Taxas futuras de juros sobem com medo de que não aprovem pacote fiscal neste ano
As taxas dos DIs dispararam nesta segunda-feira, com as taxas de alguns contratos registrando altas de mais de 50 pontos-base, à medida que o mercado elevava os prêmios de risco do país diante de receios de que o governo não consiga aprovar suas medidas de contenção de gastos no Congresso até o fim deste ano.
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Intermonetário) para janeiro de 2026 estava em 14,995%, ante 14,881% no ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,41%, ante o ajuste anterior de 15,052%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,79%, em alta de 51 pontos-base ante os 14,281% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,55%, também com alta de 51 pontos ante os 14,035% da sexta-feira.
Os investidores demonstravam nervosismo nesta sessão com a tramitação do pacote fiscal do governo no Congresso, uma vez que os parlamentares estão entrando na última semana de trabalho antes do recesso de fim de ano, o que significa que o Executivo tem, a princípio, até sexta-feira para avançar sua agenda, preferencialmente evitando mudanças que desconfigurem as medidas propostas.
Em meio a esse cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visto como um importante articulador das pautas do governo, segue distante de Brasília, recuperando-se de uma cirurgia para drenar um hematoma no crânio, em São Paulo, o que nubla ainda mais a perspectiva de aprovação do pacote.
“Parece haver uma crescente aposta em relação às expectativas de que o cronograma apertado e a falta de articulação política de Lula irão dificultar a negociação dos cortes de gastos”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
“Isso torna improvável que esses cortes atinjam os níveis ideais necessários para restaurar a credibilidade fiscal, e os mercados estão se preparando para mais uma possível decepção”, completou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reuniu-se com Lula nesta segunda na capital paulista para discutir as medidas fiscais. Ele disse que o presidente fez um apelo para que as propostas do governo não sejam desidratadas.
“Ele pediu um quadro detalhado para falar com os líderes (partidários), para garantir que não tenha desidratação nas medidas fiscais”, disse o ministro a jornalistas após o encontro.
Um outro analista ouvido pela Reuters também chamou atenção para a piora das projeções do mercado para indicadores econômicos no longo prazo, como evidenciado na pesquisa Focus, do Banco Central.
Os analistas consultados pelo BC passaram a ver um taxa Selic mais alta em 2025 e 2026 e subiram a previsão para a inflação em 2027, o que também contribuía para o aumento dos prêmios de risco do país.
O Copom acelerou o ritmo de aperto dos juros na semana passada, elevando a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, e sinalizou mais dois aumentos da mesma magnitude no próximo ano, citando como um dos motivos justamente a desancoragem adicional das expectativas.
No cenário externo, os mercados aguardam a decisão de juros do Federal Reserve na quarta-feira, em que se espera uma redução de 0,25 ponto nos juros. As atenções devem se concentrar, no entanto, nas projeções das autoridades para os movimentos dos próximos meses, presente no “gráfico de pontos”.
Devido às incertezas sobre a trajetória futura dos juros, os rendimentos dos Treasuries estavam perto da estabilidade nesta sessão. O rendimento do Treasury de dois anos — que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo — tinha alta de 1 ponto-base, a 4,247%.
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Autor: camillebocanegra