Mercado vê inflação no limite da meta. Como isso pode mexer com o Ibovespa?
O boletim Focus desta semana passou a ver a inflação no limite do teto da meta estipulada pelo Banco Central, mostram dados divulgados nesta segunda-feira (21). Segundo economistas ouvidos pelo E-Investidor, os números são negativos para o Ibovespa e acendem o sinal de alerta para o investidor.
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Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, a inflação deve encerrar acima da meta do Banco Central. Ela diz esperar que a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve terminar 2024 em 4,55%. Segundo ela, isso deve acontecer devido à alta dos preços dos alimentos e da energia elétrica. “Também podemos ter uma alta do dólar e, com isso, a inflação tende a ser ainda mais pressionada”, argumenta.
Na visão de Bruno Monsanto, economista e assessor da RJ+Investimentos, há sérios riscos de a inflação ficar acima dos 4,5% ao ano. Conforme o especialista, isso aconteceria em meio à piora do quadro fiscal no Brasil e à escalada do conflito entre Israel e o Hezbollah, que pode levar a um aumento do petróleo, trazendo pressão inflacionária. “Outro ponto que pode impactar a inflação seria uma possível resposta do mercado a estímulos do governo chinês, que podem puxar os preços de commodities”, salienta.
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Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, lembra que há também fatores internacionais, como a eleição dos EUA, que podem fazer com que o Brasil tenha uma inflação maior que a esperada. Segundo ele, uma vitória de Trump preocupa o mercado pelo fato de o candidato prometer uma política econômica externa mais protecionista.
Segundo esta reportagem do Estadão, o candidato republicano falou em taxação de 10% a 20% sobre todos os parceiros comerciais dos EUA, impostos de 60% sobre produtos da China e taxas de até 100%, 200% ou até 1.000% em outras circunstâncias. Para Gala, se Trump for eleito e aplicar uma política de taxação, a expectativa é de uma alta da inflação nos EUA, tendendo a fazer com que o banco central americano pare de reduzir juros. “Isso também pode mexer diretamente com a inflação brasileira: se o Fed não reduzir juros, o dólar pode subir ante o real, causando mais inflação no Brasil”, argumenta.
Nem todos estimam inflação acima da meta
No entanto, nem todos acreditam que a inflação deve ficar acima do teto da meta. Segundo Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, a inflação deve encerrar o ano a 4,25% ao ano. Ele diz que deve ser bastante provável que o indicador fique em em torno desse número e estima que a Selic deve terminar 2024 a 11,75%, o que deve ajudar a manter a inflação dentro do esperado.
Já Pedro Afonso Gomes, presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP), tem uma visão mais distante do mercado. Ele lembra que, desde o início da década, o boletim Focus não acerta as estimativas de inflação, crescimento da economia e câmbio. Segundo ele, esse problema acontece pelo fato de o Focus estar focado somente nas expectativas do setor monetário.
Ele diz que existem outros setores da economia, que trazem mais números sobre a inflação. “O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mede a inflação da indústria, está desacelerando mês a mês e, por isso, estimo uma inflação geral (IPCA) entre 4,2% ao ano e 4,1% ao ano. Ou seja, o indicador deve ficar na meta”, aponta.
O que deve acontecer com o Ibovespa se a inflação ficar acima da meta?
Como a maioria dos analistas diz acreditar que a inflação deve ficar acima do teto da meta, entendem que o Ibovespa pode cair fortemente.
Corleta, da GTF Captial, explica que a disparada das expectativas de inflação pode fazer com que o mercado precifique mais altas na taxa Selic, o que também impactará o custo de capital das firmas do Ibovespa, reduzindo seus preços justos. “O impacto da desancoragem tende a ser negativo para a Bolsa, com impactos da alta nos juros e disparada dos títulos de renda fixa”, aponta.
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Já Gustavo Didier, CEO da gestora Unio Company, lembra que o comportamento do Ibovespa envolve outros fatores que vão além da expectativa de inflação. Argumenta que a variedade do Ibovespa inclui firmas que se beneficiam desse movimento expansionista que pode ocasionar pressão inflacionária.
Para ele, pesa muito mais a expectativa sobre os juros futuros do que propriamente a estimativa sobre a inflação. “O que pode e deve ocorrer é a inflação aparentar descontrole e as expectativas do ciclo de alta dos juros podem se estender. levando a uma nova precificação dos ativos de risco e a uma revisão na projeção dos resultados das firmas e, assim, impactar diretamente o investidor que possui uma certa ação”, argumenta Didier.
Natalie Victal, da SulAmérica Investimentos, observa que a inflação não será o único fator que pode impulsionar o Ibovespa. A reta final da eleição americana, segundo ela, pode mexer muito mais com a Bolsa do que a inflação em si. “Claro que a inflação pode impactar, mas o investidor deve ficar atento a essas questões internacionais, que também devem mexer com o Ibovespa no curto prazo”, explica.
Pedro Afonso Gomes, do Corecon-SP, é o único otimista nesse sentido. Se a inflação superar o teto da meta, diz ele, o Ibovespa deve sofrer, mas a probabilidade disso acontecer é baixa. “A inflação deve ficar na meta e surpreender o mercado. Por isso, não acreditamos que a Bolsa deve ter impactos negativos vindos da inflação”, aponta.
Em linhas gerais, os analistas ouvidos pelo E-Investidor mantiveram suas estimativas de Selic entre 11,50% e 12% ao ano para o fim de 2024. Não fizeram nenhuma revisão após os dados de hoje. Por isso, o investidor deve entender que não só a inflação impactará a Bolsa. Outros fatores, como o balanço de uma firma de grande porte, como Vale (VALE3) e Santander (SANB11), que divulgam resultados nos próximos dias, pesarão no desempenho do índice. A eleição americana também pode ser um fator influenciador. O ideal é o investidor ficar em alerta sobre essas questões para tomar a melhor decisão em relação ao Ibovespa.
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Autor: Bruno Andrade