Como ficam os investimentos com a Selic em 10,75% ao ano, na primeira alta de juros do governo Lula
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 pontos percentuais nesta quarta-feira (18). Foi a primeira alta do governo Lula. Agora, com a mudança de rota para o ciclo de cortes que ocorria desde o ano passado, o mercado também se depara com um cenário diferente para os investidores.
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A Super Quarta, data conhecida como dia de decisões monetárias no Brasil e Estados Unidos, também marcou o início dos cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) para 4,75% a 5% ao ano. Esse foi um movimento já esperado pelo mercado considerando os dados de inflação e mercado de trabalho (payroll) em desaceleração.
Trata-se do primeiro corte de juros americano desde março de 2020, que permanecia de 5,25% a 5,50% ao ano, um patamar historicamente alto. Dessa forma, o corte influencia nas decisões de política monetária do resto do mundo.
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Foi o que aconteceu no cenário doméstico: o Banco Central precisou aumentar a Selic devido ao aumento da pressão inflacionária e à instabilidade fiscal, segundo os especialistas ouvidos pelo E-Investidor.
O economista da XP, Rodolfo Margato, já previa que o Banco Central podia optar por um aumento da taxa Selic em resposta à atividade econômica mais forte do que a esperada. Segundo ele, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o aquecimento do mercado de trabalho pressionam a inflação, especialmente nos setores mais sensíveis à atividade econômica, como o de serviços. Esses fatores, diz ele, exigiram uma postura mais rigorosa por parte do Copom.
Para Margato, a recente surpresa positiva nos dados do PIB, que cresceram além das projeções iniciais, tende a ampliar o “hiato do produto” — a diferença entre o crescimento potencial e o real da economia. Esse aquecimento da economia pode manter o mercado de trabalho aquecido e pressionar os salários, elevando o risco de inflação no curto e médio prazo.
Como ficam os investimentos com a Selic a 10,75%
Para os investidores, a notícia é boa: “A redução dos juros da maior economia do mundo tende a favorecer as bolsas, por exemplo, e favorecer também uma desvalorização do dólar, já que a taxa fica menor e menos atrativa”, explica Rafael Haddad, planejador monetário do C6 Bank.
Por aqui, o cenário é inverso. O Copom mantinha a Selic no patamar de 10,50% ao ano desde maio, mas o mercado começou a apostar em um aumento nas taxas desde a indicação de Gabriel Galípolo, atual Diretor de Política Monetária do Banco Central, para a presidência do Banco Central (BC).
Além disso, há uma expectativa de fechar 2024 com o PIB em cerca de 3%, de acordo com o Boletim Focus da segunda-feira (16). O planejador da C6 revela que a projeção, quando somada a um desemprego baixo e salários mais altos, ajudam a pressionar a inflação e induzir o governo a subir juros. “Isso torna mais atrativa a taxa brasileira em relação à americana e deve favorecer o câmbio, pelo menos neste curto prazo”, indica Haddad.
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O cenário também é muito interessante para aqueles que investem em renda fixa, já que essas aplicações possuem melhores rendimentos quando os juros estão mais altos. Pensando nisso, o E-Investidor separou as projeções de rentabilidade em 12 meses de diferentes investimentos em renda fixa com a Selic atual. Vale ressaltar que as tabelas foram realizadas com a ajuda das projeções feitas pela C6 Bank.
Haddad comenta que o aumento das expectativas de Certificado de Depósito Bancário (CDI) no prazo de até um ano aumentou também as rentabilidades projetadas de quase todos os produtos para esse prazo, sendo os pós fixados – ou seja, aqueles atrelados ao CDI – seguindo como os mais atrativos em todos os prazos analisados.
Rodrigo Rocha, economista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), explica que ativos como Tesouro Direto IPCA+ e Tesouro Selic também ganham destaque nesse cenário. “Com o aumento da Selic, esses produtos atrelados à taxa de juros oferecem maior rentabilidade e menor risco, sendo opções interessantes para investidores que buscam estabilidade”, afirma Rocha.
