Quais ações e setores chamaram a atenção entre os resultados do 3T24? Veja destaques
A temporada de resultados do 3T24 chegou ao fim, com a visão dos analistas de números promissores para a maior parte das companhias.
“Nós vemos a temporada de resultados do 3T24 como mais positiva que o esperado”, apontam Fernando Ferreira e Felipe Veiga, estrategistas da XP.
Dentre as firmas cobertas pela XP, 34% superaram as suas estimativas de receita, 14% ficaram aquém e 52% ficaram em linha das projeções dos seus analistas. Quanto ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), 32% superaram as suas expectativas, 56% vieram em linha, e 11% ficaram abaixo. Já olhando para o lucro líquido reportado, 49% superaram as estimativas dos estrategistas, 28% ficaram em linha e 21% ficaram aquém.
No geral, as receitas reportadas pelas firmas sob a cobertura da XP ficaram 0,9% acima das estimativas, enquanto o número agregado de Ebitda foi 1,5% acima e a surpresa do lucro líquido foi de 1,1%.
Olhando para os setores, commodities apresentaram uma surpresa de Ebitda enquanto o setor de Cíclicos Domésticos reportou uma surpresa ligeiramente positiva em relação às estimativas da casa. Olhando para o crescimento ano a ano, os estrategistas viram uma recuperação nesses últimos trimestres. Em relação ao 3T23, as companhias sob cobertura da XP apresentaram um crescimento de receita e Ebitda consolidados de 12,1% e 15,5%, respectivamente. Commodities e Financeiras reportaram um crescimento de lucros de dois dígitos. Quanto ao Ibovespa, as receitas e o Ebitda cresceram 7,1% A/A e 11,7%, respectivamente, enquanto os lucros contraíram 4,5%.
Na visão do Santander, no geral, o 3T24 apresentou um aumento de receita líquida de cerca de 10% na base anual para firmas cobertas nos setores doméstico e de commodities, refletindo a atividade econômica resiliente no Brasil. No 3T24, o Ebitda aumentou cerca de 5% frente o 3T23, e o lucro líquido aumentou cerca de 30%, acima das suas expectativas iniciais.
O maior lucro anual foi impulsionado por resultados positivos tanto para os setores relacionados a commodities (como Alimentos & Bebidas e Óleo & Gás) quanto para os setores domésticos (como Educação e Construção Residencial). Os aumentos no lucro líquido de firmas ligadas à atividade doméstica, já observados em trimestres anteriores, refletem a robustez da atividade econômica no 3T24, apoiada por um mercado de trabalho ainda dinâmico.
Em relação ao lucro líquido do universo de cobertura do Santander, os setores de Educação e Construção Residencial relataram os maiores aumentos na base anual.
No lado negativo, os setores de Siderurgia e Mineração relataram os declínios de lucro líquido na base anual mais significativos. O lucro líquido do setor de Celulose & Produtos Florestais foi negativo no 3T23 (ou seja, prejuízo), “tornando a variação anual impossível de calcular”.
O Bank of America aponta que, entre as firmas do Ibovespa, retirando commodities, houve o quinto trimestre de expansão do lucro por ação na base anual.
A temporada terminou com o crescimento de receita, Ebitda e lucro por ação (LPA) em 8%, 5% e 2%, respectivamente. A LPA foi impulsionada principalmente por frigoríficos, petroleiras (Petrobras – PETR4) e serviços públicos, mas parcialmente compensada por firmas de matérias-primas (Vale – VALE3).
Excluindo commodities, o crescimento de receita, Ebitda e LPA seria de 12%, 30% e 32% respectivamente ano a ano (versus 9%, 21% e 38% anualmente no 2T24).
O BofA aponta que os destaques positivos ficaram para o setor de seguros, processadores de carne, cerveja, vestuário, construtoras, shoppings, comunicação e educação. Com sinais mistos, estiveram petróleo e gás, matérias-primas, serviços públicos, transporte, bens de capital, supermercados e tecnologia.
“Continuamos a ver uma recuperação entre os nomes domésticos no Brasil e o crescimento do LPA continua a se expandir anualmente. As margens operacionais para o varejo e processadores de carne começaram a melhorar há cerca de um ano e o consenso espera que continuem a melhorar nos próximos seis meses. Enquanto isso, o setor de consumo brasileiro se recuperou em 2024, embora possa desacelerar no próximo ano”, avaliam os estrategistas.
Destaques das firmas
O Santander aponta, olhando para as firmas, que os destaques positivos no 3T24 ficaram para Itaú (ITUB4), Localiza (RENT3), Vivara (VIVA3), Direcional (DIRR3), Yduqs (YDUQ3) e JBS (JBSS3).
No caso de Itaú, os analistas viram mais um um trimestre construtivo, com os principais destaques sendo uma aceleração no crescimento do crédito, expansão da margem financeira e sólida qualidade dos ativos. Para Localiza, os números ficaram acima do esperado por conta da margem Ebitda de Seminovos, em 5,3% e uma melhora considerável nas margens de aluguel. A Vivara teve uma aceleração sequencial de vendas e o lucro superou as projeções com um controle das despesas de vendas, gerais e administrativas maior do que o esperado, mais do que compensando a perda inesperada da margem bruta.
