Títulos da Venezuela e Líbano atraem as ‘apostas arriscadas’ de investidores
Um expressivo rali em títulos de alto risco de mercados emergentes despertou o apetite dos investidores por duas das negociações mais improváveis: as dívidas denominadas em dólar de Venezuela e Líbano.
Ambos são casos de severas dificuldades econômicas, atormentados por crises de migração e inflação galopante. Ambos os países estão afundados na inadimplência e provavelmente levarão anos até que saiam dela. Contudo, para investidores que procuram o próximo bilhete de loteria, eles também são baratos demais para ignorar.
“Quando os títulos estão na faixa baixa dos dois dígitos, as pessoas compram, porque vêem isso como uma opção”, disse Claudio Zampa, que administra ambas posições como fundador da Mangart Capital Management, sediada na Suíça. “Outros países reestruturaram [a dívida], a Argentina está melhorando, então investidores mais agressivos dizem: ‘Por que não?’”
Os títulos do governo de alto rendimento em dólar registraram ganhos de dois dígitos em 2023 e 2024, com notas da Argentina subindo mais de 100% no ano passado. Com os investidores apostando que a maior parte dos ganhos está diminuindo em meio a uma perspectiva desafiadora para ativos de risco, eles estão se voltando para as duas notas soberanas mais baratas do mundo.
O Líbano já dobrou de preço nos últimos três meses. E os operadores da JPMorgan Securities chamaram os títulos da Venezuela de sua “maior negociação de convicção de 2025”.
São apostas arriscadas de que reviravoltas políticas — auxiliadas pelas expectativas em torno das políticas do presidente Donald Trump, no caso da Venezuela — abrirão as portas para uma eventual reestruturação da dívida.
“Os preços estão tão baixos e, eventualmente, no médio a longo prazos eles devem compensar”, disse Carl Ross, analista de dívida soberana na GMO, que está adotando uma abordagem de longo prazo para ambos os países. “Também há motivos para pessimismo, mas nas últimas semanas há mais razões para ser otimista.”
As perspectivas para o Líbano deram um passo à frente neste mês quando os legisladores elegeram o comandante do exército apoiado pelos EUA, Joseph Aoun, como o primeiro presidente do país em mais de dois anos. Um grupo de detentores de títulos rapidamente expressou sua disposição de discutir uma possível reestruturação da dívida para títulos de US$ 30 bilhões em default desde 2020.
Isso se somou a um rali de meses que foi desencadeado por sinais de que o grupo de milícia Hezbollah, apoiado pelo Irã, estava se enfraquecendo sob ataques israelenses. Os títulos com vencimento em 2035 dispararam de cerca de 6 centavos por dólar para quase 17 centavos, de acordo com a precificação compilada pela Bloomberg.
O Danske Bank, a Pictet Asset Management e o Bank of America estimam que o preço pode continuar subindo para pelo menos 20 centavos de dólar. Além disso, eles dizem, isso dependerá do sucesso na implementação de esperadas difíceis reformas.
No caso de uma reestruturação, Zampa estima que o valor de recuperação seja um pouco mais de 30 centavo de dólar.
A perspectiva é mais sombria para a Venezuela, principalmente depois que o presidente Nicolás Maduro conseguiu permanecer no poder por um terceiro mandato de seis anos, após evidências esmagadoras de que ele perdeu a eleição presidencial em julho.
As sanções dos EUA proíbem a Venezuela de emitir nova dívida ou negociar com detentores de títulos sobre seus US$ 60 bilhões, mais juros, que estão em default. O impasse político reduz a probabilidade de os EUA aliviarem qualquer uma dessas restrições, empurrando potenciais negociações sobre a dívida para o futuro. Entretanto, os investidores estão observando atentamente os sinais de reengajamento entre os EUA e a Venezuela após a posse de Trump. Seu enviado para missões especiais, Richard Grenell, disse na segunda-feira que manteve conversas com autoridades da Venezuela.
Em uma nota de 10 de janeiro, os operadores do JPMorgan disseram que os títulos da Venezuela estão em “níveis muito atrativos” com uma reestruturação como cenário-base. Eles alertaram, no entanto, que o processo será longo e complexo, o que limita a alta dos preços.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
Fonte original
Autor: Bloomberg