Títulos de inflação alcançam taxa só vista em 5% do tempo desde 2010; vale investir?
Quem deu uma espiada nos títulos públicos negociados no Tesouro Direto nos últimos dias enxergou lá uma situação que, se não inédita, é muito rara. Os títulos públicos atrelados à inflação com vencimento em 2035 – chamados de Tesouro IPCA+ – estavam oferecendo juros reais acima de 7% ao ano.
O detalhe: uma remuneração desse tamanho só foi vista em 5% dos mais de 3.500 dias úteis em que esse papel foi negociado no mercado nos últimos 14 anos, desde 2010.
“As taxas dos títulos soberanos estão em um momento espetacular”, diz Matheus Volpato, responsável pela equipe de Distribuição de Produtos na Assessoria XP, que fez o cálculo.
Naturalmente, não é à toa. A disparada recente dos juros é um reflexo de como o mercado recebeu a notícia do pacote fiscal anunciado pelo governo duas semanas atrás: com ceticismo e desconfiança. Sem convicção de que as medidas serão suficientes para aliviar as contas públicas e conter o crescimento da dívida, os agentes econômicos já dão como certo que será preciso elevar as taxas para segurar a inflação.
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“As taxas estão altas porque existe uma percepção de que os riscos estão aí”, diz Volpato. “Mas é bom lembrar que todo esse estresse também gera oportunidades”.
Onde estão as oportunidades?
Algumas delas estão no mercado de renda fixa. Além de títulos públicos, investimentos como CDBs, debêntures e até ativos estruturados oferecem remunerações elevadas, com mais ou menos riscos a depender do emissor e das condições de cada papel.
Há quem diga que títulos de renda fixa pagando IPCA + 7% são um “investimento quase imbatível” – como é o caso de Rafael Wynalda, especialista do banco Inter.
Afinal, papéis com esse formato de remuneração, além de pagar juros, corrigem o investimento pela inflação. Somados, os 7% mais o IPCA – projetado pela XP em 5% em 2024 e em 5,2% em 2026 – já superam um rendimento de 12% ao ano, enquanto a taxa básica de juros, a famosa Selic, ainda está em 11,25%.
Por isso, algumas casas têm enfatizado uma alocação prioritária de renda fixa em títulos de inflação para 2025. “É um tema que exigiu algum debate por causa da volatilidade que esses títulos têm na marcação a mercado”, diz Artur Wichmann, CIO da XP. “Mas é o título que mais protege em relação à inflação. A trajetória será conturbada, mas o retorno de quem carrega até o vencimento é muito bom.”
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Quais são os riscos?
Volpato explica que papéis de renda fixa embutem sempre três riscos principais: de crédito, ou a chance do emissor dar um “calote” nos pagamentos; de liquidez, ou o grau de dificuldade para se desfazer do investimento; e de mercado, ou a variação dos preços dos papéis até o seu vencimento.
No caso dos títulos públicos de inflação, o maior risco percebido é o de mercado. Quando as taxas de juros sobem, papéis antigos – adquiridos pelos investidores em tempos de taxas mais baixas – se desvalorizam devido à chamada “marcação a mercado”.
Um exemplo prático: quem investisse no Tesouro IPCA+ 2045 em 1º de novembro deste ano e vendesse a aplicação no último dia do mês – justamente no período em que taxas avançaram – teria tido prejuízo de -6,75%. No ano, certos vencimentos chegam a ter desempenho de -18% acumulado.
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O contrário também é verdadeiro. Quem investe em papéis de renda fixa quando os juros estão elevados tende a vê-los valorizando no futuro, caso as taxas venham a cair. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2020. Para estimular a economia na época da pandemia, o Banco Central baixou a taxa Selic para 2% ao ano, o menor patamar da história. Fazer novos investimentos em renda fixa numa época de juros tão baixos não era lá muito atrativo – mas quem tinha comprado papéis nos anos anteriores, com taxas maiores, observou uma valorização naquele período.
Segundo Wynalda, do Inter, historicamente, um investidor que consegue aplicar em títulos de inflação com um nível juros como o atual pode sentir os efeitos negativos da marcação a mercado em uma janela de 12 a 18 meses – porque as taxas podem continuar subindo por mais um tempo. Depois, o efeito na carteira tende a ser positivo e permite ao investidor, inclusive, sair da aplicação antes do vencimento e ainda ter lucro.
E se os juros subirem mais…
Mas se as previsões falharem e os juros só subirem até o vencimento dos papéis, o investidor ainda tem a opção de carregá-los até o fim para receber a taxa de juros contratada, lembra Guilherme Almeida, especialista em educação financeira da Suno. Só sai com prejuízo quem vende os títulos antes do vencimento.
Na Manchester Investimentos, ter vencimentos mais longos no Tesouro IPCA+, para depois de 2030, não é incômodo, já que estes ativos são “coringas”. “Em um cenário otimista, conseguimos vender e ganhar com a marcação a mercado ou, mais importante ainda, temos a proteção em um cenário mais adverso”, segundo Santiago Schmitt, especialista em renda fixa da casa.
Um título que está pagando IPCA+ 7% – que é a precificação atual dos títulos públicos – pode dobrar o valor investido em ganhos reais em um período de 10,3 anos, segundo os cálculos da XP.
O ideal, orienta Volpato, é evitar concentrar todas as aplicações de renda fixa em um único tipo de papel. Os títulos públicos devem, sim, compor uma parte do portfólio – já que, além de oferecerem bom retorno, possuem risco de crédito mais baixo que o de papéis emitidos por firmas. Mas a remuneração de investimentos bancários – como CDBs – também subiu, e eles possuem a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). No caso de debêntures e outros ativos de firmas, o mais seguro é buscar aqueles conhecidos como high grade (com risco de crédito e potencial de retorno menor).
O timing perfeito existe?
Para quem não quer comprar por receio de novas altas nas taxas, Schmitt alerta que esperar o melhor momento para investir “não é uma estratégia forte”, já que é difícil prever com exatidão até quando as taxas sobem ou caem.
“É muito mais interessante analisar o histórico e ver se estamos em um bom momento de compra, independentemente de 0,5 ponto percentual a mais ou a menos nas taxas”, diz. Por isto, ele afirma que “faz muito sentido ir comprando, mesmo que as taxas continuem subindo” por um tempo.
Seguindo essa lógica, olhar para outros indexadores também é importante. Para os prefixados, Wynalda recomenda os vencimentos mais curtos, já que esses títulos são ainda mais voláteis. Guilherme Almeida explica que, em geral, adquire esses papéis quem espera que, antes do vencimento, os juros vão cair abaixo da taxa contratada e recomenda que “quem não tem opinião sobre juros bem formada” fique de fora da classe.
Por outro lado, os analistas ainda recomendam os pós-fixados. “Com esse ciclo de alta de juros, não precisamos tomar tanto risco ou prazo para ter remuneração atrativa, então temos preferência pelos pós-fixados”, explica Schmitt.
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Autor: leonardogstos