O ciclo da eleição presidencial e o impacto na Bolsa
O impacto do ciclo da eleição presidencial na bolsa de valores tem alimentado o debate entre analistas de mercado e serve de base para diversos estudos na academia ao longo das últimas décadas, em especial nos Estados Unidos.
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Conhecida como “Presidential Election Cycle Theory”, essa tese assume a ideia de que o retorno do mercado de ações nos Estados Unidos segue um previsível padrão, cada vez que um novo presidente é eleito por lá.
Os primeiros prognósticos foram apresentados no “Stock Trader’s Almanac”. O almanaque foi criado por Yale Hirsh, em 1967, e, desde então, apresenta ideias e estratégias de investimentos.
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De acordo com a teoria, a performance do mercado de ações nos Estados Unidos é mais “fraca” nos primeiros dois anos de mandato do presidente. Por outro lado, atingem um pico de alta no terceiro ano e voltam a ter uma queda no quarto ano, principalmente, em razão das incertezas geradas com a próxima eleição. O ciclo começa novamente a partir do início do mandato do presidente reeleito ou do novo presidente.
Estratégia político eleitoral
De acordo com os pressupostos, na primeira metade do mandato, o presidente dos Estados Unidos segue uma tendência de governar focado nas políticas e promessas apresentadas durante a campanha eleitoral. Ou seja, o objetivo é dar uma resposta rápida a alguns anseios dos eleitores que alçaram o mandatário ao cargo.
A partir do terceiro ano de mandato, com a aproximação das novas eleições presidenciais, o modelo de Hirsh sugere que o mandatário passa a focar em estímulos para a economia, com o intuito de melhorar a condição de emprego/salário e despertar o sentimento de bem-estar do eleitor.
Como resultado, com uma economia aquecida, os índices da bolsa norte-americana passariam a tracionar numa trajetória de ganhos. A teoria e os dados indicam que, em geral, o maior retorno ocorre no terceiro ano de mandato e o segundo maior retorno ocorre no quarto ano de mandato. Segundo o modelo de Hirsh, esse padrão tem se aplicado independentemente da orientação política e do partido do presidente eleito.
Novas pesquisas
Em 2016, Lee Bohl, pesquisador da corretora Charles Schwab, fez um estudo apresentando dados entre 1933 e 2015. Ele identificou que, em geral, o terceiro ano do mandato de um presidente dos Estados Unidos superou os demais, em percentual de retorno, na S&P 500.
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De acordo com o estudo de Bohl, o ciclo presidencial apresentou, em média, os seguintes retornos na bolsa norte americana: Primeiro ano de mandato: 6,7%. Segundo ano de mandato: 3,3%. Terceiro ano de mandato: 13,5%. Quarto ano de mandato: 7,5%. Esses dados seguem em linha com o racional de Hirsh de que os dois primeiros anos de mandato são os mais fracos.
Em um artigo publicado no último mês de outubro, Jennifer L. Cook, editora do Investopedia, mostra que entre 1928 e 2024, o mercado de ações dos EUA experimentou ganhos de 67%, no ano calendário.
No texto, Cook se aproxima do entendimento de Bohl e Hirsh. Ela destaca que, em geral, a teoria do ciclo tem se mostrado consistente principalmente no que se refere ao terceiro ano de mandato de um presidente.
No recorte temporal realizado por Cook, ela identificou que o S&P 500 registrou, no geral, um aumento anual de 58,3% no primeiro ano de mandato, 54,2% no segundo ano de mandato e 78,3% no terceiro ano de mandato. Não há dados do quarto ano de mandato.
Ciclo eleitoral presidencial e a bolsa no Brasil
Também podemos fazer um recorte nas premissas da teoria (ciclo da eleição presidencial e retorno na bolsa de valores) e trazer para a nossa realidade.
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Tendo como referência o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995) até o segundo ano de Lula 3 (2024), percebe-se que não há como fazer o mesmo paralelo com a dinâmica vista, em geral, nos EUA. (Confira no gráfico).
De 1995 para cá, tivemos seis ciclos presidenciais plenos (mandato de quatro anos concluído). Não são considerados o segundo mandato da presidente Dilma, em razão de ela não ter concluído, e o atual mandato do presidente Lula, em razão de estarmos na metade.
Pegando como base os seis ciclos elencados, vemos o seguinte:
- Melhor performance da bolsa no primeiro ano de mandato: FHC 2, Lula1 e Bolsonaro.
- Melhor performance da bolsa no segundo ano de mandato: FHC 1 e Dilma 1.
- Melhor performance da bolsa no terceiro ano de mandato: Lula 2.
Limitações da teoria
É sempre bom ter em mente que a performance da bolsa de valores no passado não é garantia de futuros resultados.
A ideia deste artigo é colocar a teoria do ciclo das eleições presidenciais em perspectiva e reflexão. Além de jogar luz sobre alguns “mitos”, que sempre surgem entorno da política e do intrincado mundo dos investimentos.
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É válido destacar que a teoria de Hirsh não é conclusiva. Ela se baseia apenas em duas variáveis (ciclo eleitoral e retorno na bolsa de valores). Como é sabido há vários fatores que podem impactar o mercado monetário.
Além disso, os últimos dados têm como base 24 eleições presidências nos EUA, um número considerado baixo dentro do mundo acadêmico para um entendimento definitivo. No nosso levantamento foram considerados seis ciclos presidenciais, no Brasil.
Mesmo nos EUA há, inclusive, exemplos em que os pressupostos de Hirsh não se aplicaram, como no caso do presidente Barack Obama (2009 a 2017), em que o índice S&P 500 registrou no primeiro ano de cada mandato a melhor performance anual.
No ciclo mais recente do presidente Joe Biden, o índice S&P 500 teve ganhos de 28% no primeiro ano (2021), seguido por uma queda de 22% no ano seguinte (2022). No terceiro ano (2023), a bolsa se recuperou atingindo 26% de crescimento, e no quarto ano (2024), registrou alta de 25%.
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Apesar de a teoria não ser conclusiva, acredito que, a partir de agora, quando surgir o tema sobre o ciclo eleitoral presidencial e expectativas sobre o impacto na Bolsa, você já tem alguns elementos sólidos para fazer a própria análise.
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Esta notícia foi originalmente publicada em:
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Autor: E-Investidor