Cinco ações para garantir bons dividendos em cenário de juros elevados
A renda fixa ganhou ainda mais atratividade diante do cenário de juros em alta no Brasil. Para se ter uma ideia, o Ibovespa acumula queda de mais de 5% desde o recorde de pontuação alcançado no fim de agosto, sem forças para acompanhar o rali das ações em Nova York.
Não por acaso, esse movimento de correção do principal índice de ações da Bolsa brasileira coincide com o período em que o Banco Central iniciou o ciclo de aperto da taxa básica de juros, elevando a Selic em 0,25 ponto porcentual (pp) para 10,75%. Novos aumentos – talvez maiores – são esperados para os próximos meses.
Apesar da concorrência desleal, isso não significa que o investidor deve abandonar a renda variável de vez. Para quem ainda quer se arriscar e busca maiores rendimentos por meio do investimento em ações, as firmas tidas como boas pagadoras de dividendos são uma oportunidade.
Garantindo o retorno no presente
Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, explica que essa opção leva em conta um ditado popular bem conhecido. “É a teoria do pássaro na mão”, diz. Ou seja, o investidor prefere garantir algum retorno hoje do que ter um retorno no futuro.
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Dito de outro modo, os investidores buscam ações que pagam dividendos como uma alternativa segura para gerar renda passiva, em tempos de maior incerteza econômica, explica Régis Chinchila, head de research da Terra Investimentos.
Na maioria dos casos, essa fonte de receita é “estável” e “previsível”, destaca Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital. Ainda mais considerando-se um momento em que a Bolsa não apresenta um comportamento legal e os juros estão em um nível mais elevado.
Para não cair em nenhum conto do vigário, o E-Investidor consultou algumas casas de análise e chegou a cinco ações mais citadas como as mais interessantes para uma estratégia de dividendos diante dos juros elevados.
Confira as 5 ações mais recomendadas:
firma | Ação | Dividend yield projetado próximos 12 meses | Indicações |
Banco do Brasil | BBAS3 | 9,5% a 12% | 4 |
BB Seguridade | BBSE3 | 8,9% a 10% | 4 |
Itaú Unibanco | ITUB4 | 6,5% a 7,6% | 2 |
Bradesco | BBDC4 | 6,4% a 10% | 2 |
CPFL | CPFE3 | 11% | 2 |
Levantamento com AGF Análise, Buena Vista Capital, EQI Research, Terra Investimentos e Ticker Research.
Por mais paradoxal que pareça, a lista é composta, basicamente, por firmas do setor monetário, em especial bancos e seguradoras. “É uma faca de dois gumes”, diz Duarte. Se por um lado, o ambiente de juros elevados pode ocasionar mais inadimplência, por outro, os bancos conseguem aumentar a rentabilidade com o dinheiro que fica parado e rendendo.
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A lógica é parecida para o setor de seguros, que tem ganho operacional menor, contudo um ganho monetário elevado, com os prêmios recebidos pelos seguros rendendo, gerando assim lucratividade. Desses setores, os representantes mais indicados são Banco do Brasil (BBAS3) e BB Seguridade (BBSE3). Já o ponto fora da curva dessa lista é a CPFL Energia (CPFE3), do setor elétrico.
Banco do Brasil: à prova de crises
O Banco do Brasil é uma instituição financeira com mais de 200 anos de história. Essa longevidade mostra a capacidade do banco de superar crises. Afinal, foram muitas enfrentadas no período que, por vezes, assustaram o investidor.
Com forte presença no setor bancário brasileiro, o BB, como é chamado, segue crescendo com rentabilidade e eficiência, destacando-se pela sua sólida saúde financeira, com níveis de capital adequados e boa geração de lucro. Além disso, o banco tem uma operação diversificada, que inclui crédito ao agronegócio.
No entanto, em tempos de clima adverso, o segmento rural pode ter seu desempenho comprometido. Ainda entre os riscos de investir no BB, analistas citam o de ingerência política, que também pesa sobre o banco estatal e é a causa principal do desconto das ações.
O Banco do Brasil tem um histórico consistente de remuneração aos seus acionistas, pagando proventos oito vezes ao ano.
BB Seguridade: opção para dividendos semestrais
Braço de seguros do Banco do Brasil, a BB Seguridade utiliza-se do modelo de bancassurance, tendo o amplo balcão do Banco do Brasil como grande propulsor na geração de negócios.
Assim, a seguradora possui como destaques a capilaridade do BB para distribuir seus produtos e a liderança no segmento do agronegócio, o que lhe garante geração de caixa forte.
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A companhia remunera os seus investidores de forma semestral, com pagamentos de dividendos em fevereiro e agosto.
CPFL: dividendos robustos à vista
A CPFL Energia é uma companhia integrada no setor elétrico, ou seja, atua em todos os segmentos sendo o seu principal negócio o de distribuição de energia. Cerca de 61% do seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) é fruto da distribuição. Já a geração representa 28% do Ebitda e a transmissão 8%, restando cerca de 3% para a comercialização de energia e serviços.
A firma atua em cerca de 690 municípios e atende a mais de 17 milhões de clientes, espalhados pelos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. A CPFL pertence à firma chinesa State Grid, a maior do setor elétrico do mundo.
