Antes e depois do pacote fiscal, ações brasileiras sofrem com leva de rebaixamentos
As últimas semanas foram de fortes emoções para o Ibovespa, que encerrou os 5 últimos dias de novembro com queda de 2,68% e com baixa de 3,12% no mês, com o mercado à espera do pacote fiscal durante boa parte do mês. As medidas vieram apenas no fim do mês, com um plano de corte de gastos de R$ 70 bilhões em dois anos, o que a princípio seria bem visto pelo mercado. Contudo, o anúncio conjunto de isenção dos trabalhadores com salário de até R$ 5 mil do Imposto de Renda (IR) levou a uma forte reação negativa do mercado.
Após o anúncio fiscal, o banco suíço Julius Baer cortou a sua exposição em ações brasileiras de overweight (exposição acima do mercado) para neutra devido à corrosão da credibilidade fiscal.
Na visão do estrategista de ações do banco Nenad Dinic, o plano de corte de gastos anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não convence os mercados de uma consolidação fiscal significativa, dada a proposta de isenções inesperadas de imposto de renda. A incerteza contínua nesta frente, que corroeu a confiança do mercado nos últimos meses, o aperto monetário prolongado em 2025 e a falta de catalisadores otimistas nos levaram o banco a rebaixar as ações brasileiras.
Para Dinic, embora as estimativas de consenso apontem para um crescimento muito atraente do lucro por ação (LPA) de 16% para 2025 e 15% para 2026, o estrategista espera revisões para baixo devido a taxas de juros mais altas em 2025.
Contudo, antes mesmo do anúncio do pacote fiscal, as ações brasileiras já tinham sofrido rebaixamentos, principalmente em relação a outros países da América Latina.
No último dia 18, o Morgan Stanley reduziu a sua exposição para o Brasil na região para underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda), justamente por conta do risco político e preocupações fiscais.
Para o banco, no Brasil, os riscos de dominância fiscal, caracterizado por um cenário em que a política monetária perde eficácia devido a um desequilíbrio nas contas públicas, são muito altos. Na visão dos estrategistas, “as coisas ainda podem piorar, antes de melhorar.”
“As taxas de juros precisam cair no Brasil e o mercado precisa se afastar dos riscos associados à dominância fiscal,” diz o banco. “Vamos monitorar sinais de uma mudança de curso dos formuladores de políticas públicas que possa afastar o Brasil do modelo de gastos e aumento da dívida para o de investimentos e queda nos juros, levando o mercado de capitais do Brasil da dívida para o equity”, complementou. Os sinais dados posteriormente não foram positivos.
Já no dia 27, o JPMorgan revisou as suas preferências entre as ações dos países da América Latina em relatório de estratégia, elevando o México de neutro para overweight e diminuindo a exposição do Brasil de overweight para neutra. Emy Shayo e equipe de estrategistas destacaram darem o “benefício da dúvida” para o México, enquanto viram o mais do mesmo para o Brasil.
“No Brasil, parece o Dia da Marmota (a dinâmica da dívida em relação ao PIB ainda não saiu do centro do palco). Durante os últimos dois anos, o mercado tem tido surtos de preocupação com o fiscal, então o governo faz algo para apaziguar o cenário até que uma manchete sobre o fiscal apareça novamente e algo mais precise acontecer”, avalia o JPMorgan.
O banco apontou que seria muito ambicioso esperar mudanças estruturais que permitiriam a estabilização da dívida no futuro previsível.
Após o anúncio do pacote fiscal e da reforma do IR, o JPMorgan revisou projeções e passou a projetar que o Comitê de Política Monetária (Copom) elevará a taxa básica de juros em 1 ponto percentual na sua reunião de 10 e 11 de dezembro, ao diagnosticar um aprofundamento do conflito entre a política fiscal e a política monetária.
A instituição afirmou que o pacote falhou “em recuperar credibilidade da política econômica” e elevou sua previsão da Selic ao fim do atual ciclo de alta de 13% para 14,25%. Este aumento dos juros tem levado, historicamente, a desempenhos negativos para as ações brasileiras.
Cabe ressaltar ainda que o Bradesco BBI tem sido “neutro” com o Brasil em América Latina nos últimos meses, ressaltando que o país deveria fazer “a lição de casa”.
Para o Morgan, há um cenário otimista, em que prevê a mudança no modelo de crescimento econômico do país em direção às exportações e investimentos, o banco destaca que os formuladores de políticas restringiriam os gastos além das expectativas de consenso. O crescimento econômico e dos lucros desaceleraria, mas taxas materialmente mais baixas forneceriam suporte ao investimento (pouso suave) e as entradas de fluxos de ações domésticas acelerariam, abrindo caminho para um mercado otimista.
No momento, as expectativas sobre esse cenário são mais baixas, ainda que os ativos brasileiros tenham encontrado uma sinalização positiva na última sexta. Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), haviam contribuído para apaziguar, em parte, a desconfiança que tem prevalecido no mercado desde a quarta-feira. Enquanto Lira reiterou compromisso com o ajuste das contas públicas, Pacheco afirmou, em nota, que a isenção do IR “não é pauta para agora” – e a condicionou à confirmação de espaço fiscal para haver desoneração tributária, o que animou o mercado. Assim, a tramitação das medidas no Congresso serão acompanhadas com lupa pelos investidores.
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Autor: Lara Rizério