O suco de laranja nunca esteve tão caro — e a tendência é o preço azedar ainda mais
O suco de laranja é um clássico: do natural no café da manhã à mimosa no happy hour. No entanto, pode começar a pesar no bolso nos próximos meses e anos, se já não estiver pesando agora. O preço do suco de laranja concentrado negociado em Bolsa renovou seu recorde cinco vezes somente em setembro.
No último dia 9, a cotação atingiu a máxima intradia de US$ 5,89 por libra-peso. No acumulado do ano, os preços aumentaram 14,15%, enquanto no período de 12 meses chega a 45,8%. Em dois anos, os preços triplicaram.
“O problema é que o mercado de suco de laranja concentrado é muito concentrado”, escreve a The Economist. Segundo a revista inglesa, a produção da fruta na Flórida, que já foi a segunda maior produtora mundial, murchou 92% em 20 anos após ser atingida por pragas, furacões e aumento de custos.
Outros produtores, como México e Espanha, abastecem o mercado de frutas frescas. Sobra para o Brasil, que responde por 75% da produção mundial do suco concentrado e suas exportações — mas agora enfrenta problemas. O setor agropecuário fala da pior seca dos últimos 44 anos.
São Paulo e Minas Gerais são os principais estados produtores de laranja do Brasil. Em maio, o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) estimou que a produção da safra 2024/25 cairia 24% em relação à safra anterior, chegando a 232,38 milhões de caixas de 40,8 quilos cada.
O déficit já se somava a uma colheita desastrosa na Flórida — a pior desde antes da Segunda Guerra Mundial — levantando a preocupação com estoques globais vazios. Mas a situação piorou.
Neste mês, o Fundecitrus revisou sua estimativa para a safra brasileira para baixo: a produção deve mal chegar a 215,78 milhões de caixas, a pior em mais de três décadas e 30% menor que a safra anterior.
Brasil e Estados Unidos já produziram juntos 600 milhões de caixas de laranja por safra na década de 1990. No entanto, os pomares da Flórida perderam qualidade devido ao greening cítrico, uma doença bacteriana intratável que azeda as laranjas antes de matar a árvore, além de fenômenos climáticos, como o furacão Ian, que atingiu a região produtora.
Por aqui, além da seca, os agricultores também enfrentam o greening em suas plantações. Pelo menos dois terços das árvores da safra brasileira estariam infectadas, e a solução — arrancar as árvores doentes — é muito custosa, o que faz com que muitos produtores, principalmente os de menor porte, mantenham seus pomares.
Isso significa que os frutos das próximas safras também podem estar comprometidos, e novas árvores demoram pelo menos quatro anos para florescer. O greening, somado à seca, tornou as culturas de laranja muito arriscadas, fazendo com que alguns agricultores optassem por outras plantações, como a cana-de-açúcar.
Mas nada disso afetou a demanda, que continua forte. A The Economist aponta que a escassez pode começar a dar sinais em breve, começando pelas regiões fora da América e da Europa, que devem ser priorizadas pelos varejistas como os maiores mercados de suco de laranja.
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Author: Monique Lima