Boulos diz que vitória de Nunes seria “trampolim” para Tarcísio disputar Presidência
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo (SP), afirmou, nesta terça-feira (22), que a eventual reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) funcionaria como um “trampolim” para o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disputar a Presidência da República em 2026.
Boulos foi entrevistado, no início da tarde, pelo programa Estúdio i, da GloboNews. No próximo domingo (27), o deputado disputará o segundo turno da eleição em São Paulo contra o emedebista.
“Eu estou enfrentando uma máquina. O meu adversário não é o Ricardo Nunes. Ele é um fantoche de interesses econômicos e de interesses de um projeto político que busca usar a cidade de São Paulo como trampolim para o governador do estado [Tarcísio] deixar o governo e se candidatar a presidente. Estou enfrentando uma estrutura e uma máquina que têm muita força”, disse Boulos.
“Hoje, enquanto eu estava em um almoço com a população de rua dentro de uma caravana que nós estamos fazendo desde segunda-feira, o Ricardo Nunes estava almoçando com o [ex-presidente Jair] Bolsonaro e alguns empresários de direita e extrema-direita”, afirmou o candidato do PSOL.
Aliado de Nunes e Bolsonaro, Tarcísio é apontado como um dos principais nomes para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2026. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, que não poderá se candidatar até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o governador paulista é visto como herdeiro potencial dos votos bolsonaristas.
Como ainda está em seu primeiro mandato como governador de São Paulo, Tarcísio ainda pode disputar a reeleição para o Palácio dos Bandeirantes, em 2026, e deixar a corrida pelo Planalto para 2030.
“Dialogar com todos”
Na entrevista à GloboNews, Boulos garantiu que, se eleito, buscará dialogar com todos os setores da sociedade, e não apenas com os eleitores que votarem nele. Na segunda-feira (21), o deputado divulgou a “Carta ao Povo de São Paulo”, na qual firma compromissos com a população.
“Com a carta, eu quis dar segurança para esse eleitor de que ele pode apostar na mudança com tranquilidade. Eu me preparei para governar São Paulo”, disse Boulos.
“Assumi um compromisso, também, de dialogar com todos. Eu sou deputado há 1 ano e meio e, nesse período, aprovei três projetos de lei com votos do União Brasil, do PSDB, do Republicanos… Terei o papel, ao sentar naquela cadeira, de representar a cidade.”
O candidato do PSOL reconheceu que muitos eleitores têm receio de votar nele, que conta com uma rejeição de mais de 50% do eleitorado, de acordo com as últimas pesquisas.
“O primeiro turno foi um negócio violento, muito duro, uma campanha cheia de mentiras. Percebi, neste segundo turno, que a maior parte da cidade quer mudar. Não se sente satisfeita com o Ricardo Nunes como prefeito, mas, ao mesmo tempo, as pessoas têm um receio. Isso eu vi conversando com as pessoas na rua. O receio de: ‘pô, será que o Boulos dá conta?’. Ou por ter uma leitura da minha trajetória contaminada com as mentiras ditas na eleição”, disse Boulos.
Aceno a eleitores de Pablo Marçal
Guilherme Boulos aproveitou a sabatina para acenar aos eleitores do empresário e influenciador Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado no primeiro turno das eleições.
Boulos admitiu que a parcela bolsonarista do eleitorado de Marçal dificilmente votará no candidato do PSOL, mas demonstrou confiança em angariar apoio de outros segmentos.
“Tem um segmento do eleitor do Pablo Marçal que não é bolsonarista ou ideológico de extrema-direita. Votou nele porque se sentiu representado no discurso dele e do que eles almejam para a cidade”, opinou Boulos.
Segundo o candidato do PSOL, a esquerda precisa refletir sobre sua dificuldade de conversar com alguns setores da sociedade, como os pequenos empreendedores e trabalhadores autônomos.
“A extrema-direita, muitas vezes, soube passar uma mensagem hipócrita e mais sedutora, porque não está realmente preocupada com essas pessoas”, afirmou.
“Não existe uma solução única porque são trabalhadores muito diferentes. Conversando com os motoboys na cidade, por exemplo, a principal reivindicação é por pontos de apoio. Eles não têm banheiro ou um lugar de descanso, para fazer uma refeição, para carregar o celular”, exemplificou.
Críticas a Nunes
O candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo reiterou uma série de críticas ao adversário Ricardo Nunes e voltou a associar o atual prefeito a investigações sobre a infiltração do crime organizado na capital paulista, especialmente no setor de transportes.
“Um governo fraco é o que abre espaço para os verdadeiros vilões tomarem conta. O risco que estamos correndo em São Paulo é muito grande”, alertou Boulos.
Venezuela
Durante a entrevista, Boulos voltou a ser cobrado sobre posições históricas do PSOL e de parte da esquerda brasileira em defesa da ditadura da Venezuela.
No fim de julho, o ditador venezuelano Nicolas Maduro foi declarado vencedor das eleições presidenciais no país, supostamente derrotando o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.
O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos. A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito. Países como os Estados Unidos e o Brasil não reconheceram o resultado.
O deputado disse que, neste ano, “o processo eleitoral da Venezuela não foi limpo”. “A minha posição é muito clara. Depois que o processo da Venezuela se deu com perseguição a opositores e falta de transparência ao não mostrar as atas eleitorais, e isso se manteve a despeito do não reconhecimento da eleição pelo Brasil, [a eleição] não foi legítima”, afirmou.
“Digo isso com muita tranquilidade, sem constrangimentos. Não tenho compromisso com o erro”, concluiu Boulos.
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Autor: Fábio Matos