Ainda é cedo para Petrobras reavaliar preços por alta do petróleo, dizem analistas
O mercado internacional de petróleo segue pautado pela escalada de tensão no Oriente Médio. Desde que o Irã bombardeou Israel na terça-feira (1º), o barril do Brent, a referência internacional, acumula alta de aproximadamente 8%. Só na quinta-feira (3), o salto foi de mais de 5%, na maior variação em quase um ano.
O aumento do petróleo no mercado global gera expectativa de impactos nos preços dos combustíveis nas bombas brasileiras.
Em nota à CNN, a estatal confirma que acompanha os desdobramentos do conflito e os movimentos do mercado. “Por questões concorrenciais, [a Petrobras] não pode antecipar suas decisões. [Mas], até o momento, não há alteração nos fluxos comerciais da companhia”, pontua a petroleira.
Em 2023, a Petrobras abandonou a política de paridade de preços internacionais, pela qual equiparava os preços dos combustíveis produzidos em suas refinarias aos do exterior.
A nova estratégia, de acordo com a própria firma, busca praticar preços competitivos frente a outras alternativas de suprimento, diminuindo o impacto da volatilidade do mercado internacional e proporcionando estabilidade ao equilibrar as cenas doméstica e global.
E é exatamente isso que especialistas ouvidos pela CNN apontam: agora é um momento de volatilidade, no qual, apesar do temor no exterior, a preocupação só deve ressoar no mercado doméstico se o conflito escalar novos degraus.
“Se os últimos meses podem servir de parâmetro, a chance da Petrobras fazer um reajuste é baixa. Na sua comunicação, ela deixa bem claro que não pretende repassar a volatilidade momentânea dos mercados”, aponta Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus.
Eberaldo de Almeida Neto, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), observa que a estatal espera entre dois e três meses para verificar se a flutuação dos preços no mercado de fato se comprovam como uma nova tendência.
Além disso, ele indica que a variação do câmbio tem norteado mais as decisões da Petrobras do que a do preço do barril de petróleo.
“Mesmo com a desvalorização recente do real, o preço baixo do barril conseguiu se manter por conta da economia mundial”, aponta o ex-presidente do IBP.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022, levando o petróleo a ultrapassar a marca de US$ 100 o barril, a produção de países como Brasil e Estados Unidos aumentou, enquanto a demanda mundial caiu, puxada principalmente pelo movimento fraco da China.
Essa lógica de oferta elevada e demanda baixa ajuda a manter o preço do barril do petróleo em níveis mais baixos.
Nos últimos três dias de alta do petróleo, o próprio movimento de quarta-feira (2) foi mais suave por conta de dados indicando a oferta elevada no mundo.
“Isso tudo gerava um cenário do preço abaixo de US$ 70 ser o novo normal”, pontua Neto.
A pressão só deve ficar maior para o Brasil se a situação escalar ainda mais no Oriente Médio. Mas até lá, a Petrobras ainda tem folga antes de reajustar seus preços, segundo Sérgio Araujo, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
“Como os preços do petróleo e de seus derivados tiveram reduções nos últimos tempos, os preços praticados pelas refinarias da Petrobras estão alinhados com a paridade para importação. Desta forma, ainda não existe pressão para aumento de preços”, defende Araujo.
De acordo com a Abicom, a defasagem de preços nos polos de refino da Petrobras eram de 2% para o diesel e de 1% para a gasolina nesta quinta.
“O mercado tem estado com preços muito voláteis. Devemos aguardar a estabilização para depois avaliar possíveis impactos nos preços no mercado brasileiro”, pontua o presidente da Abicom.
Temor com escalada
Boutin, da Argus, reforça que, caso a situação não se agrave, os fundamentos de oferta e demanda no médio e longo prazo devem voltar a dar o norte ao preço do petróleo.
Com agravamento da situação no Oriente Médio, porém, as cotações devem se manter pressionadas.
O Irã foi o sétimo maior produtor da commodity em 2023, de acordo com dados compilados pelo IBP. Com a promessa de retaliação por Israel, há temores de que refinarias, rotas de exportação, dutos e campos possam ser atingidos, afetando as receitas do país, pontua Eberaldo de Almeida Neto.
“Essa tensão começa a preocupar o mercado. Antes, a gente tinha os problemas mais restritos à Palestina e Israel, mas com a escalada envolvendo diretamente o Irã, já estávamos vendo uma escalada no preço podendo ficar acima de US$ 80”, conclui o ex-presidente do IBP.
Ele reforça que a atual gestão da Petrobras tem sido “bastante cautelosa” para reajustar preços, mas aponta que se a situação persistir, o aumento será inevitável.
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Autor: joaonakamura