A alta da Selic também gera um efeito adverso no mercado de ações. “Uma Selic elevada encarece o custo do crédito, impactando negativamente as firmas que precisam de financiamento para expandir seus projetos”, comenta o economista. Setores como o de consumo e imobiliário tendem a sofrer mais, devido à queda no poder de compra da população e ao aumento dos custos de financiamentos. No entanto, Rocha destaca que o setor monetário pode se beneficiar, já que as instituições financeiras conseguem aumentar suas margens de lucro com a elevação das taxas de juros.
Quanto aos ajustes necessários nas carteiras, Rocha recomenda que os investidores aumentem a exposição à renda fixa e reduzam a exposição à renda variável. “A reavaliação das estratégias é fundamental para otimizar a rentabilidade nesse contexto econômico”, diz. Ele também enfatiza a importância de monitorar a inflação e adaptar as decisões conforme as mudanças econômicas.
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O especialista da C6, Rafael Haddad, também indicou que o investidor tem buscado opções com maiores rentabilidades através da isenção fiscal, crescendo a procura por produtos como Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e debêntures incentivadas, conhecidas pela isenção do Imposto de Renda (IR).
O CEO da Nau Capital, Maurício Valadares, observa que, no cenário atual, a renda fixa brasileira oferece uma melhor relação risco-retorno em comparação com a renda fixa internacional, que havia sido mais atraente meses atrás. “A curva de juros nos Estados Unidos já precifica cortes, com a taxa terminal abaixo de 3%, o que limita os ganhos futuros. A renda fixa local, por outro lado, parece mais vantajosa em termos de preço e risco”, explica.
No entanto, ele alerta que, apesar dos pontos positivos, os investidores devem tomar cuidado ao apostar em crédito privado. “Com os juros subindo, o risco de inadimplência aumenta, especialmente em setores mais sensíveis como o imobiliário e o de consumo”, diz. Embora a economia brasileira venha mostrando crescimento no PIB e queda no desemprego, as firmas altamente endividadas podem enfrentar dificuldades para lidar com os custos crescentes do financiamento, segundo ele.
Diante disso, o CEO ressalta a importância da diversificação em um portfólio, mas reforça que é preciso cautela ao investir em firmas que possam não ter a capacidade de navegar em um cenário de Selic mais alta.
Confira as projeções:
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O que pressionou o Banco Central a considerar uma alta de juros na reunião do Copom?
- Mercado de trabalho dinâmico: com a taxa de desemprego atingindo seu ponto mais baixo em 15 anos e um aumento nos salários reais, o cenário pode intensificar as pressões inflacionárias, especialmente no setor de serviços, que é altamente dependente da força de trabalho.
- Crescimento econômico superando expectativas: a atividade econômica tem se mostrado mais potente do que o previsto, com projeções de crescimento do PIB para 2024 sendo revisadas para cima. Esse crescimento, impulsionado por uma demanda interna forte, pode elevar a demanda agregada e, consequentemente, pressionar os preços para cima.
- Desvalorização da taxa de câmbio: a queda do valor do real em relação ao dólar ao longo do ano está elevando os custos de produção, especialmente para bens industriais que dependem de insumos importados. Essa pressão sobre os custos tende a ser repassada para os preços ao consumidor, influenciando a inflação.
Leia mais: O que acontece com a poupança se a Selic subir na próxima reunião do Copom?
Veja os setores da economia mais afetados pela alta dos juros
- Setor imobiliário: o aumento nas taxas de juros eleva o custo dos financiamentos, o que pode reduzir a demanda por imóveis e, por conseguinte, afetar negativamente firmas do setor, como construtoras e incorporadoras.
- Setor de bens duráveis: o consumo de bens duráveis, como veículos e eletrodomésticos, também é altamente sensível às mudanças na taxa de juros, uma vez que essas compras frequentemente dependem de financiamento. Com o encarecimento do crédito, a demanda por esses bens tende a diminuir, prejudicando as firmas que atuam nesse segmento.
- Setor de varejo: o aumento no custo do crédito, ocasionado pela alta da Selic, e a possível queda na confiança do consumidor podem resultar em menor consumo. Isso pode afetar negativamente as vendas e o faturamento das firmas varejistas.
Fonte: Vinícius Moura, da Matriz Capital
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Author: E-Investidor