Anúncios do governo colocam meta em dúvida, diz Vale ao CNN Money

O pacote fiscal anunciado pelo governo federal gerou uma “dupla frustração”, disse o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, nesta quinta-feira (28).

Em entrevista ao CNN Money, Vale expressou preocupação com as medidas apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros membros do governo.

De acordo com o economista, a primeira frustração ocorreu durante a construção do pacote ao longo do último mês.

“Havia uma expectativa muito grande no início de que poderia ser um ajuste de gastos mais estrutural, mais de longo prazo, mais bem feito de certa forma, e ao longo do mês a política venceu a economia”, afirmou.

A segunda frustração, segundo ele, veio com o anúncio de uma renúncia fiscal significativa no imposto de renda junto ao pacote de contenção de gastos.

“O governo está tendo dificuldade de sinalizar corretamente o que você precisa fazer na questão fiscal nos próximos anos”, avaliou.

Vale ressaltou que as medidas anunciadas colocam em dúvida a capacidade do governo de cumprir a meta fiscal em 2025 e 2026.

“Tudo que está sendo feito é para tentar atingir essa meta, mas os números e as estimativas estão sendo colocadas, talvez nem isso a gente consiga, mesmo com todo o esforço que foi feito”, explicou.

O economista também alertou para possíveis impactos negativos na inflação e na taxa de juros. Segundo ele, o câmbio já está próximo de R$ 6, e as expectativas de inflação para 2024 e 2025 estão sendo revisadas para cima.

“A consequência disso é uma Selic que na casa de todo mundo estava 12,5%, 13%, agora a gente está falando de uma Selic que com o pacote de ontem infelizmente pode começar a ter novas estimativas de 13,5%, 14%”, projetou.

Apesar das críticas ao pacote fiscal, Vale reconheceu avanços na área tributária, destacando as reformas do consumo e da renda como pontos positivos da gestão de Haddad. No entanto, ele ressaltou que a estrutura de gastos continua sendo um desafio que deverá ser enfrentado por um próximo governo.

O economista concluiu alertando para os riscos de um cenário econômico mais desafiador nos próximos anos, com possível impacto no crescimento e nas perspectivas eleitorais do atual governo.

“Foram dois anos iniciais de crescimento muito bom, mas os dois anos finais muito provavelmente estão sendo de crescimento mais baixo, especialmente 2026 pelo impacto do que a gente vai ter agora de inflação mais elevada e com juros mais elevados”, finalizou Vale.

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