Disparada do dólar é reação desproporcional que se autoalimenta, diz El-Erian
A disparada do dólar no Brasil a patamares inéditos desde a criação do Plano Real, em 1994, é resultado de uma reação desproporcional do mercado, que se autoalimenta, disse o economista Mohamed A. El-Erian, presidente da Queens’ College, da Universidade de Cambridge.
A divisa norte-americana encerrou a sessão desta terça-feira (18) com alta de 2,78%, negociada a R$ 6,26, no segundo dia seguido de máxima histórica.
Brazilian local markets are experiencing one of those old-fashion EM overshoots where a fundamental trigger combines with bad technicals to cause a self-reinforcing selloff.
The race now is between circuit breakers on the one hand, and bad technicals contaminating fundamentals…— Mohamed A. El-Erian (@elerianm) December 18, 2024
Em postagem na rede social X, o economista norte-americano pontou que o Brasil passa por uma experiência de “overshooting“, expressão no mercado monetário para desvalorização desproporcional e descolada dos fundamentos da economia.
“Os mercados locais brasileiros estão passando por um daqueles overshoots à moda antiga de países emergentes, em que um gatilho fundamental se combina com maus indicadores técnicos para causar uma venda que se autoalimenta”, escreveu.
Segundo El-Erian, a disputa do cenário está dividida entre circuit breakers — mecanismo que força a parada do mercado em períodos de grande volatilidade —, e a contaminação de fundamentos técnicos.
A alta do dólar foi alimentada nas últimas semanas pela descrença do mercado com o pacote fiscal apresentado pelo governo federal, no fim de novembro.
Desde então, a moeda escalou para patamares inéditos acima de R$ 6, contribuindo para a piora das expectativas dos agentes para a inflação deste ano e dos próximos, além da revisão para cima da taxa de juros.
A disparada ganhou força nesta semana com a tramitação das medidas no Congresso e o temor de que os textos sejam desidratados, reduzindo a capacidade de conter o aumento dos gastos e o alcance das metas fiscais propostas pela própria equipe econômica.
Desde então, o Banco Central (BC) realizou uma série de leilões, de venda ou recompra, para aumentar a liquidez do mercado.
A situação se agravou nesta terça após o Federal Reserve (Fed) cortar os juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto e indicar a desaceleração do ritmo de queda a partir do ano que vem.
Em coletiva após o anúncio, o chair do Fed, Jerome Powell, ressaltou que a autoridade monetária vê incertezas para riscos de alta da inflação em 2025.
“Os cortes mais lentos para o próximo ano refletem os resultados de inflação mais altos que tivemos neste ano e as expectativas e incerteza sobre os preços para o futuro”, disse Powell.
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Autor: gabrielbosa