Tribunal da Romênia anula resultado da eleição presidencial
O Tribunal Superior da Romênia anulou a eleição presidencial em andamento após acusações de interferência russa e determinou, na sexta-feira (6), que todo o processo, que seria concluído neste fim de semana, seja repetido.
O segundo turno estava marcado para domingo (8) e a votação já havia começado em seções eleitorais no exterior. A disputa seria entre Calin Georgescu, um candidato de extrema-direita e pró-russo, e a líder de centro pró-União Europeia, Elena Lasconi.
“O processo eleitoral para eleger o presidente da Romênia será totalmente repetido, e o governo definirá uma nova data e um novo calendário para as etapas necessárias”, informou o tribunal em comunicado.
Georgescu aparecia com apenas um dígito de intenção de votos nas pesquisas de opinião antes do primeiro turno em 24 de novembro, mas subiu para o primeiro lugar, o que levantou dúvidas sobre o resultado.
Georgescu quer acabar com o apoio da Romênia à Ucrânia contra a invasão da Rússia. Se ele ganhar a Presidência, abalaria a política pró-ocidental do membro da UE e da Otan, aproximando a Romênia de um cinturão de Estados na Europa Central e Oriental que têm poderosos políticos populistas e favoráveis à Rússia, incluindo Hungria, Eslováquia e Áustria.
A decisão judicial desta sexta-feira mergulhou o país em um caos institucional.
O mandato do atual presidente Klaus Iohannis terminará em 21 de dezembro, mas ele disse que permanecerá em seu cargo até que um sucessor seja eleito, o que significa que nomeará um primeiro-ministro após a votação parlamentar de 1º de dezembro.
Analistas disseram que a decisão judicial pode corroer as instituições, desencadear protestos nas ruas e, em última instância, ainda colocar em risco o rumo pró-ocidental do país. Ainda não estava claro se Georgescu teria permissão para participar da nova eleição.
O principal conselho de segurança da Romênia desclassificou documentos que diziam que o país foi alvo de “ataques russos híbridos agressivos” durante o período eleitoral. A Rússia negou qualquer interferência nas campanhas eleitorais do país
O tribunal superior, que havia validado o primeiro turno presidencial na segunda-feira, disse em sua decisão para revertê-lo que os documentos desclassificados mostravam que todo o processo eleitoral havia sido prejudicado por manipulação de votos, irregularidades de campanha e financiamento não transparente.
Em uma declaração à emissora de televisão Realitatea, Georgescu classificou a decisão do tribunal como “golpe oficial”, prova do que ele disse ser um sistema corrupto que mostrou sua face.
Lasconi condenou a decisão do tribunal. “A decisão do tribunal constitucional é ilegal, amoral e esmaga a própria essência da democracia, o voto”, afirmou.
No entanto, o primeiro-ministro social-democrata Marcel Ciolacu apoiou a medida, dizendo que foi “a única solução correta”.
Investigações
A unidade de acusação contra o crime organizado da Romênia (DIICOT) informou que estava iniciando uma investigação sobre a campanha de Georgescu após analisar os documentos desclassificados.
O segundo turno de domingo teria sido a terceira votação consecutiva após o primeiro turno presidencial e a eleição parlamentar, na qual os partidos de extrema-direita conquistaram um terço das cadeiras, embora os social-democratas, que estão no poder, tenham emergido como o maior grupo e esperam montar um governo de coalizão pró-UE.
A votação parlamentar não foi afetada pela decisão judicial de sexta-feira. O novo governo terá a tarefa de definir o novo cronograma para as eleições presidenciais, disse Iohannis, o atual presidente.
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Autor: Fábio Matos