perspectiva para 2024 aponta para uma retomada gradual durante o ano, com um crescimento mais equilibrado entre os diversos setores. A expectativa é de que o ciclo de cortes da Selic favoreça o mercado de crédito, impulsionando segmentos como a indústria, a construção civil, o varejo e os investimentos, enquanto o mercado de trabalho aquecido e o aumento da massa salarial devem agir como catalisadores para a expansão do consumo.”

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