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Oração, criptomoedas e celebridade: a história de um golpe de R$ 220 milhões

Oração, criptomoedas e celebridade: a história de um golpe de R$ 220 milhões

Há cerca de quatro anos, um antigo colega de trabalho do aposentado Ailton Martins de Oliveira, 60 anos, indicou um suposto investimento promissor de uma firma de criptomoedas. Sem muito conhecimento sobre o mercado monetário, Oliveira aportou R$ 220 mil em cinco parcelas, com a promessa de receber juros em cima do valor. Nos primeiros meses, ele conseguiu fazer saques de R$ 3 mil e R$ 4 mil, mas logo depois a torneira secou. “Até hoje tento recuperar o dinheiro”, contou para a reportagem.

O aposentado é uma das milhares de vítimas que, desde 2022, tentam reaver o patrimônio investido na RR Consultoria, uma firma baseada no Rio de Janeiro que afirmava trabalhar com investimento em criptoativos. Em meados do ano passado, a Polícia Federal (PF) instaurou um inquérito, que está em fase de oitiva de testemunhas, para apurar se o negócio cometeu crimes contra o sistema monetário nacional. O valor a apurar, segundo documento assinado pela delegada Paula Ortega Cibulski, é de R$ 220 milhões.

Em maio deste ano, a investigação da PF foi compartilhada também com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado de capitais. Contatada, a autarquia disse que não “comenta casos específicos”.

O início

A RR Consultoria foi criada pelo empresário Rodrigo dos Reis Teixeira como uma holding com 10 outras firmas sob o guarda-chuva. O conglomerado ofertou investimentos em criptomoedas entre os anos de 2020 e 2022 com promessas de retornos que poderiam chegar a 9% ao mês, algo atípico no mercado de renda variável, especialmente o de criptoativos, conhecido por sua alta volatilidade.

“Eu tinha sido desligado da firma que eu trabalhava e recebi R$ 35 mil de acerto. Aí uma amiga minha me apresentou a RR Consultoria e coloquei todo o dinheiro. Recebi uns R$ 6 mil de volta em parcelas, mas depois mais nada. Vou te falar que esse dinheiro fez muita falta, porque eu estava desempregado na época”, contou o vigilante Robson Gomes da Silva, 35 anos.

O dono da RR responde a pelo menos 300 ações judiciais só no Rio de Janeiro. No início deste ano, ele concordou em pagar R$ 14 milhões em uma ação coletiva movida por um grupo de clientes, o que foi homologado pela Justiça. “Mas ele não honrou nem a primeira parcela”, disse a advogada Larissa Gatto, que defende alguns investidores lesados. A reportagem tentou contato com Teixeira via redes sociais, mas ele não respondeu. O espaço fica aberto para o contraponto. A defesa não foi localizada.

Orações e ator

Para atrair suas vítimas, a RR apostava alto no discurso religioso e em eventos com celebridades. “Ele (Teixeira) fazia reunião com música evangélica, tinha cantor evangélico, botava sempre Deus na hora de falar”, contou o aposentado Oliveira. Um evento de fim de ano promovido no Ribalta Hotel, na Barra da Tijuca, por exemplo, foi regado a cantoria gospel e contou até com o ator e empresário Felipe Titto, que já participou do programa de TV Shark Tank Brasil, para falar sobre sua história de vida e empreendedorismo.

“Não dá para se precificar uma coisa chamada networking. Se você é um cara bem relacionado, você pode quebrar, mas dificilmente você continuará quebrado”, disse o artista durante sua palestra, gravada em vídeo. A reportagem tentou contatar Titto via redes sociais e e-mail para entender a relação com a RR, mas não obteve resposta. O espaço fica aberto para comentários.

A queda

O negócio começou a ruir em 2022, o que gerou uma onda de processos dos investidores lesados. Em uma jogada normalmente adotada por esquemas fraudulentos de cripto (vide Grupo Bitcoin Banco e GAS Consultoria), a RR entrou no final daquele ano com um pedido de recuperação judicial, alegando que seus problemas começaram por causa da “forte crise econômica enfrentada pelo Brasil” e de um “verdadeiro derretimento do mercado de criptomoedas”, que geraram um “impacto significativo em sua operação e em seu faturamento”.

A Justiça, no entanto, indeferiu o pedido, citando sérias dúvidas sobre sua operação.

“Verifica-se que o estado atual da requerente não conduz à possibilidade de deferimento da medida pleiteada. É que, embora regularmente instituída, as atividades desenvolvidas deixam sérias dúvidas sobre a obediência aos regulamentos próprios. Com efeito, pelo que se apurou nos autos, haveria oferta de criptoativos ao argumento de empréstimo com promessa de rentabilidade e sem que isso desafiasse a fiscalização dos órgãos próprios”, disse o juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara firmarial do Rio de Janeiro, em decisão do ano passado.

Teixeira, que costumava ser bastante ativo nas redes sociais para atrair cliente, sumiu da internet. No entanto, ele ainda mantém um perfil no Instagram com 82,2 mil seguidores. Na biografia, diz que “só quem foi ao céu e ao inferno pode dizer exatamente como é” e que está “resolvendo uma dívida milionária”.

“Só quero que ele me devolva o que investi”, disse o aposentado Oliveira, que afirmou ter feito várias contas porque iria receber rendimento em cima do investimento de R$ 220 mil realizado RR. “Como parou de entrar o depósito mensal, fiz muito empréstimo consignado, e hoje metade da minha aposentadoria está comprometida”, falou para a reportagem.

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Autor: lucasgmarins

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