Detentores de CRAs da AgroGalaxy vão ficar no prejuízo? Entenda o que pode acontecer

As ações da AgroGalaxy (AGXY3) despencam nesta quinta-feira (19) após anúncio na véspera de pedido de recuperação judicial. Os Fiagros que investem em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) emitidos pela firma também sofrem desvalorização hoje.

Diante deste cenário caótico, o investidor que tem papéis da AgroGalaxy – direta ou indiretamente, via fundos – ou CRAs emitidos pela companhia já se questionam sobre possíveis prejuízos.

Advogados consultados pelo InfoMoney explicam, porém, que ainda é cedo para conhecer todos os efeitos do pedido de RJ.

Mas, “em um rito normal, esse crédito deve ser pago ao mesmo tempo que outros previstos no plano de recuperação”, diz Carlos Ferrari, sócio do escritório NFA, especializado em mercado de capitais e setor imobiliário.

Ainda em um mundo ideal, acrescenta ele, “as estruturas devem ser capazes de reduzir e até eliminar os riscos de uma recuperação judicial”. 

CRA da AgroGalaxy

Apesar do estresse do mercado, Gustavo Rebello, sócio de mercado de capitais do Souza Okawa, considera o CRA emitido pela AgroGalaxy como uma operação “bem estruturada, feita por uma securitizadora com ótima reputação”. A Vert Securitizadora é a firma responsável pela estruturação do ativo.

“Tenho certeza que fizeram com que garantias sólidas e robustas fossem constituídas no ato da emissão, como parte do patrimônio separado”, completa. 

O patrimônio separado é uma parte importante na execução de garantias dos CRAs. Um agente fiduciário fica responsável por controlar esse patrimônio para coordenar a execução das garantias.

Nesta quarta-feira, a Vert emitiu um fato relevante comunicando o vencimento automático do CRA da AgroGalaxy, mecanismo que torna obrigatório o pagamento imediato de todas as obrigações futuras do devedor. 

A execução do vencimento automático é comum, mas pode ter entraves: “a firma pode conseguir no judiciário que cláusulas de vencimento antecipado não sejam cumpridas”, esclarece Ferrari.

Mesmo com garantias, o risco de inadimplência ainda existe. “A preocupação de detentores de CRAs da AgroGalaxy é absolutamente válida, uma vez que a probabilidade de pagamento prometida parece estar se revelando ilusória”, analisa Atahualpa Padilha, economista e advogado da Benício Advogados.

Ele explica que, aparentemente, a vendedora de insumos agrícolas quer deixar de realizar pagamentos por 60 dias, prazo que pode ser esticado por mais 180 dias. 

Investimentos em CRAs e CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) são isentos de Imposto de Renda, mas não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), já que não são emitidos por instituições financeiras. 

Rebello também admite que “detentores de CRAs devem ter perda de rentabilidade com a firma apresentando problemas de dívida”. Entre os detentores, os Fiagros, especializados em CRAs são diretamente impactados.

Levantamento do InfoMoney mostrou que a exposição desses fundos a títulos da AgroGalaxy chega a 8,29% das carteiras. 

Fiagros perderão investidores?

Para Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, a tese de investimentos em Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, grandes detentores de CRAs, perde força e não é um momento oportuno para investir nesses fundos, “já que têm portfólios pouco pulverizados e com baixa liquidez”.

O especialista ainda alerta que o agronegócio atravessa uma fase desafiadora, com custo alto do frete, Selic alta encarecendo as dívidas e vulnerabilidade às oscilações de commodities. 

“Não compensa a relação entre risco e retorno”, conclui Belitardo, sobre os Fiagros. Ele coloca debêntures incentivadas, bonds americanos e FIDCs (Fundos de Investimento em Direito Creditório) como instrumentos melhores para o momento. 

Padilha também admite que o investimento no agronegócio tem risco elevado agora, mas pondera dizendo que ainda “será necessário verificar se o cenário econômico impactará de forma semelhante e duradoura outros atores do setor”.

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