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Vício em bets é reflexo da falta de educação financeira no Brasil

Nas últimas semanas, a prisão da influenciadora e advogada Deolane Bezerra – entre outros aspectos noticiados com as operações policiais que vêm sendo feitas para investigar apostas online, as famosas Bets – colocou luz ao problema que o Brasil tem enfrentado em relação a esses jogos.

Como mostrou o Estadão, as Bets já movimentam R$ 100 bi no País, tirando dinheiro do consumo e causando preocupação ao varejo. Em junho, uma enfermeira de 23 anos teve problemas psicológicos e desapareceu até para a sua família após contrair dívidas para jogar o “Jogo do Tigrinho”.

Durante um painel da Conferência Anual Santander deste ano, o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento, chegou a afirmar que os jogos “não vão esvaziar o mercado de capitais, como alguns disseram”, mas vão “esvaziar a geladeira dos brasileiros”.

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Nas salas de aulas de escolas públicas de diversos pontos do País, onde a Multiplicando Sonhos atua levando aulas de educação financeira, tem me preocupado o quanto os adolescentes já têm aderido a esses jogos – aos quais eles chamam de “investimento”.

Por um tempo, me perguntei: como podem essas pessoas acreditarem nesses influenciadores, que só mostram vídeos ganhando e claramente foram comprados pelas marcas? Mas, depois, entendi: essa grande adesão é reflexo da pobreza e falta de educação financeira no País.

Os principais alvos desses jogos são pessoas de classes baixa e média, que enxergam nas apostas, rifas e jogos a única oportunidade de conseguir mudar de vida. E essa vontade de “ficar rico”, junto ao universo da internet, que acelerou processos e tornou as pessoas mais ansiosas, se tornou urgente.

Leia mais: Jogo do Tigrinho e do Aviãozinho são investimentos? Entenda como funcionam

Promessa de dinheiro rápido e fácil

As pessoas que apostam em Bets querem ganhar dinheiro rápido, de forma fácil e objetiva. Querem ver o dinheiro na conta agora para comprar um tênis, um celular e ostentar. Ou, ainda, estão tão sufocadas em dívidas, não têm mais nada a perder e, nesse caso, o jogo é visto como uma oportunidade de milagre para sair das dívidas e ter uma vida digna.

Quando começam a jogar, geralmente ganham, já que os algoritmos dos jogos de azar tendem a aumentar a chance de jogadores iniciantes ganharem. Isso os torna confiantes o suficiente para jogarem mais e mais, até começarem a perder.

Estudos de psicologia comportamental e financeira mostram que a resposta à perda é muito maior que ao ganho. Por isso, quanto mais perdem, mais as pessoas se sentem mal e querem jogar novamente para tentar recuperar aquilo que perderam. Entram, assim, em um ciclo vicioso.

Leia mais: “R$ 200 mil em dívidas e depressão”: histórias de viciados em apostas online

Qual a forma de parar o vício em Bets?

Não existe resposta mágica para acabar com o vício nas Bets. É preciso investir em educação financeira: governos, escolas, mídia, instituições. Ao mesmo passo, deve-se criar políticas econômicas que ampliem o acesso à renda.

As pessoas precisam entender como funcionam os algoritmos dos jogos de apostas e quais outras possibilidades existem para se ganhar dinheiro. Precisam, também, aprender a gerenciar a ansiedade, entendendo que a construção de um patrimônio monetário é, de fato, uma construção que leva tempo.

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É preciso entender a diferença entre um investimento e uma aposta. Na aposta, a pessoa fica refém da sorte e de um algoritmo que, na grande maioria das vezes, não se sabe exatamente como funciona, pois não há transparência. O dinheiro vem das próprias apostas.

Já o mercado monetário tem regras e distribui lucro a partir da disponibilização de crédito ou do crescimento das firmas. A escolha de ativos pode – e deve – ser feita com base em conhecimento e avaliação dos ativos e seus potenciais.

Como diz a minha mãe (e aposto que a sua também), “quando as coisas são fáceis demais, desconfie”. Mesmo em casos de herdeiros, certamente a família levou anos para construir aquele patrimônio.

As chances de você ficar rico de um dia para o outro são mínimas. E se for para isso acontecer, que seja com jogos regulados, como os de loteria da Caixa, em que há transparência, apostando com moderação e sem deixar de lado investimentos e reserva de emergência.

Repitam comigo: apostas não são investimentos, apostas não são investimentos!!

Fonte original
Author: E-Investidor

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