Israel vê sinais de avanço nas conversas sobre cessar-fogo em Gaza
Autoridades israelenses afirmam que um cessar-fogo em Gaza é uma perspectiva mais realista do que em qualquer momento no último ano, sugerindo que um acordo há muito aguardado para libertar reféns e aumentar a ajuda ao território sitiado pode estar próximo.
Um grupo de trabalho de Israel está na capital do Catar, Doha, esta semana, para restabelecer relações com mediadores no caso de um avanço nas negociações com o Hamas, disseram as autoridades, que pediram para não serem identificados ao discutir informações sensíveis.
O otimismo delas foi refletido em comentários recentes de membros seniores do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O ministro da Defesa, Israel Katz, falando na segunda-feira (16), disse que uma trégua está “mais próxima do que nunca”, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, disse às famílias dos reféns que está mais otimista do que um mês atrás.
“Há uma chance de chegar a um acordo e, pelo que sei, isso envolverá todos os 100 reféns”, disse o ministro de Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, na Rádio do Exército nesta terça-feira (17). “Primeiro os casos humanitários e depois o restante.”
O Hamas emitiu uma declaração dizendo que um acordo é possível se Israel parar de adicionar novas condições.
Um acordo para pelo menos pausar a guerra entre Israel e Hamas encerraria mais de um ano de frustração, durante o qual conversas sobre um acordo iminente surgiram intermitentemente antes de rapidamente desmoronar. As negociações estão sendo mediadas pelo Catar e pelo Egito, com supervisão dos EUA, e visitas recentes de oficiais de Washington à região podem ter ajudado a avançar o processo.
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Esforços intensivos do Catar e do Egito estão em andamento “com todas as partes” para alcançar uma trégua em Gaza, disse na terça-feira a emissora Extranews, com sede no Cairo, que tipicamente representa o pensamento do governo.
A Reuters relatou que um acordo poderia ser alcançado dentro de dias. O porta-voz de Netanyahu e a televisão egípcia negaram relatórios adicionais da Reuters de que o primeiro-ministro havia viajado ao Egito na terça-feira para ajudar nas negociações.
Os detalhes estão em sua maioria sob sigilo, mas dois funcionários israelenses disseram que o cessar-fogo viria em etapas, começando durante a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, e continuando após Donald Trump assumir o cargo em 20 de janeiro.
Adam Boehler, nomeado por Trump como enviado especial para assuntos de reféns na próxima administração, está em Israel se reunindo com Netanyahu, entre outras autoridades. Trump afirmou que quer que os reféns sejam libertados antes de iniciar seu novo mandato.
Na primeira fase do acordo em discussão, os reféns definidos como “humanitários” — mulheres, doentes e aqueles com mais de 51 anos — seriam libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel. Em seguida, haveria um cessar-fogo de seis a sete semanas durante o qual as tropas israelenses se retirariam de partes de Gaza, com conversas começando sobre um cessar-fogo permanente.
Centenas de caminhões de ajuda entrariam no território palestino diariamente durante esse período, trazendo alimentos, água e suprimentos de saúde muito necessários para uma população que, segundo as Nações Unidas e grupos de ajuda, está em crise humanitária.
A segunda fase, de acordo com os funcionários, traria de volta os restantes reféns — homens em idade militar, na maioria — em troca de mais prisioneiros palestinos. A terceira fase veria o início do trabalho de reconstrução de Gaza e incluiria o retorno dos corpos dos reféns. Cerca de metade dos 100 ainda em cativeiro é considerada morta.
Em rodadas anteriores de negociações, um grande obstáculo tem sido a insistência do Hamas de que, desde o início, Israel concorde em retirar todas as suas tropas de Gaza. Israel se recusou, afirmando que não interromperá sua campanha até que o Hamas seja destruído e não possa mais governar o território.
Embora o Hamas não tenha reconhecido publicamente uma mudança nessa postura, funcionários israelenses afirmam que o grupo apoiado pelo Irã se tornou mais flexível.
Uma série de outras questões ainda precisa ser negociada, incluindo o que constitui um caso humanitário para um refém. Israel quer que todas as mulheres sejam libertadas primeiro, incluindo soldados.
Um segundo ponto de impasse é quais verificações de segurança seriam impostas aos moradores de Gaza que retornam ao norte da faixa. Um terceiro é de onde as tropas israelenses devem se retirar, e um quarto é que Israel quer reservar o direito de retornar à luta em Gaza.
Qualquer um desses pontos poderia impedir que um acordo fosse concretizado.
A guerra entre Israel e Hamas começou em outubro de 2023, quando milhares de militantes do Hamas invadiram o sul de Israel a partir de Gaza, matando 1.200 pessoas e sequestrando 250. Israel respondeu com um feroz ataque aéreo, marítimo e terrestre, em uma guerra que transformou grande parte da faixa costeira em escombros, deslocou cerca de 2 milhões de pessoas e, segundo o ministério da saúde controlado pelo Hamas, matou 45 mil.
O Hamas é considerado um grupo terrorista pelos EUA e por muitos outros governos. Israel afirma ter matado quase 20 mil militantes, mas não diz quantos civis.
Há pouco mais de um ano, mais de 100 reféns foram trocados por centenas de prisioneiros palestinos e um aumento na ajuda humanitária. Mas um acordo para manter essa paz rapidamente desmoronou.
Durante o curso da guerra, outras milícias aliadas ao Irã se juntaram aos ataques contra Israel em solidariedade ao Hamas, incluindo o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iémen. Israel retaliou, matando a liderança do Hezbollah e afetando severamente as capacidades militares do grupo. Um cessar-fogo com o Hezbollah foi acordado no final de novembro, o que os EUA disseram que daria impulso às negociações paralisadas sobre Gaza.
O Irã teve troca de fogo direto com Israel duas vezes, mas está em uma posição defensiva, especialmente após a destituição de seu aliado chave, o ex-presidente da Síria Bashar al-Assad. Israel lançou uma grande ofensiva na Síria imediatamente após sua derrubada, buscando destruir locais de armas antes que caíssem nas mãos de grupos islâmicos hostis.
Tudo isso deixou o Hamas isolado e fraco. Isso, segundo os israelenses, é o que faz o grupo parecer ter suavizado suas exigências e por que um acordo parece mais alcançável.
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Autor: Bloomberg