Fraqueza do consumo no 4º tri reforça discussões sobre fim de alta de juros

A fraqueza do consumo das famílias no quarto trimestre de 2024 reforça a expectativa de desaceleração da economia neste ano e levanta discussões sobre o grau de restrição da política monetária, com alguns economistas passando a apostar em menos altas de juros pelo Banco Central à frente.
A queda de 1,0% das despesas das famílias no quarto trimestre em relação aos três meses anteriores surpreendeu muitos analistas, que esperavam um desempenho positivo, ainda que fraco.
O dado, assim como o avanço de apenas 0,1% dos serviços verificado no período, foi determinante para que o crescimento do PIB do quarto trimestre, divulgado nesta sexta-feira (7), tenha frustrado as projeções, com alta de 0,2%, menos da metade do esperado pelo mercado. No ano, a economia cresceu 3,4%.
Jason Tuvey, economista da Capital Economics, avaliou que os dados confirmam que o “período recente de forte crescimento (do Brasil) chegou a um fim abrupto”.
Ele agora projeta expansão econômica de 1,8% em 2025, de 2,3% antes, o que ele espera que vá levar o Banco Central a encerrar seu ciclo de aperto monetário este mês com a alta de 1 ponto já indicada, o que levará a Selic a 14,25%.
O economista Tony Volpon, ex-diretor do BC, foi na mesma linha em publicação no X, dizendo que a “queda do consumo no quarto trimestre mostra uma parada súbita no momentum econômico. Número muito ruim para o governo. Reforça minha expectativa que alta da Selic em março será a ultima”.
Antes dos dados do PIB, economistas consultados pelo BC na última pesquisa Focus viam o pico dos juros em junho, em 15%, com a Selic terminando o ano nesse patamar.
O enfraquecimento do consumo privado está diretamente ligado à política monetária restritiva do Banco Central, que vem elevando a taxa básica de juros desde setembro, com a Selic atualmente em 13,25% ao ano. A autoridade monetária volta a se reunir em 18 e 19 de março e já indicou novo aumento de 1 ponto percentual, mas deixou os passos seguintes em aberto.
Na avaliação de Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Asset Management, os números sobre o consumo ainda não trazem todos os elementos para determinar se a política monetária está suficientemente restritiva para levar a inflação à meta.
“Porém, essa queda do consumo mostra que o Banco Central deve continuar sem um ‘guidance’ a partir da próxima reunião, aguardando os desdobramentos da atividade, e mostra que a autoridade monetária tem o benefício do tempo para avaliar outros dados e entender o impacto dessa política monetária restritiva”, disse ela.
“O número do PIB do quarto trimestre traz elementos para o Banco Central questionar a respeito do grau de desaceleração da atividade e não ter um compromisso com as próximas reuniões”, completou.
Rodolfo Margato, economista da XP, diz que os dados do PIB já refletem efeitos da política monetária, mas ele não vê ainda “reversão de tendência”. “Para o BC é elemento importante no sentido de sinalizar que a política monetária contracionista vem fazendo efeito, promovendo arrefecimento da demanda, e pode num segundo momento reduzir a inflação”, disse ele.
Margato ressalta que o primeiro trimestre de 2025 deve registrar forte crescimento de 1% do PIB puxado pela Agropecuária, mas ressalta que sem o efeito do agro o número ficaria mais perto de 0,5%.
No entanto, ele cita medidas governamentais de estímulo que podem surtir efeito no curto prazo, como a liberação do saque de recursos remanescentes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para trabalhadores demitidos que optaram pela modalidade saque-aniversário e a sinalização de uma medida voltada ao crédito consignado para trabalhadores privados.
Para Flavio Serrano, economista-chefe do banco Bmg, a queda do consumo das famílias reforça o cenário de desaceleração da atividade.
Ele calcula expansão do PIB de 2% para este ano, graças a uma esperada recuperação da agricultura, mas cita que “a cara de 2025 é de demanda doméstica crescendo muito abaixo do PIB com efeito dos juros mais altos, somado à mudança do mercado do trabalho com aumento do desemprego e queda da renda com inflação mais alta”.
Peso da alta dos preços dos alimentos é ainda maior para baixa renda
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Autor: vanessaloiola