Colunistas

Marcação a Mercado: Por que a Renda Fixa Varia?

Muitos clientes me questionam quando desejam sacar antecipadamente um título de renda fixa e percebem que o valor de mercado é diferente do valor de resgate. Mas se a renda é fixa, por que recebi mais/menos do que estava marcado no acruamento da curva?

Ao investir em produtos financeiros, como títulos públicos, CBDs, CRIs, CRAs ou COEs, estamos contratando uma taxa de remuneração estipulada para aquele título pelo emissor no momento da emissão, conhecido como Mercado Primário. Ao fim do prazo de vencimento do ativo, a taxa acordada será honrada. No entanto, muitas vezes, o investidor não deseja manter o título até o vencimento e opta por liquidá-lo de forma antecipada. Nesse caso, embora o emissor só honre o título no vencimento, outros investidores podem estar interessados em adquiri-lo a um preço justo, criando assim o Mercado Secundário.

A compra de um título no mercado secundário é baseada em um preço justo, refletindo as condições atuais de mercado. Por exemplo, podemos considerar a negociação de Contratos de Juros Futuros (DI) para ilustrar isso.

Um Contrato de Juros Futuro tem um valor de face pré-determinado e fixado no vencimento, em R$ 100.000,00 por Preço Unitário (PU). O investidor pode adquirir esse contrato por um valor de PU inferior ao do vencimento, garantindo assim um ganho definido. Em abril de 2024, se um investidor deseja comprar um contrato de DI com vencimento em 6 anos, ele precisaria adquirir o DI1F30, negociado a uma taxa de 11,23% ao ano. Isso significa que o valor a ser desembolsado por PU é de R$ 54.480,55 para que, em 6 anos, se torne R$ 100.000,00.

Cotação de Compra de DI1F30 a Taxa de 11,230.

Agora, considerando que o investidor tenha adquirido esse contrato e o tenha mantido por um ano, qual seria o valor de mercado desse título se a taxa permanecer inalterada? Para fins de análise, vamos comparar a aquisição do DI1F30 (com vencimento em 2030) com a venda do DI1F29 (com vencimento em 2029), pois isso reduziria um ano no prazo de vencimento do mesmo contrato de R$ 100.000,00.

Comparação entre a Cotação Compra de DI1F30 e DI1F29 a Taxa de 11,230.

O valor de venda de um Contrato DI1F29 está em R$ 60.547,55, enquanto o valor de compra de um contrato DI1F30 está em R$ 54.480,55, com uma taxa de 11,23% ao ano. Isso implica que ao manter o contrato de DI por um ano, à taxa mencionada, resultará em um ganho de capital de R$ 6.067,00, correspondente à taxa contratada.

À primeira vista, o investidor pode considerar a situação ideal, pois está recebendo a taxa contratada. No entanto, é importante ressaltar que diversas mudanças no cenário econômico podem afetar essa taxa contratada, tais como o crescimento econômico, inflação e taxas de juros internacionais. É crucial observar a variação das taxas de negociação do DI1F30 ao longo dos últimos 4 anos:

Oscilação da Cotação da Taxa de DI1F30 em 4 anos.

Vamos considerar dois cenários: no primeiro, uma redução da inflação e um alto grau de confiança fiscal resultam em uma taxa de negociação de 8,50%; no segundo cenário, uma maior desconfiança fiscal e altos índices de inflação elevam as taxas de negociação para 14,00% após um ano.

Ao ser cotado a uma taxa de venda de 8,50%, o valor do PU passará a ser R$ 68.072,88, um valor superior. Isso ocorre porque o mercado está disposto a pagar mais para obter os mesmos R$ 100.000,00 devido à confiança no cenário econômico, tornando uma taxa de juros de 8,50% atrativa. A diferença de R$ 7.525,33 entre a taxa de 11,23% e 8,50% representa o ágio que o mercado está pagando pelo contrato, devido à readequação da nova taxa ao mercado.

A taxa de juros que foi contratada no passado é maior do que a taxa que o mercado está praticando agora, o que significa que o investidor ganhará mais do que apenas o carrego. Se o investidor desejar encerrar sua posição após um ano nesse cenário, o resultado será de R$ 13.592,25, um valor muito superior à taxa contratada.

Comparação e Cotação da Compra de DI1F30(29) após 1 ano a Taxa de 8,500.

Ao observar a elevação da taxa de juros, nota-se que o valor do PU “desaba”, refletindo a baixa confiança na economia. O mercado passa a exigir uma alta taxa de remuneração dos recursos, resultando em um valor de negociação do mesmo título após um ano de carrego de R$ 53.918,06, inferior ao aportado inicialmente. Isso indica que a taxa praticada no mercado é muito mais atrativa do que a presente no seu portfólio. Se desejar se desfazer antecipadamente do contrato, enfrentará um deságio de R$ 6.629,49, resultando em um prejuízo de R$ 562,49 na operação no período de um ano, caso seja encerrada.

Comparação e Cotação da Compra de DI1F30(29) após 1 ano a Taxa de 14,000.

Mas então, estou propenso a perder dinheiro investindo em renda fixa que possui taxas de remuneração pré-acordadas? Não! Como mencionado no início deste artigo, a taxa de remuneração será honrada desde que o prazo de carrego também seja respeitado. Independentemente da taxa de aquisição do DI, ele sempre encerrará em R$ 100.000,00 no vencimento, de forma que a variação do PU fora da curva de carrego represente apenas a diferença entre o valor que você possui e a nova taxa de mercado.

Este racional se aplica a todos os ativos que possuem uma data de vencimento e uma taxa de remuneração acordada pelo emissor, não se limitando apenas aos contratos de DI que foram ilustrados no estudo.

Vinícius Funaro

Formado em Administração de Empresas pela ESPM/SP em 2009, ocupo a posição de Líder Comercial em um escritório de assessoria de investimentos, onde desempenho um papel crucial na orientação e liderança da equipe. Meu foco principal é no relacionamento e prospecção de clientes que buscam investir seus recursos de maneira confortável e alinhada ao seu perfil de risco.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo