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Chega ao fim a festa do bourbon americano. Agora é hora da ressaca

Quando Rob Masters pôs à venda on-line 400 barris de bourbon de dois anos por US$ 900 cada, esperava que eles desaparecessem em poucos dias. Oito meses depois, os barris ainda estão lá. “Não estamos vendo nem o cheiro”, disse Masters, destilador-chefe da destilaria The Family Jones em Denver.

Apenas dois anos antes, Masters poderia ter arrecadado US$ 2 mil por barril semelhante. “Naquela época, conseguiria vende-los com dois telefonemas”, disse ele.

O boom do bourbon nos Estados Unidos acabou e firmas grandes e pequenas estão começando a sofrer, com destilarias cortando empregos e engavetando planos de expansão.

As vendas de bebidas alcoólicas dispararam durante a pandemia, quando os americanos cheios de dinheiro gastavam em bebidas, fazendo coquetéis em casa e bebendo com mais frequência. Agora os bebedores estão reduzindo o consumo, bebendo as garrafas que acumularam nos últimos anos e optando por marcas mais baratas. 

A crescente popularidade de medicamentos antiobesidade, da cannabis e das bebidas com baixo teor alcoólico ou sem álcool também está prejudicando cada vez mais as vendas. O cirurgião-eral dos EUA disse recentemente que o álcool deve ter rótulos de advertência contra o câncer, uma recomendação que, se promulgada, pode prejudicar as vendas de uma indústria que já enfrenta uma retração no consumo pelos mais jovens.

Os volumes de vendas de uísque dos EUA — incluindo bourbon, Tennessee e rye — caíram 1,2% em 2023, marcando a primeira queda desde 2002, de acordo com a IWSR, que monitora a indústria. Essa queda se acentuou no ano passado, com os volumes caindo 4% nos primeiros nove meses de 2024.

A Brown-Forman, que fabrica o Jack Daniel’s e o Woodford Reserve, notou que o mercado de uísque dos EUA se deteriorou acentuadamente há um ano. “Para ser sincero, não está realmente melhorando muito”, disse o CEO Lawson Whiting no mês passado, depois que a firma divulgou uma queda de 3% nas vendas líquidas nos EUA nos seis meses até 31 de outubro. 

Embora os grandes atores não estejam imunes à desaceleração, os destiladores menores estão sendo os mais atingidos, porque não têm poder monetário para enfrentar a turbulência. A American Craft Spirits Association (Associação Americana de Produtores Artesanais de Destilados) disse em agosto que a taxa de fechamento de destilarias artesanais acelerou em relação ao ano anterior.

Fabricantes de bebidas alcoólicas de todos os tipos estão lutando com a diminuição da demanda: em 2023, o volume de destilados vendidos nos EUA caiu pela primeira vez em quase três décadas, disse a IWSR. No entanto, os fabricantes de bebidas destiladas envelhecidas têm o desafio adicional de apostar na demanda futura, envelhecendo barris com anos de antecedência.

“É bourbon — não há o ‘aqui e agora’”, disse Tom Bard, cofundador da Bard Distillery em Graham, Kentucky. “Você está tentando prever o mercado daqui a cinco, seis, dez anos.”

As tarifas ameaçam ser desafios adicionais. Um acordo entre os EUA e a União Europeia que interrompeu as tarifas propostas de 50% sobre as importações de uísque americano para a Europa — uma resposta às tarifas de aço cobradas pelo primeiro governo Trump — deve expirar no final de março. O presidente eleito Donald Trump também disse que planeja impor novas tarifas sobre produtos do Canadá, México e China, o que poderia aumentar os custos de embalagem e estimular tarifas retaliatórias.

Os destiladores temem que as tarifas prejudiquem as exportações e que o uísque americano que não pode ser vendido no exterior permaneça em casa, aumentando o excesso existente. 

“A única coisa que deixa todos aqui morrendo de medo são as tarifas”, disse Eric Gregory, presidente da Associação de Destiladores do Kentucky. 

