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Bitcoin e cripto dólar foram refúgio financeiro na Argentina de Javier Milei em 2024

Bitcoin e cripto dólar foram refúgio financeiro na Argentina de Javier Milei em 2024

Javier Milei completa um ano como presidente da Argentina nesta semana. Durante o período, suas medidas radicais geraram efeitos positivos, como queda de inflação, controle de gastos públicos e recuo do dólar, o que rendeu elogios de órgãos internacionais e revistas, como The Economist. Um aspecto menos discutido, porém, é o impacto de seu governo na indústria de criptomoedas, que durante sua gestão foi impulsionada tanto pelo medo da população em relação ao dólar, quanto pelo apoio do próprio político.

Dados divulgados em outubro pela Chainalysis, uma firma de análise de blockchain, mostram que a Argentina assumiu o posto de maior nação da América Latina em termos de movimentações de criptos, ultrapassando o Brasil. Entre junho de 2023 e junho de 2024, os fluxos em moedas digitais no país vizinho somaram US$ 91,1 bilhões, ante US$ 90,3 bilhões por aqui. As stablecoins, especialmente as “cripto dólar” (tokens atrelados à moeda norte-americana), foram o principal destaque. O volume de transações delas no país vizinho chegou a 61,8%, acima do Brasil (59,8%) e da média global (44,7%).

Os argentinos começaram a se interessar mais por essa classe de criptomoeda a partir do ano passado, de acordo com Sebastián Serrano, CEO e cofundador da exchange argentina Ripio, para se proteger da inflação e da desvalorização do peso. “As stablecoins são um dos casos de uso mais fortes do universo cripto no mundo, e, combinado com as condições na Argentina, seu uso acaba sendo ainda mais forte”, falou.

Quando Milei assumiu a presidência, no final do ano passado, a inflação no país estava na casa dos 221,4%, segundo o Instituto de Estatística e Censos da nação (Indec). De lá para cá, no entanto, o aumento dos preços de bens e serviços diminuiu, e a inflação anual desacelerou para 193% em novembro, caindo abaixo de 200% pela primeira vez desde que o político assumiu o cargo.

Matias Bari, CEO e cofundador da plataforma argentina de criptos Satoshi Tango, disse para ao InfoMoney que essa busca por stablecoins atraiu principalmente os argentinos que antes compravam “dólar blue” (cotação paralela da moeda americana, muito popular na argentina). Segundo o empresário, a cripto preferida dos hermanos é a Tether (USDT), pareada no dólar na proporção de 1:1.

(Foto: Montagem InfoMoney/ Milei: REUTERS/Matias Baglietto/ Criptos: Shutterstock)

“O USDT é uma stablecoin vinculada ao dólar americano, preferida entre as stablecoins por ser a mais usada e a de maior capitalização de mercado”, falou. A criptomoeda, emitida pela firma Tether, é a terceira maior em capitalização, com US$ 135 bilhões de valor de mercado, perdendo apenas para o Bitcoin, com US$ 2 trilhões, e o Ethereum (ETH), com US$ 472 bilhões, segundo dados da plataforma CoinMarketCap.

Apoio ao setor

Apesar do susto inicial com as propostas de Milei, que fizeram a população recorrer às stablecoins, as medidas implantadas pelo político e o apoio à indústria cripto também ajudaram o setor argentino a florescer. No final do ano passado, o presidente libertário autorizou a formalização de contratos com Bitcoin (BTC). Em junho deste ano, disse que não há problemas em usar criptomoedas para pagamentos no país. Já em novembro, durante o evento “Meta Day Argentina”, o político defendeu que os governos não deveriam controlar as criptomoedas, mas sim o setor privado.

Essa defesa da liberdade financeira e a redução da intervenção estatal propostas pelo político, que se identifica como um anarcocapitalista (corrente que prega a eliminação do Estado), foram bem recebidas pelos cidadãos e pela comunidade cripto, criando um clima mais favorável para adoção e inovação, disse o argentino Pedro Gutiérrez, diretor Latam da exchange CoinEx.

“A postura pró-cripto de sua administração, especialmente o reconhecimento do Bitcoin como uma alternativa financeira viável e a defesa pela liberdade monetária, gerou otimismo no setor”.

“Milei enfatizou a importância de permitir que indivíduos escolham livremente as criptomoedas para contratos e transações, ampliando seu papel na economia.”

— Pedro Gutiérrez, diretor Latam da exchange CoinEx

Mais Bitcoin na carteira

As medidas do presidente que melhoraram os indicadores econômicos do país também aumentaram o apetite por risco – algo até então impensável em uma Argentina instável. Segundo Juan Pablo Fridenberg, diretor de relações públicas da plataforma cripto argentina Lemon, os argentinos começarem a olhar mais para o Bitcoin – uma moeda mais arriscada frente as criptos pareadas em divisas fiduciárias – como uma reserva de valor.

“Embora as stablecoins continuem sendo o eixo central da atividade cripto na Lemon, o crescente interesse no Bitcoin e outras criptomoedas demonstra como os usuários respondem aos contextos globais que favorecem a adoção do mercado cripto”, disse, mencionando que a procura por BTC cresceu 130% neste ano na Lemon. As outras firmas ouvidas pela reportagem – Ripio, Satoshi Tango e CoinEx – também mencionam que o Bitcoin figura na lista de criptos mais negociadas.

Esse contexto global mencionado Fridenberg envolve o aumento da adoção de moedas digitais por investidores, impulsionada em parte pelo lançamento dos ETFs (fundos de índice) à vista de Bitcoin dos EUA, e o otimismo com a vitória de Donald Trump, que fez o BTC renovar suas máximas e bater nos US$ 100 mil pela primeira vez neste dezembro de 2024.

Trump, vale lembrar, é um apoiador da indústria cripto e prometeu transformar o país em uma superpotência do BTC.

O que esperar para 2025?

Em 2025, a expectativa dos players do setor é que ocorra um crescimento substancial no mercado de criptomoedas, não só na Argentina, mas no mundo todo, impulsionado pela crescente adoção institucional, inovação tecnológica e aceitação mais ampla dos ativos digitais como ferramentas financeiras legítimas.

“Esse crescimento provavelmente será ainda mais apoiado pela clareza regulatória em mercados importantes, bem como pelo desenvolvimento de soluções baseadas em blockchain que abordem desafios do mundo real, como inclusão financeira e transações transfronteiriças”, disse Gutiérrez.

Vale o aviso de que as criptomoedas são ativos considerados de alto risco, principalmente por causa da alta volatilidade. Por isso, especialistas costumam sugerir que o investidor avalie com muito cuidado a indústria cripto e aloque em ativos digitais apenas recursos que não são essenciais para o dia a dia.

Esta reportagem é parte de uma série especial do InfoMoney sobre o primeiro ano de Javier Milei na presidência da Argentina. Confira os demais textos e acompanhe as novidades:

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Autor: lucasgmarins

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