Como as árvores de Natal naturais se tornaram marca registrada de Nova York
A cena do filme “Harry e Sally”, de 1989, é memorável: Sally, vivida por Meg Ryan, compra uma árvore de Natal em uma calçada de Manhattan, e trata de arrastá-la para casa a pé, se virando como pode.
A cena não é ficção. É dessa forma que a maior parte dos nova-iorquinos compram suas árvores, todas naturais, vindas de fazendas especializadas no plantio de pinheiros natalinos. Em Nova York, o setor de árvores de Natal gera anualmente algo entre US$ 20 e 30 milhões, uma estimativa que inclui todos serviços, como instalação, transporte e decoração.
“A manutenção de uma árvore natural exige hidratação constante, cuidado com os galhos e folhagens, além do próprio trabalho de trazê-la para casa”, diz a consultora de arte paulistana Fernanda Mazzuco, que vive há 20 anos em Nova York, e já passou 16 natais na cidade.
“Tudo vale à pena quando acordamos numa casa perfumada pela árvore e ainda reunimos os amigos para a chamada, tree trimming, a tradição de decorá-la juntos”, diz Fernanda.
Pinheiros natalinos são uma tradição de mais de cem anos, trazida para o norte dos Estados Unidos por imigrantes alemães e escandinavos. Em 1901, o então presidente Theodore Roosevelt chegou a proibir as fazendas de plantio dessas árvores para evitar desflorestações. Ainda assim, a moda pegou: em 1933, o Rockefeller Center ergueu sua primeira árvore tornando a festa de iluminação anual um dos eventos mais populares do calendário de Nova York.
Desde o fim de novembro até o dia de Natal, a cidade é tomada por um mar de pinheiros que tomam conta das calçadas da cidade, perfumando os quarteirões: os tipos mais comuns são pinheiros Balsam Fraser, Nordmann, e Noble. Os vendedores ganham de US$ 20 mil a US$ 50 mil por temporada, e as árvores variam de US$ 50 a US$ 500, dependendo do tamanho e da localização do ponto de venda: Manhattan e Brooklyn são os lugares mais caros.
O recorde de vendas aconteceu no Natal de 2020, quando as famílias não tiveram outra opção a não ser celebrar o Natal em casa. As equipes que trabalham no negócio são normalmente formadas por jovens com acordos temporários, contratados pelos donos de pontos-de-venda. Outros vendedores são os próprios agricultores das fazendas, localizadas no próprio estado de Nova York, ou regiões como Nova Jersey, New Hampshire, Vermont, Connecticut e até Québec, no Canadá.
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Por seis semanas, eles dormem em trailers ou carros estacionados perto de suas árvores, que chegam na cidade de caminhão. O estoque é abastecido de acordo com a demanda. Cada barraca oferece diferentes tipos de pinheiros, que variam de preço dependendo do tamanho e da qualidade. Para quem prefere transformar a compra em uma aventura, algumas fazendas abrem as portas para consumidores, que podem cortar suas próprias árvores e levá-las amarradas no topo carro para casa estrada afora.
Para vender pinheiros em Nova York, seja na calçada ou feiras de Natal, é preciso de uma lista extensa de aprovações, incluindo seguros, permissões dos bombeiros, do setor de agricultura, e regulamentos fiscais. O número de pontos-de-venda varia de ano a ano, mas estima-se que existem centenas deles espalhados por todos os bairros. Alguns já fazem parte do cenário local, chegando a firmar acordos com escolas públicas locais, dando a elas uma porcentagem das vendas.
“Acabamos de receber um caminhão com 800 pinheiros vindos de uma fazenda”, diz Ellie, uma vendedora texana que trabalha em um dos cinco pontos-de-venda da firma Greg’s Tree, que opera em Manhattan e no Brooklyn. No menu, Greg lista diferentes tipos e tamanhos de árvores que variam de US$ 59 a US$ 475.
“Os pinheiros têm de ser fincados em uma base que vem com espaço para água”, diz Ellie, explicando que ela mesma não conhecia esta tradição, inexistente no sul dos Estados Unidos, onde o clima é quase tropical. Ela trabalha com o namorado e mais um vendedor, e dorme em um dos trailers montados, onde há um mini-forno, camas e aquecedor.
O trabalho é incessante. Eles cuidam das árvores, as embalam em redes quando vendidas, supervisionam a contabilidade e ainda fazem guirlandas natalinas com galhos soltos. “Lidar com famílias e crianças que vem escolher suas árvores é um trabalho gratificante. O único problema é ficar na rua durante o frio, dia e noite”, diz ela que se planta por um mês e meio sem sair dali, colecionando histórias, incluindo clientes que apareceram às três da manhã para comprar árvores, depois de saírem de bares levemente alcoolizados.
E o que fazer com elas depois do Natal? Entre os dias 26 de dezembro e 11 de janeiro, o Departamento de Parques e Jardins de Nova York disponibiliza pontos de coleta, pedindo para que as famílias arrastem suas árvores lá, principalmente a partir do dia 6 de janeiro, quando as árvores são desmontadas. A iniciativa se chama Mulch Fest: todos os pinheiros são transformados em adubo. “Assim que o Natal acaba, levamos todas as árvores não vendidas para o Prospect Park, no Brooklyn, que participa deste programa. É muito bacana”, sorri Ellie.
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Autor: Tania Menai