O bourbon começou a crescer em popularidade no início dos anos 2000, após um longo período de estagnação. Seu retorno foi ajudado por programas de televisão como “Mad Men”, que apresentava executivos de publicidade dos anos 1960 bebendo bourbon durante o dia. Em 2015, a indústria estava tão aquecida que havia falta de barris, os entusiastas estavam estocando a bebida e os trabalhadores de destilarias que rotineiramente trabalhavam 80 horas por semana entraram em greve dizendo estar sobrecarregados.

Na última década, a produção continuou subindo. Só o Kentucky produziu 3,2 milhões de barris de bourbon em 2023 e atingiu o recorde de 14,3 milhões de barris envelhecendo no início do ano passado, de acordo com a KDA.

Enquanto há uma década os fabricantes de bourbon não conseguiam acompanhar a demanda, agora há o consenso de que produziram em excesso.

“Estamos em uma correção de curso muito séria agora, que talvez esteja atrasada”, disse Ken Lewis, dono da New Riff Distilling, com sede em Newport, no Kentucky. A indústria de bourbon do Kentucky está produzindo quase três vezes mais do que vende atualmente, estima Lewis. 

Alguns investidores que entraram no bourbon para ganhar dinheiro rápido nos bons tempos agora estão se desfazendo das ações, exacerbando o excesso de barris.

“O boom do bourbon trouxe uma quantidade enorme de dinheiro para a indústria e muito disso foi pelos motivos errados”, disse Lewis. “De certa forma, já vai tarde.”

Garrafas de uísque bourbon da marca Knob Creek descem por uma esteira transportadora na destilaria James B. Beam em Clermont, Kentucky, EUA. Foto: Luke Sharrett/Bloomberg

Os alarmes soaram na indústria em outubro, quando a MGP Ingredients, grande destilaria que terceiriza a fabricação de bebidas para outras marcas, alertou que alguns de seus clientes menores estavam tendo dificuldade para cumprir suas obrigações de comprar uísque. 

A MGP disse que o crescimento mais lento e os estoques maiores estavam baixando os preços e que, em resposta, reduziria a produção e manteria menos uísque envelhecendo. A firma alertou que espera “ainda mais pressão” sobre as vendas e lucratividade do uísque em 2025. Desde então, seu CEO foi substituído.

No Colorado, The Family Jones começou a desacelerar sua produção de rye e de bourbon há um ano, encerrando seu contrato com uma destilaria externa que produzia parte de seu álcool. Desde então, demitiu um destilador e dois vendedores de sua força de trabalho de 24 pessoas.

As destilarias menores também estão sofrendo pois os atacadistas esgotam os estoques da era da pandemia, que acumularam para se proteger contra interrupções no fornecimento. A Brown-Forman disse no mês passado que os distribuidores estão comprando menos do que o normal e favorecendo as grandes marcas, que têm maior probabilidade de venda.

Algumas destilarias estão mudando a marcha. A Southern Distilling, com sede em Statesville, na Carolina do Norte, interrompeu os planos de abrir uma nova instalação para terceirizar a fabricação de uísque. Ela deu preferência a dobrar os serviços de engarrafamento e embalagem.

“Estivemos em uma ressaca pós-Covid, onde todos estavam bebendo em casa durante o dia e você teve esse aumento no consumo de tacos de hóquei que não era normal”, disse o CEO Pete Barger.

Nem todo mundo está pisando no freio. A Bardstown Bourbon, a maior destilaria terceirizada do Kentucky, adicionou um novo alambique no final de 2023 e recentemente expandiu sua força de vendas. A firma vendeu toda sua capacidade de contrato em 2024 e espera fazê-lo novamente este ano, disse o presidente Pete Marino.

“Tivemos que participar de mais feiras do que jamais fizemos no passado”, disse Marino. “Mas todo período de interrupção oferece oportunidades. Estamos investindo durante a baixa.”

Escreva para Saabira Chaudhuri em Saabira.Chaudhuri@wsj.com

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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original

Autor: The Wall Street Journal

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