Investidor evita ações por receio de intervenção política e taxas de juros mais altas pelo Fed
Os investidores estão mais pessimistas com as ações brasileiras à medida que os receios de interferência política em empresas e mais gastos governamentais se somam ao menor apetite por ativos de risco com as perspectivas de taxas de juros mais altas pelo Fed.O Banco Santander, que era um dos bancos mais otimistas com as ações brasileiras para o final de 2024, cortou sua meta para o Ibovespa de 160.000 para 145.000 pontos. Uma enquete mensal do Bank of America com gestores de fundos de ações da América Latina mostrou que apenas 19% dos entrevistados esperam que o índice termine o ano acima de 140.000 – bem abaixo dos 63% de janeiro.Embora as principais razões para o pessimismo sejam externas – quase 80% dos entrevistados na enquete do BofA afirmaram que as taxas de juros mais elevadas em EUA são o maior risco para os mercados latino-americanos – os investidores têm muito com que se preocupar na esfera local. Uma meta fiscal menos ambiciosa para 2025, o impacto ainda pouco claro das enchentes no Rio Grande do Sul sobre as despesas públicas e a demissão surpresa do presidente da Petrobras feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva abalaram os mercados nas últimas semanas.LEIA MAIS: Petrobras: uma aula de como perder a confiança do mercadoFoto: Adobe Stock Photo“A destituição do CEO da Petrobras e alguns outros sinais de níveis crescentes de intervenção do governo Lula não ajudam na confiança dos investidores”, disse Christine Phillpotts, gestora para mercados emergentes na Ariel Investments em Nova York. “Vemos isso como um vento contrário que, francamente, nos impediria de aumentar nosso posicionamento no Brasil.”Depois de comprarem as ações brasileiras em ritmo acelerado no final de 2023, em meio a uma recuperação generalizada dos ativos de risco, os investidores estrangeiros retiraram dinheiro do mercado local todos os meses entre janeiro e abril, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.Embora as entradas tenham aumentado modestamente em maio, os R$ 1,4 bilhões (US$ 272 milhões) adicionados até a última segunda-feira comparam-se com mais de R$ 34 bilhões (US$ 6,6 bilhões) de saídas nos primeiros quatro meses do ano.O Ibovespa caiu quase 6% neste ano, uma das maiores quedas entre as principais bolsas globais, segundo dados compilados pela Bloomberg. O índice brasileiro oscilou em torno de 130.000 pontos durante a maior parte de 2024, se afastando do nível recorde de cerca de 134.000 conquistado no final do ano passado.O UBS disse que está “cauteloso” com as ações locais, apesar dos valuations deprimidos. As perspectivas de ganhos para ações brasileiras estão entre as mais fracas nos mercados emergentes, escreveu em nota Alejo Czerwonko, diretor de investimentos para mercados emergentes nas Américas do UBS.LEIA MAIS: Ativos brasileiros sofrem baque com receio sobre perfil do BC em 2025Mais da metade das empresas listadas no Ibovespa divulgaram lucros no primeiro trimestre