Posse de Trump: quais setores devem ganhar e perder com as políticas do republicano
A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (20), gera grandes expectativas para o mercado sobre os efeitos de suas políticas na economia global, com atenção especial para o Brasil. Especialistas ouvidos pelo InfoMoney projetam 12 setores brasileiros que devem ser impactados diretamente pelas propostas econômicas do republicano.
Eles apontam que enquanto algumas firmas se beneficiam de políticas protecionistas e valorização do dólar, outras enfrentam empecilhos com o aumento dos custos e a pressão sobre suas margens de lucro. A adaptação do mercado a essas mudanças, segundo os especialistas, será determinante para garantir a competitividade no novo cenário internacional nos próximos quatro anos.
O setor de aço, por exemplo, já sente os efeitos das propostas de Trump, que prevê aumentos nas tarifas sobre produtos importados, inclusive o aço. firmas brasileiras como CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) podem ser impactadas negativamente, com o risco de perda de competitividade no mercado americano. Já a Gerdau (GGBR4), que tem uma forte presença nos Estados Unidos, pode se beneficiar de um aumento na demanda interna por aço, favorecida pelas políticas protecionistas de Trump.
O analista Felipe Papini, da One Investimentos, alerta que firmas dependentes de insumos importados ou com dívidas em moeda estrangeira são as mais vulneráveis a esse cenário. Entre elas estão os varejistas Lojas Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), que podem ver suas margens de lucro pressionadas devido à alta do dólar. A valorização da moeda americana, além de aumentar o custo das importações, também encarece o pagamento de dívidas em dólar, fator que afeta diretamente essas firmas.
O aumento no preço do dólar também pode afetar negativamente o setor de aviação. Com o aumento do custo do querosene de aviação, cotado em dólar, firmas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), diz ele, enfrentam uma pressão adicional sobre seus custos operacionais. Além disso, a possível alta nos preços das passagens aéreas para cobrir esses custos pode reduzir a demanda.
Quem deve se dar bem
Nem todos os setores do Brasil estão em risco, observam os especialistas. O agronegócio, por exemplo, tende a se beneficiar com a posse de Trump. É o que aponta João Piccioni, analista da Empiricus Gestão. Segundo ele, as tarifas mais altas sobre os produtos chineses podem afetar o mercado americano, mas a demanda da China por produtos como soja e carne pode crescer, abrindo novas oportunidades para os exportadores brasileiros. firmas como SLC Agrícola (SLCE3) e BrasilAgro (AGRO3) estão entre as que podem se beneficiar com o aumento da demanda por commodities.
Outro setor que deve aproveitar o cenário de alta do dólar é o de exportação de commodities, como petróleo. A Petrobras (PETR4) se encontra em uma posição favorável, já que grande parte de sua receita vem da exportação de petróleo, que é cotado em dólares. No entanto, a política energética de Trump pode gerar volatilidade. Enquanto as políticas de estímulo à produção de petróleo nos EUA podem aumentar a oferta global e pressionar os preços para baixo, as firmas exportadoras brasileiras podem ser beneficiadas pela alta do dólar.
A Braskem (BRKM5), por sua vez, com suas operações nos Estados Unidos e estrutura de receita em dólar, é vista como uma das firmas que mais pode se beneficiar da alta do câmbio. Seu posicionamento no mercado global de petroquímicos permite uma proteção contra as pressões das tarifas protecionistas, além de ter custos mais baixos em reais.
Oportunidades e riscos
Por outro lado, o setor industrial brasileiro, com firmas dependentes de insumos importados, pode sentir uma pressão maior. Rafael Weber, estrategista de ações da RJI Investimentos, diz que setores como alimentos e vestuário, que dependem de matérias-primas dolarizadas, enfrentam dificuldades. firmas como a Intelbras (INTB3), por exemplo, que depende de componentes eletrônicos importados, podem sofrer com o aumento dos custos de produção.
O setor monetário brasileiro também deve sentir os impactos das políticas de Trump. A expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantenha os juros elevados por mais tempo, com o aumento da inflação nos Estados Unidos. Isso atrairia investidores para ativos americanos, tornando os mercados emergentes, como o Brasil, menos atraentes. Com o fluxo de capital externo diminuindo, o valor do real tende a cair frente ao dólar, tornando mais difícil a gestão de ativos para firmas com dívidas em moeda estrangeira.
Em relação ao setor de energia, a Petrobras pode ter um alívio momentâneo com o fortalecimento do dólar. Porém, o aumento da produção interna de petróleo nos Estados Unidos pode gerar uma pressão sobre os preços globais. Assim, a firma brasileira precisaria ajustar suas estratégias para manter sua competitividade no mercado internacional, uma vez que a margem de lucro pode ser reduzida se os preços do petróleo caírem.
O analista Jeff Patzlaff, especialista em investimentos, também aponta que a política energética de Trump, que favorece o setor de óleo e gás nos EUA, pode trazer oportunidades e riscos para o Brasil. Embora a Petrobras possa se beneficiar inicialmente da alta do petróleo, a maior produção americana pode aumentar a oferta global, pressionando os preços e afetando as margens de lucro.
