Fundos de ações não captaram a alta da Bolsa, diz CEO da Sparta
A valorização de 6,38% do Ibovespa, principal índice da B3, no acumulado do terceiro trimestre deste ano não foi o suficiente para atrair novos investidores para os fundos de ações. Segundo dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados monetário e de Capitais (Anbima), a captação líquida desses produtos encerrou os meses de julho e agosto com perdas de US$ 4,4 bilhões e de US$ 2 bilhões, respectivamente.
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Para Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, gestora de investimentos com R$ 15 bilhões sob gestão, esse comportamento reflete a percepção dos investidores sobre a relação risco e retorno da Bolsa de Valores, o que resulta em um menor interesse por fundos de ações. “Quando observam a rentabilidade versus a volatilidade da Bolsa, não enxergam um investimento atrativo”, ressaltou Nehmi em entrevista ao E-Investidor.
O momento permanece desfavorável para os ativos de renda variável com o risco fiscal do Brasil diante das incertezas sobre a capacidade de o governo cumprir com as metas fiscais de 2024 e dos próximos anos. Isso abriu espaço para o surgimento dos títulos públicos indexados ao IPCA com ganhos reais de 6% em abril, além de forçar o Comitê de Política Monetário (Copom), do Banco Central (BC), a retomar o ciclo de aperto monetário na reunião de setembro.
Agora, com uma Selic a 10,75% e novas perspectivas de alta até o fim do ano, os títulos públicos concentram ainda mais a atenção dos investidores. A situação não impacta apenas os ativos de renda variável. Alguns investimentos de crédito privado também devem sofrer consequências com a nova dinâmica do mercado. “Quando olhamos para esse cenário, a situação das firmas de melhor qualidade não nos preocupa. Já para as firmas high yield (menor nota de crédito), qualquer elevação dos juros tende a ter um impacto mais significativo”, informou Nehmi.
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E-investidor – A retomada do ciclo de alta da Selic pode retirar a atratividade do mercado de crédito privado nos próximos meses?
Ulisses Nehmi – Por fundamentos, a alta da Selic atrapalha o risco de crédito. Então, podemos dizer que quanto maior for a taxa de juros, maior será o valor a ser destinado para o pagamento de credores. Isso reduz a margem de segurança porque o risco de crédito aumenta um pouco. Por outro lado, o mercado precifica que esse novo ciclo de aperto monetário tenha uma duração curta, tanto em tempo de duração quanto em magnitude. Então, quando olhamos para esse cenário, a situação das firmas de melhor qualidade não nos preocupa. Já para as firmas high yield (menor nota de crédito), qualquer elevação dos juros tende a ter um impacto mais significativo.
Por que a Sparta ainda mantém a decisão de fechar a captação de alguns fundos de crédito privado?
Fechamos a captação ao longo do primeiro semestre porque vimos uma demanda muito forte e o grande problema seria alocar uma grande quantidade de recursos de forma muito rápida. E não iríamos conseguir realizar isso no preço que gostaríamos. Se algum outro fundo não estiver fechado, iremos fechar também caso tenhamos uma aceleração grande de captação. Não queremos volumes muito grandes de captação porque crédito e velocidade não combinam.
Com a expectativa de uma Selic a 12% no fim de 2024, como a Sparta pretende gerir a alocação dos fundos de crédito para competir com os títulos públicos?
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O investidor que procura o maior nível de segurança possível vai para os títulos públicos. Já aquele investidor que topa um pouco mais de risco para ganhar um retorno ainda maior costuma ir para os fundos de crédito. Nós buscamos retornos superiores aos títulos públicos. Para mitigar esses riscos e conseguir essa rentabilidade, há fundos com mais de 200 emissores diferentes e, para isso, contamos com uma equipe grande para avaliar os riscos de crédito.
Os fundos multimercados foram os mais penalizados em 2024 entre os tipos de fundos de investimentos. Há chances de uma recuperação diante do interesse dos investidores com a retomada do ciclo de alta da Selic?
Quando olhamos para a classe de multimercados de um modo geral, o desempenho deles nos últimos dois anos tem sido aquém do CDI e, por isso, os investidores estão desiludidos em relação a esses fundos. Isso pode mudar, mas atualmente temos visto um fluxo de saída. Na Bolsa, acontece algo curioso. Vimos uma valorização, mas os fundos de ações não captaram esse movimento. Para mim, isso é um sintoma da percepção dos investidores sobre a relação do risco retorno. Isso acontece porque a alta da Selic joga contra os fundos de ações. Quando olham para a rentabilidade da Bolsa versus a volatilidade, não enxergam um investimento atrativo.
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Autor: Daniel Rocha