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Troca de assento no avião: Jeniffer tinha direito a ficar na poltrona marcada ou não?

Troca de assento no avião: Jeniffer tinha direito a ficar na poltrona marcada ou não?

Depois que o vídeo de Jeniffer Castro, filmada em um voo da Gol por não ceder seu lugar a uma criança, viralizou nas redes sociais, muitas perguntas vieram à tona sobre quais são as regras para se trocar de assento em aviões e quais são as possíveis penalidades nesse caso. O InfoMoney recorreu a especialistas para responder o que a lei diz sobre problemas como esse, enfrentados por passageiros em aviões. A saia justa pode ser mais frequente ainda nesta época de viagens de fim de ano e férias escolares.

De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), passageiros menores de idade devem ser acomodados ao lado de, pelo menos, um adulto vinculado à sua reserva, mesmo que não tenham adquirido assentos específicos.

“A Resolução nº 400/2016 da ANAC estabelece que, em situações que envolvam passageiros com necessidades especiais, as companhias aéreas devem reorganizar os assentos para garantir que o responsável viaje ao lado do passageiro que necessita de assistência, sem cobrança adicional”, explica a advogada Daniela Poli Vlavianos, sócia do escritório Poli Advogados & Associados.

Segundo ela, nada impede a troca de assentos seja feita entre passageiros.  “Mas vai depender da concordância mútua, pois não há obrigação legal para que um passageiro ceda seu lugar a outro.”

A advogada Stephanie Almeida, do Poliszezuk Advogados, afirma que as próprias companhias aéreas estabelecem regras para troca de assentos no avião.

Interior de aeronvae com passageiros posicionados em seus assentos (Foto de Kelly/Pexels)

Veja abaixo o que preveem essas regras:

  1. Respeito à designação original: Passageiros devem se sentar nos assentos indicados no bilhete. As mudanças só podem ocorrer com autorização da tripulação.
  2. Assentos prioritários: Locais reservados para pessoas com direito à prioridade, como grávidas, idosos ou pessoas com deficiência, não podem ser ocupados por outros passageiros sem permissão.
  3. Trocas voluntárias: É permitido trocar assentos se ambas as partes concordarem e a tripulação aprovar. Porém, em casos de segurança ou equilíbrio da aeronave, certas trocas podem ser proibidas, assim como em assentos próximos a saídas de emergência.

Treinamento

A tripulação dos aviões é treinada para manter a ordem e garantir a segurança a bordo. Em situações de tumulto, os comissários de bordo devem intervir para acalmar os ânimos e, se necessário, solicitar mudanças nas acomodações e até o desembarque dos envolvidos antes da decolagem.

“Em um incidente ocorrido em um voo da Gol, onde houve uma briga entre passageiros, a companhia retirou as pessoas envolvidas da aeronave e não seguiram viagem, uma vez que as ações da equipe de tripulantes foram focadas na segurança”, afirmou Daniela.

Se o problema persistir, segundo Stephanie, os tumultos podem ser reportados às autoridades no destino ou, em situações críticas, resultar até em desvios do destino do avião para solucionar o problema.

Divulgação de vídeos

As advogadas ainda levantam outra questão legal: o uso indevido de imagem de uma pessoa em redes sociais. Gravar e compartilhar imagens de terceiros em um ambiente público pode ter implicações legais tais como:

Invasão ao direito à privacidade: Embora o avião seja um espaço público, gravar pessoas sem consentimento pode violar a privacidade delas.

• Uso indevido de imagem: Compartilhar imagens ou vídeos de terceiros em redes sociais sem autorização pode levar a processos por danos morais, especialmente se o conteúdo expuser ou ridicularizar a pessoa.

• Contexto de tumulto: A gravação pode ser considerada relevante como prova de um incidente, mas o uso deve ser responsável.

“No caso da Jeniffer, além de ter sido filmada com a intenção de ser constrangida, ela também foi exposta para milhões de pessoas nas redes sociais, tendo em vista que o vídeo viralizou, sendo mais um dos fundamentos para um possível processo judicial de indenização por danos morais”, afirma Stephanie.

“A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso X, assegura a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, garantindo direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Gravar alguém sem consentimento e divulgar a imagem pode configurar violação desses direitos, sujeitando o responsável a ações judiciais por danos morais”, acrescenta Daniela.

Segurança do voo

A aviação está sujeita a normas rígidas da ANAC e de autoridades internacionais. Por isso, qualquer comportamento que ameace a segurança pode justificar o desembarque forçado do passageiro.

Em aviões são comuns, por exemplo, situações de mau comportamento que envolvam embriaguez. Nesses casos, a reação da tripulação considera o risco que a pessoa oferece à segurança dos passageiros, com possibilidade de viajante embriagado apresentar um comportamento agressivo e incontrolável.

Não consta que, no caso de Jeniffer e da mãe revoltada, tivesse abuso de álcool envolvido.

“Embora a situação tenha sido um conflito interpessoal e não um risco físico, a tripulação deveria avaliar o impacto no voo e, em última instância, envolver as autoridades no destino para resolver a disputa”, disse a Stephanie.

Quem perde

No final, o maior problema diz respeito à criança, que não pode ser culpada pela reação dos adultos, segundo a educadora parental certificada pela Positive Discipline Association (PDA), Priscilla Montes.

“A criança, que era a parte mais vulnerável, não pode ser culpada pela atitude de adultos com cérebros maduros, que não souberam gerenciar a questão. E o pior é que essa criança foi usada para gerar constrangimento, o que é inaceitável.”

Leia Mais: “Diva do avião”: entenda caso da passageira que viralizou por não ceder lugar em voo

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Autor: Anna França

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