Argentina: o que pode arruinar os planos de Javier Milei nos próximos meses?
Rephrase my Marina Pera é analista de risco político da Control Risks. Foto: Trupe
Após completar os 100 primeiros dias de governo, o presidente da Argentina, Javier Milei, já deu mostras de que aceita e consegue amenizar o discurso inflamado de ‘anarcocapitalista’, uma retórica que, de certa forma, foi responsável por sua eleição à Casa Rosada.
No entanto, dentro e fora do país, as dúvidas entre investidores, empresários e analistas recaem sobre a capacidade de articulação política do economista, que ganhou fama nacional participando de programas vespertinos de televisão.
Saber negociar com partidos da centro-direita e, em certa medida, com parte da centro-esquerda peronista será, a partir de agora, um instrumento obrigatório para transformar seu atual capital político, ainda grande, mas em queda, em munição para aprovar as muitas e profundas reformas econômicas, já encaminhadas para o Congresso.
Essa foi a avaliação dos entrevistados de março do PodInvestir, podcast de economia e finanças original da Inteligência Financeira. Entrevistados pelo jornalista Renato Jakitas, a analista de risco político Marina Pera, e o gestor da asset argentina Fundamenta, Nicolas Poletti, deram o tom do desafio. Confira a entrevista abaixo.
“O (Javier) Milei tem o apoio popular. Ele foi eleito com 56% dos votos, foi o presidente melhor eleito desde a redemocratização de 1983. E agora ele está em torno de 52% de apoio. Ele tem o apoio popular, mas ele não tem o apoio político para seguir adiante com as propostas dele”, afirma Marina Pera.
Milei assumiu a presidência com a proposta de reformar a economia, reduzir gastos públicos e cortar privilégios para políticos e funcionários públicos. Ele apelidou esse plano de terapia de choque, um projeto de estabilização centrada em políticas de austeridade.
Logo em seu segundo dia de mandato, desvalorizou o peso argentino em 54%. E anunciou uma meta de ajuste fiscal de 5% do PIB até o final de 2024.
Também apresentou ao Congresso um conjunto com mais de 600 medidas para desregulamentar ampla variedade de setores, como trabalhista, comercial, imobiliário, aeronáutico e social.
Uma parte do plano foi negado pelo Senado. Outra parte segue em tramitação, mas sem acordo dos congressistas. Na práticas, suas reformas chegam a esses 100 dias na estaca zero.
“A população argentina, em geral, concorda com o diagnóstico dele de que realmente existe um problema fiscal na Argentina que precisa ser resolvido. E que envolve altos custos sociais”, afirma a analista política Marina Pera.
“Então, a pergunta é quanto tempo vai durar essa resiliência do argentino em suportar os efeitos, principalmente de curto prazo, do plano de estabilização econômica”, diz.
Segundo Nicolas Poletti, da Fundamenta, Milei enviou um recado ao mercado convidando nomes moderados para formar o núcleo duro de sua política econômica.
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