A CPFL apresenta um endividamento baixo para o setor, com uma relação dívida líquida/Ebitda de apenas 1,87x, e uma grande geração de caixa devido às concessões maduras e baixos índices de inadimplência.
Na sua política de dividendos, estabelece uma distribuição de no mínimo 50% do seu lucro líquido ajustado, atrelado ao crescimento e alavancagem (dívida líquida/Ebitda). A companhia já chegou a distribuir 100% do seu lucro líquido no passado. No entanto, para os próximos anos a expectativa do mercado é de que tenha um payout (parcela do lucro destinada a proventos) de entre 70% e 80%, com dividend yields que podem chegar a dois dígitos, segundo analistas.
Os setores BESST
De modo geral, os bancos tradicionais – chamados “bancões” – e os setores de seguros e de energia elétrica são os mais indicados para cenários de juros elevados. São os famosos BESST, acrônimo para Bancos, Energia, Seguros Saneamento e Telecomunicações.
Segundo Rafael Ratto, analista do AGF, são as firmas desses setores essenciais à economia e que fazem parte do dia a dia da população que oferecem oportunidade de investimento.
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“Essas companhias possuem como principais características uma sólida geração de caixa, baixa volatilidade, alta capacidade de repasse de custos acima da inflação, baixa dependência dos ciclos econômicos, maior previsibilidade de receitas e histórico positivo de remuneração aos seus acionistas”, enumera.
Na mesma linha, Felipe Reis, da EQI Research, afirma que setores com menor volatilidade de receita, como os regulados – saneamento, energia elétrica, telecomunicações – e/ou com posição de caixa elevada por questões regulatórias, como bancos e seguros, são os mais indicados. Portanto, a estabilidade e a necessidade constante desses serviços asseguram fluxos de caixa robustos e previsíveis, permitindo o pagamento de dividendos atrativos.
Até por isso, Ratto, do AGF, observa que essas companhias não são apenas uma boa alternativa em momentos de juros mais altos. Ao contrário, são firmas que deveriam estar sempre presentes na carteira do investidor, com os dividendos proporcionando o fluxo de caixa necessário para prosperar na jornada de renda passiva.
Outras opções
Reis, da EQI, observa que, muito mais importante do que os setores, é preciso entender o momento pelo qual cada firma está passando. E, no caso de um cenário de juros mais elevados, setores que operam mais endividados e que dependem de maior crescimento econômico tendem a ser os frágeis.
Duarte, da Ticker, explica que isso acontece porque a alta dos juros afeta essas firmas “na veia”. “Elas têm de pagar mais juros sobre a dívida que possuem. Então, isso é ruim”, comenta.
Em contrapartida, o analista ressalta que também não se deve excluir nenhum setor. “Pode ser que ali naquele meio tenha uma firma que tem um potencial de pagamento de dividendos interessante, mesmo sendo de um setor não tão tradicional assim”, afirma.
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Veja outras ações citadas pelos analistas para surfar no ambiente de juros elevados:
firma | Ação | Dividend yield projetado próximos 12 meses | Indicações |
Mitre | MTRE3 | 13% | 1 |
Bradespar | BRAP4 | 14% | 1 |
Vale | VALE3 | 11% | 1 |
Petrobras | PETR4 | 14,2% | 1 |
Telefônica Brasil | VIVT3 | 8% | 1 |
Caixa Seguridade | CXSE3 | 8% | 1 |
Porto Seguro | PSSA3 | 4% | 1 |
Tegma | TGMA3 | 8% | 1 |
Isa Cteep | TRPL4 | 8,4% | 1 |
Levantamento com AGF Análise, Buena Vista Capital, EQI Research, Terra Investimentos e Ticker Research.
Nesse caso, entre outras firmas também citadas, merece atenção a Mitre (MTRE3).
Mesmo fazendo parte do setor de construção civil, que tende a ser afetado pelo cenário de juros elevados devido ao encarecimento dos financiamentos habitacionais, a construtora e incorporadora é citada como oportunidade pela Buena Vista Capital.
“Vai nessa linha de companhias que podem entregar dividendos robustos, de setores diferentes”, explica o gestor e analista. Nobile também cita a Bradespar (BRAP4), holding que tem uma grande posição em Vale no seu portfólio.
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Aliás, as tradicionais blue chips, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4), também são lembradas. De um lado, a mineradora é uma das maiores do mundo e apresenta sólida capacidade de geração de caixa. Seus dividendos são pagos semestralmente, em março e setembro, e a política de retorno ao acionista é consistente.
De outro, a estatal petrolífera sofre com os ruídos políticos, mas possui geração de caixa operacional firme. Ainda assim, ambas as firmas estão sujeitas à volatilidade nos preços das suas principais commodities – minério de ferro e petróleo.
Já entre os setores que o investidor deve fugir de ações em tempos de juros elevados estão varejo, consumo cíclico, construção civil, energia não renovável, transporte, logística e tecnologia. “São setores cíclicos e altamente voláteis, que devem ser evitados”, completa Chinchila, do Terra.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Katherine Rivas