Água de luxo contaminada com fezes levanta debate sobre investimentos no setor
A renomada marca de água mineral de luxo, Perrier, símbolo de sofisticação e qualidade francesa, está enfrentando uma crise que coloca em xeque sua reputação e levanta questões sobre a sustentabilidade da indústria global de água engarrafada e investimentos deste setor.
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Recentemente, vestígios de matéria fecal foram encontrados em um dos poços usados pela firma para a captação de água em Vergèze, no sul da França, após fortes chuvas. Como consequência, a Perrier suspendeu o uso do poço e destruiu mais de dois milhões de garrafas.
Conforme nota da Bloomberg, essa não é a primeira vez que a Perrier lida com escândalos envolvendo a qualidade de sua água. Em 1990, um recall global foi realizado após a detecção de benzeno em suas garrafas, resultando na retirada de 160 milhões de unidades das prateleiras de 120 países.
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Atualmente, a marca enfrenta uma ameaça que pode ter impactos ainda mais profundos, com a crescente contaminação de lençóis freáticos na França, um dos países que mais utilizam pesticidas no mundo.
Problemas ambientais e regulamentações da água de luxo
A proprietária suíça da marca, Nestlé S.A (NESN), aceitou pagar uma multa de € 2 milhões, aproximadamente R$ 12,1 milhões, para resolver um caso alegando que utilizava métodos de filtração ilegais na França para águas minerais naturais.
Em meio a avaliação de qualidade do produto, a companhia reiterou que a segurança e qualidade da Perrier são garantidas, mas admitiu que filtra a água há bastante tempo para cumprir as regras francesas.
No entanto, a Nestlé não é o único grupo com um negócio de água problemático. Ainda segundo a Bloomberg, embora a rival Danone S.A (BN), que possui marcas como Evian e Volvic, obtenha sua água nos Alpes e na região de Auvergne, na França, onde os efeitos das mudanças climáticas não são tão agudos, ela enfrentou processos na Europa e nos EUA acusando-a de poluição plástica e greenwashing.
Vale citar que, embora o mercado de água engarrafada deva crescer 4% ao ano até 2026, a Euromonitor espera que secas recorrentes e até mesmo tumultos por água estejam tornando a indústria cada vez mais problemática.
Segundo Sophie Dubois, gerente geral da Nestlé Waters France, a firma implementou medidas para garantir a higiene e a segurança alimentar, mas as alterações climáticas e a possível contaminação crônica permanecem como desafios constantes.
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Apesar disso, com as mudanças climáticas afetando a produção e a crescente pressão por práticas mais sustentáveis, a Perrier e outras marcas de água de luxo enfrentam o desafio de se adaptar e evitar impactos mais sérios no setor.
Setor do investimento em água
O caso trouxe à tona a discussão sobre investimentos no setor da água e a possível necessidade de tal para produtos com maior qualidade – até mesmo os considerados de luxo. Vale citar que este tipo de investimento já é possível, pois na Nasdaq (bolsa de valores dos Estados Unidos), por exemplo, a água tem contratos futuros sendo negociados. Enquanto no Brasil há fundos de investimentos que permitem investir em firmas globais que atuam na preservação e fornecimento de recursos hídricos.
Ainda de acordo com a matéria citada acima, quem quiser aplicar seus recursos em água pode comprar ações de firmas de saneamento, fundos de investimento voltados à água ou fundos temáticos que replicam ETFs negociados no exterior.
Um exemplo é o BNP Paribas Asset Management que oferta, desde 2008, um fundo que aplica recursos em 49 ações internacionais, destinadas a companhias de saneamento, infraestrutura e serviços, priorizando atividades como descontaminação, reciclagem e transporte.
Engana-se quem pensa que não existem investidores com tais fundos em sua carteira. Isso porque, de acordo com Henri Rysman de Lockerente, portfólio manager da BNP, o fundo da companhia em que trabalha vem atraindo novos investidores nos últimos anos.
Segundo dados do fim de fevereiro de 2022, o fundo tinha 3,4 bilhões de euros sob gestão e rendeu, nos últimos cinco anos, 13,13% ao ano, contra 9,91% para o MSCI World (NR) EUR, seu índice de referência.
Por que investir em água?
Investir em água por meio de fundos e projetos de saneamento pode ser extremamente vantajoso, tanto do ponto de vista social, quanto monetário. Além de ser uma boa forma de começar a investir, já que estes investimentos são menos voláteis do que contratos futuros, por exemplo, e funcionam com uma rentabilidade semelhante ao praticado no mercado.
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Um dos benefícios potenciais de tal investimento é que se trata de algo que será sempre essencial para a subsistência humana e de muitas indústrias.
“Hoje a água ainda é uma aposta no mercado de capitais, mas esta é uma excelente opção de diversificação. Com o aumento da demanda em um futuro próximo, o valor desse fundo ou ação tende a valorizar acima da média. E não só pela rentabilidade: ao investir em água a pessoa física o cidadão está aplicando recurso em algo que será utilizado para garantir o acesso à água potável”, diz Pablo Carpejani, economista e coordenador do curso de sustentabilidade firmarial da PUC-PR, entrevistado para matéria do E-Investidor.
Colaborou: Renata Duque.
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Autor: Jéssica Anjos