Disney tenta ameaçar Netflix no mercado de stand-up comedy
Se você passar algum tempo no universo da comédia, certamente ouvirá críticas a respeito da Netflix, que há quase uma década se firmou como o principal destino do stand-up.
Entre as reclamações estão: o serviço de streaming saturou o mercado com especiais. Seu algoritmo favorece mais os famosos do que os engraçados. A Netflix promove a transfobia. Ela paga menos às mulheres do que aos homens. Sua promoção e marketing não fazem o suficiente. A plataforma não compartilha informações sobre o público com os comediantes. Depois de fechar contratos grandiosos com superestrelas, a plataforma tem se tornado cada vez mais mesquinha com outros artistas. E há muitas outras. No entanto, as reclamações geralmente acabam com uma pergunta simples: qual é a melhor alternativa?
A Amazon (AMZO34) já explorou especiais de stand-up em streaming, mas não foi muito além disso. A Apple (AAPL34) ficou de fora. A Peacock conta com um catálogo modesto, assim como o novo serviço de streaming Dropout, que este ano lançou especiais de Adam Conover e Courtney Pauroso. A HBO Max tem se destacado recentemente como uma alternativa interessante, oferecendo especiais de Jerrod Carmichael, Alex Edelman e Ramy Youssef.
No entanto, nenhum concorrente significativo conseguiu representar um desafio real à Netflix. Até agora.
A Walt Disney (DISB34) está entrando no mercado de stand-up em grande estilo, logo após seu serviço de streaming registrar lucro pela primeira vez. A firma, por meio do Hulu, está investindo significativamente no mercado de stand-up comedy, encomendando mais de uma dúzia de especiais. Entre os comediantes envolvidos estão grandes nomes como Bill Burr e Sebastian Maniscalco, além de talentos emergentes como Ralph Barbosa. E mais importante ainda: eles têm uma visão consistente e uma estratégia clara de contraprogramação.
O Hulu lançará um especial por mês. O objetivo é transformar cada especial em um grande evento, aproveitando os amplos recursos de marketing da Disney. Jim Gaffigan inaugurou a série com seu novo especial, “The Skinny,” repleto de suas piadas características, engraçadas e familiares, abordando temas como religião e crianças, entre outros. Talvez a maior surpresa atualmente seja que Gaffigan, conhecido por suas piadas sobre comida e exageros à mesa, emagreceu bastante graças ao uso de um inibidor de apetite.
Nos próximos meses serão lançados “Human Magic,” de Ilana Glazer, e “Lonely Flowers,” de Roy Wood Jr.
Craig Erwich, presidente do Disney Television Group, afirmou que a concorrência à Netflix é benéfica para a comédia e enfatizou seu foco na “curadoria, não no volume”.
“Não estamos tentando fazer uma centena de coisas, sabe”, disse Erwich em uma chamada do Zoom. “Estamos tentando fazer algumas coisas cuidadosamente selecionadas nas quais realmente acreditamos. Acho, francamente, que isso ajuda no controle de qualidade.”
Ele afirma estar disposto a compartilhar dados de audiência com comediantes, algo que a Netflix tem relutado em fazer. Essa postura da Netflix tem frustrado alguns artistas que desejam compreender melhor seu público, seja para planejar turnês ou para negociar futuros contratos. Ele também promete usar a velha estratégia de marketing. “Não acreditamos que o sucesso dependa apenas do algoritmo para posicionar o conteúdo no momento e lugar certos”, afirmou.
A última vez que um grande concorrente tentou desafiar a Netflix foi em 2019, quando a Amazon Prime implementou uma estratégia de especiais. Acontece que tudo começou com Gaffigan. O comediante diz que esse esforço parece diferente. “Do ponto de vista promocional, não há comparação”, explicou pelo Zoom. “Fiquei grato pela oportunidade, mas parecia mais um experimento, enquanto o Hulu tem um planejamento para 12 meses a dois anos.”
A programação do Hulu apresenta diversos comediantes populares em clubes noturnos e teatros, dentre os quais Zarna Garg, Andrew Santino, Atsuko Okatsuka e Matteo Lane. Quando questionado sobre seu elenco dos sonhos, Erwich mencionou a dupla Tina Fey e Amy Poehler, que recentemente estavam em turnê com um show de comédia ao vivo.
O desafio do Hulu é fazer com que os consumidores desenvolvam novos hábitos. No entanto, há certo ceticismo quanto à combinação da marca familiar da Disney com a natureza, por vezes polêmica, da comédia stand-up. Quando questionado sobre a possibilidade de programar “The Closer”, de Dave Chappelle, no qual as pessoas transgênero são o foco principal, Erwich respondeu: “Provavelmente não seria algo que escolheríamos fazer.”
De forma mais ampla, ele declarou que lidaria com comédia polêmica da seguinte maneira: “O que levaríamos em conta é: ‘Parece algo gratuito e intencionalmente ofensivo ou provocativo?’. “Ou propositalmente polêmico? Não, é provável que nos manteríamos longe disso.”
“Isso não tem nada a ver com a Disney”, explicou. “Nosso desejo é que o maior número possível de pessoas desfrute dessas comédias, sem a necessidade de provocar polêmicas intencionais para chamar atenção.”
A Netflix não parece se importar com polêmicas. E ela tem atraído grandes públicos para eventos ao vivo, como a comédia de insultos de Tom Brady e o especial de Chris Rock que aborda o incidente em que ele foi esbofeteado por Will Smith. Mas, à medida que a plataforma se consolida, ela parece competir mais com a vasta produção do YouTube do que com qualquer produtor tradicional.
Há alguns anos, a Netflix começou a licenciar especiais prontos de comediantes. Essa abordagem ajuda a manter os custos baixos (os comediantes arcam com a produção e o marketing), enquanto permite que a Netflix mantenha seu volume de conteúdo alto. O comediante Chris Distefano, que conquistou muitos seguidores nos últimos anos, assinou um contrato desses com a Netflix. Mas para sua próxima hora, “It’s Just Unfortunate”, ele assinou com o Hulu para um lançamento em fevereiro.
Ao justificar a decisão, Distefano enfatizou o marketing e a promoção, afirmando que o Hulu “parecia mais próximo, como parte de sua família”. Em mensagem posterior ele disse: “É uma honra estar na mesma rede que ‘The Bear’, já que é assim que sou conhecido na maioria das comunidades.”
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Autor: darrellchamplin