A Direcional também teve forte diluição de despesas operacionais, além de receitas líquidas robustas e resultados monetários líquidos melhores do que o esperado. No setor de educação, o segmento premium foi o principal destaque da Yduqs, com receitas crescendo 14%. Já no segmento de ensino a distância, a demanda foi mais fraca do que o esperado, mas a Yduqs mencionou que a entrada de no segmento para o 4T24 está em linha com o 4T23, com preços melhores. Por fim, a JBS registrou um desempenho muito forte no 3T24, juntamente com uma revisão para cima de sua orientação e outra rodada de dividendos intermediários. A carne bovina do Brasil representou mais de 70% do Ebitda superado no 3T24.
Já do lado negativo, o Santander aponta que os destaques foram Mercado Livre (BDR: ROXO34), PRIO (PRIO3), Engie (EGIE3), CSN (CSNA3), Banco do Brasil (BBAS3), Nubank (ROXO34) e M Dias Branco (MDIA3).
O 3T24 do Mercado Livre mostrou um impulso contínuo nas principais métricas de crescimento, mas com margens decepcionantes, já que a aceleração inesperada de sua divisão de crédito e os investimentos em logística tiveram um impacto maior do que o esperado na lucratividade.
Para a PRIO, o Ebitda registrou queda anual de 43% (ainda que em linha com as estimativas do banco), com preço médio de vendas a US$ 76/barril, implicando um desconto de US$ 2/bbl em relação à referência Brent, enquanto o fluxo de caixa livre (FCF) foi fraco em US$ 166 milhões. Para a Engie, o resultado foi fraco, como esperado: os custos gerenciáveis ajustados para itens não recorrentes foram 17,7% maiores, devido à aquisição de novos ativos e ao início da planta de Santo Agostinho, e ao reconhecimento de perdas em créditos de liquidação duvidosa.
Já a CSN registrou Ebitda 11% abaixo da projeção, refletindo preços mais fracos de minério de ferro, apesar dos volumes recordes de vendas. Para o BB, embora o lucro tenha subido 8%, a R$ 9,5 bilhões no 3T24, os impostos de renda foram substancialmente menores, devido principalmente a (i) créditos fiscais do Banco Patagonia e outros créditos fiscais e (ii) benefícios de juros sobre capital próprio (JCP). A estatal aumentou suas projeções para provisões de devedores duvidosos. Também do setor, o Nubank relatou expansão do crescimento de crédito de 8% trimestre a trimestre, mas a receita de juros líquida (NII) do banco permaneceu praticamente estável, com provisões aumentando trimestralmente. Por fim, a M.Dias Branco registrou resultados ruins: “à medida que o mercado mudou da deflação de custos para a inflação de custos, a M. Dias enfrentou um cenário desafiador para repasse de preços”, aponta o Santander.
Enquanto isso, o Safra viu alguns pontos negativos para os serviços monetários, por conta do discurso mais conservador, enquanto também reforçou que o Nubank apresentou desaceleração de receita. Já as firmas apresentaram fraca atividade em ações no mercados de capitais. O Safra também reforça que, no e-commerce, a receita no 1P (venda direta ao consumidor) continua sendo impactada pelo cenário macro difícil.
Já entre os pontos positivos, o Safra reforça que os segmentos que se destacaram foram as (i) seguradoras, que se recuperaram das enchentes no Rio Grande do Sul e o ambiente de sinistralidade melhorou para BB Seguridade (BBSE3) e Caixa Seguridade (CXSE3) e outras linhas (excluindo seguro Auto) surpreenderam para Porto (PSSA3).
Além disso, o varejo convencional também foi visto como positivo. No geral, estoques ajustados, volumes de vendas elevados e despesas sob controle beneficiaram as firmas no trimestre, com C&A (CEAB3), Lojas Renner (LREN3) e Guararapes (GUAR3) como destaques.
No segmento de construção, o ambiente favorável para o segmento de baixa renda continua se traduzindo em números operacionais favoráveis, com lançamentos e vendas subindo em torno de 55% e 40% ao ano no período. Já no segmento de média/alta renda, foi vista forte atividade de lançamento e vendas, e a maior participação de lançamentos recentes nos resultados beneficiaram os níveis de margem bruta.
Em concessões, a Rumo (RAIL3) se beneficiou do aumento na tarifa média; já a Santos Brasil (STBP3), do bom desempenho de seus terminais de contêineres (volume e tarifas elevadas) e Ecorodovias (ECOR3), da nova concessão adicionada e de crescimento orgânico de tráfego.
O banco também destaca os frigoríficos, com aves e suínos apresentaram margens excepcionais, impulsionadas por preços favoráveis de grãos, execução eficiente e bom equilíbrio de mercado. Por fim, em bens de capital, Marcopolo (POMO4) se beneficiou de um forte volume de entregas; já a Embraer (EMBR3) mostrou bom desempenho em todas as suas divisões de negócios, com boa lucratividade nas divisões Executiva e de Serviços.
O Itaú BBA ressalta entre os destaques positivos JBS, C&A, BTG Pactual (BPAC11) e BRF (BRFS3), enquanto os negativos foram Vittia (VITT3) e M Dias Branco.
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Autor: Lara Rizério