‘Cade mexicano’ toma medidas contra domínio do Mercado Livre; analistas não veem grandes impactos
A preocupação com o cenário concorrencial das empresas de varejo de e-commerce não é um tema apenas no Brasil, como também em outros países como o México, com potencial para afetar gigantes do setor.
Na última terça-feira (13), o regulador antitruste mexicano, o Cofece (espécie de Cade do México), informou ter identificado preocupações com a falta de concorrência no mercado, onde Amazon (AMZO34) e Mercado Livre (MELI34) dominam mais de 85% das transações.
O relatório preliminar destacou a formação de efeitos de redes (network effects) entre sellers e usuários em e-commerces, limitando a entrada de novos concorrentes no mercado e representando um desafio praticamente insuperável para os pequenos players.
O tempo e custo para desenvolver as ferramentas tecnológicas, estoques operacionais e publicidade necessária para competir com esses gigantes, além da concentração de compradores e vendedores em torno de um único marketplace, conhecido como “singlehoming”, também aparecem como barreiras de entrada.
O órgão recomendou que o governo ordene às duas gigantes do varejo a implementação de um programa de “medidas corretivas” dentro de seis meses, incluindo maior transparência para os prestadores de serviços e separação dos serviços de streaming da adesão ao marketplace.
O Mercado Livre disse que estava analisando o relatório preliminar da Cofece e prometeu sua cooperação. No entanto, ressaltou que, mesmo que o conselho diretivo da Cofece emita uma resolução formal, isso não implicará em sanções econômicas, já que nenhuma investigação sobre práticas monopolistas foi lançada.
Para os analistas de mercado, a visão positiva para as ações do Mercado Livre continua mesmo com o “cerco se fechando” no México, que corresponde a cerca de 20% das receitas da empresa (Brasil corresponde a mais da metade e a Argentina a cerca de 22%).
“Vemos o e-commerce no México como um mercado competitivo e acreditamos que o Mercado Livre está bem posicionado para crescer no país, mesmo que as soluções propostas entrem em vigor. Para soluções específicas, observamos que o programa de fidelidade MELI+ e o serviço de streaming Mercado Play estão em estágios relativamente iniciais de adesão e, portanto, não esperaríamos um obstáculo significativo na separação dessas ofertas voltadas ao consumidor”, avaliam os analistas do Morgan Stanley.
Quanto à logística, o banco americano vê que a força da rede do Mercado Livre pode ser sustentada por seu próprio mérito, evidenciado por quase 80% de remessa em dois dias e percentual de entrega acima de 50% no mesmo dia ou no dia seguinte (em toda a empresa). “Como tal, não acreditamos que as soluções propostas irão pesar significativamente no fosso competitivo”, aponta o banco americano.
A Genial Investimentos também cita que as medidas propostas não devem ter um impacto relevante na posição do Mercado Livre, levando em consideração que o MELI+ e o Mercado Play ainda estão em estágios iniciais de adoção, sugerindo que separá-los das atividades principais provavelmente não terá um impacto significativo. “Além disso, considerando a eficiência da rede logística do Mercado Livre em comparação com outras opções, é improvável que as alternativas logísticas possam competir de forma eficaz”, reforça.
O Morgan ainda cita que, no país latino-americano, há concorrência com a Amazon e Walmex, enquanto a Temu está iniciando as operações, o que mostra que o mercado ainda tem espaço para novos participantes. Esse último movimento também ajuda a refutar um caso mais amplo em torno da anticoncorrência no e-commerce do México.
“Reiteramos nossa visão construtiva sobre a oportunidade de crescimento do Mercado Livre no México e temos recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente á compra)”, reforça o Morgan, que tem a ação (negociada na Nasdaq) como top pick do e-commerce na América Latina, com preço-alvo de US$ 2.065, um potencial de valorização de 18% frente o fechamento da véspera. A Genial tem recomendação de compra para o BDR (recibo de ações negociado na B3 de empresas listadas no exterior) MELI34, com preço-alvo de R$ 72,21 (ainda que um valor 10% menor do que o registrado na véspera).
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