Juros fecham em queda com declarações de Galípolo e pacote fiscal no radar
O mercado de juros operou em dois tempos nesta quinta-feira (19). A escalada das taxas vista pela manhã deu lugar a uma forte correção em baixa à tarde, que superou 70 pontos-base nas mínimas da sessão. O ajuste foi puxado por uma conjunção de fatores, entre eles declarações do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reafirmando o guidance hawkish do Copom. Ajudaram ainda na despressurização do mercado a atuação conjunta do Banco Central no câmbio e do Tesouro no mercado de títulos, além da perspectiva de finalização das votações do pacote fiscal na Câmara.
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A taxa do contrato de Depósito Intermonetário (DI) para janeiro de 2026 caiu de 15,49% para 15,06% e a do DI para janeiro de 2027, de 15,96% para 15,40%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 15,05% (de 15,64% ontem).
Entre as máximas e as mínimas, o gap das taxas dos principais contratos foi de mais de 100 pontos-base. Pela manhã, os juros davam sequência à tendência recente, de alta, com várias vencimentos rompendo o nível de 16%, diante das preocupações com a desidratação do pacote fiscal no Congresso e à pouca efetividade no primeiro leilão de venda de dólar do BC, de US$ 3 bilhões, em trazer o dólar para baixo. O Tesouro também anunciou leilões de compra e venda de NTN-B pela manhã.
Num segundo momento, quando a cotação da moeda bateu R$ 6,30, o BC fez outro leilão, mais robusto, de US$ 5 bilhões, o que levou enfim à virada da cotação para queda e os juros começaram a desacelerar a alta. A venda de US$ 8 bilhões num único dia foi recorde no histórico de atuações da autoridade monetária.
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Com o câmbio ajudando, a taxas passaram, num primeiro momento na ponta curta, a cair com declarações de Galípolo. “A fala foi importante, ao reforçar o guidance de novas altas de 100 pontos para a Selic”, afirma o estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldesntein, ponderando que, apesar do alívio, ainda há uma precificação elevada de nível de Selic na curva. No fim da tarde, a projeção de taxa terminal, que pela manhã era de 17%, no fim da tarde caía a 16,50%. Para janeiro, a precificação era de aumento de 1,5 ponto porcentual, abaixo do 1,75 ponto visto pela manhã.
Na entrevista para comentar o Relatório de Inflação (RI) do quarto trimestre, o diretor de Política Monetária disse ser “bem apegado ao guidance”. “A barra é alta para a gente fazer qualquer tipo de mudança no guidance”, afirmou.
Para dissipar quaisquer desconfianças de ingerência política, ele disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “nem do ponto de vista legal jamais chegou perto de discutir o que o Banco Central vai fazer em qualquer tipo de reunião”.
Segundo Galípolo, tanto Lula quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconhecem que existem problemas fiscais, mas o diretor avalia ser “muito difícil apresentar qualquer tipo de projeto fiscal que seja bala de prata”.
O Relatório de Inflação (RI) em si não chegou a fazer preço, com analistas considerando que houve poucas novidades em relação à ata e ao comunicado do Copom.
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No começo da tarde, o mercado começou a desovar prêmios com mais força, levando também para baixo a ponta longa, depois do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizer que a Casa “resolve hoje” a votação do pacote, com apreciação do projeto de lei e da Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Lira também disse não acreditar que as matérias fiquem para o ano que vem, já que haveria boa vontade por parte do Senado. No fim da tarde, estava aprovado em segundo turno o texto-base da PEC, por 348 a 146.
O impulso extra de baixa nos DIs veio com o anúncio do Tesouro de leilão de compra e venda de LTN. “O problema aparentemente estava nesse título, pois foi o mais bem sucedido de todos. Criou um efeito Tostines, o leilão acalmou a curva do DI e o DI fez o leilão ter sido melhor aceito”, relatou o especialista em renda fixa Alexandre Cabral, no X.
A recompra do papel, juntamente com as NTN-B de manhã, vinha sendo demandada pelos agentes, que ontem se decepcionaram com a atuação do Tesouro só com NTN-F. As LTN e NTN-B, que estão basicamente nas mãos de players locais (fundos, fundações e tesourarias), têm sido fortemente penalizadas pela disparada dos juros reais, tornando assimétrica a relação entre compradores e vendedores no secundário.
Assim, o Tesouro acaba exercendo o papel de comprador de última instância, tendo trazido hoje ofertas robustas nas operações de resgate antecipado. Ainda que tenha comprado apenas uma pequena parte, essa sinalização ajuda a tranquilizar o mercado.
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A instituição se dispôs a recomprar 20 milhões de LTN, mas adquiriu 7,350 milhões. Na venda, com lote total de 4 milhões, não aceitou nenhuma proposta. Nas NTN-B, recomprou 274.100, muito pouco do lote de 12 milhões, e vendeu 90 mil, dos 1,2 milhão ofertado.
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Autor: Estadão Conteúdo