Além disso, o aumento das tarifas comerciais propostas por Trump deve afetar diretamente as exportações brasileiras de produtos agrícolas, especialmente se os Estados Unidos implementarem barreiras mais severas. No entanto, o aumento da demanda por commodities brasileiras por parte de mercados como a China pode compensar essa perda de competitividade.
Patzlaff diz que, no setor de consumo interno, o aumento dos custos operacionais devido à alta do dólar torna as varejistas vulneráveis porque a inflação gerada pela valorização da moeda americana pode reduzir o poder de compra do consumidor, prejudicando as vendas no mercado interno e afetando a rentabilidade dessas firmas.
Enquanto isso, firmas do setor de tecnologia, como WEG (WEGE3), podem se beneficiar com a valorização do dólar, uma vez que suas operações internacionais proporcionam uma vantagem cambial. A Embraer (EMBR3), com forte presença global, também está bem posicionada para tirar proveito das condições favoráveis, com sua receita predominantemente em dólar.
O mercado de commodities também tende a se beneficiar da valorização da moeda americana, com firmas exportadoras como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) se beneficiando da alta do dólar. Essas firmas possuem operações globais que ajudam a mitigar os impactos das flutuações cambiais.
No entanto, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pode elevar os custos de financiamento para firmas brasileiras endividadas em dólares, o que aumenta ainda mais a pressão sobre setores vulneráveis, como o varejo. Por isso, firmas como Lojas Renner e Magazine Luiza precisam considerar alternativas para mitigar os riscos, como a utilização de hedge cambial e a renegociação de dívidas.
Outro cenário
Com a perspectiva do novo governo Trump, muitas análises indicam um fortalecimento do dólar, o que poderia resultar em um enfraquecimento do real. Mas Paulo Feldmann, professor da Fia Business School, discorda dessa visão. Para ele, embora um fortalecimento inicial da moeda americana seja possível, as políticas implementadas por Trump podem gerar problemas para os Estados Unidos. A restrição à imigração, por exemplo, poderia aumentar os custos com mão de obra, o que impactaria a produção e geraria inflação.
Além disso, a postura desrespeitosa de Trump em relação a diversas instituições norte-americanas, segundo Feldmann, poderia gerar instabilidade interna, afetando negativamente a confiança na moeda americana.
Em relação às tarifas que Trump prometeu durante a campanha, o professor acredita que não haverá um tarifaço tão expressivo como muitos imaginam. Embora as tarifas sejam uma ameaça para países como a China, que pode reagir com a desvalorização do yuan, esse movimento pode neutralizar o impacto das medidas.
firmas beneficiadas
Agronegócio e commodities
SLC Agrícola (SLCE3): beneficiada pela possível alta da demanda por produtos agrícolas devido às tarifas mais altas sobre produtos chineses.
BrasilAgro (AGRO3): aumento da demanda por soja e carne pode favorecer os exportadores brasileiros.
Petrobras (PETR4): beneficiada pela alta do dólar, já que parte de sua receita vem da exportação de petróleo.
Braskem (BRKM5): aumento da demanda por petroquímicos e sua receita em dólar favorecem a firma.
Tecnologia e exportação
WEG (WEGE3): a valorização do dólar pode beneficiar firmas com operações internacionais como a WEG.
Embraer (EMBR3): beneficiada pela valorização do dólar, com forte presença global e receita predominantemente em dólar.
Suzano (SUZB3): a valorização da moeda americana favorece firmas exportadoras de commodities como a Suzano.
Klabin (KLBN11): operações globais ajudam a mitigar os impactos das flutuações cambiais.
firmas que correm riscos
Setor de aço
CSN (CSNA3): pode ser impactada negativamente pelas tarifas de Trump, afetando sua competitividade no mercado americano.
Usiminas (USIM5): enfrenta risco de perda de competitividade devido às políticas protecionistas dos EUA.
Varejo
Lojas Renner (LREN3): pode sofrer pressão sobre as margens de lucro devido à alta do dólar, que aumenta o custo das importações e o pagamento de dívidas em dólar.
Magazine Luiza (MGLU3): enfrenta os mesmos desafios que Lojas Renner com o aumento do custo das importações e da dívida em dólar.
Setor de Aviação
Gol (GOLL4): pode enfrentar uma pressão adicional sobre seus custos operacionais devido ao aumento do preço do querosene de aviação cotado em dólar.
Azul (AZUL4): também enfrenta os mesmos problemas de aumento de custos com o querosene de aviação.
Setor industrial e monetário
Intelbras (INTB3): pode ser impactada pela alta nos custos de componentes eletrônicos importados.
Setor monetário: firmas com dívidas em moeda estrangeira podem enfrentar desafios com a alta do dólar, tornando mais difícil a gestão de ativos.
Outros impactos
Petrobras: apesar do alívio momentâneo com a alta do dólar, pode enfrentar volatilidade no setor de energia com o aumento da produção interna de petróleo nos EUA, que pode pressionar os preços globais.
Fluxo de capital externo: o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos pode diminuir o apetite por ativos emergentes, tornando o mercado brasileiro menos atraente. Isso afetaria o valor do real e tornaria mais difícil para firmas brasileiras com dívidas em dólar gerenciar seus custos.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: murilomelo